Sensação do Campeonato Paulista, e prestes a disputar a sua primeira final da competição, muito se especulou e discutiu para tentar explicar como o Água Santa, este pequeno time de Diadema, alcançou tal feito.
Além do mérito esportivo, pelas grandes atuações e bom desempenho no torneio, há também uma razão financeira: o bicho.
Para quem é alheio ao vocabulário futebolístico, “bicho” é uma expressão que simboliza um incentivo financeiro prometido aos atletas em caso de vitórias.
O diretor-executivo de futebol do clube, Júlio Rondinelli, confirma a prática no clube, e explica que o “estímulo” aumentou após ele e o treinador, Tiago Carpini, convencerem a direção de que esta seria uma forma de motivar ainda mais os atletas.
“Esse ano, em um convencimento não só meu como do Tiago Carpini, a gente mostrou para eles[a direção do clube] que era um estímulo a mais a premiação jogo a jogo direta, não tinha valor acumulado. Então isso motiva demais o atleta a buscar sempre a Vitória”, declarou.
Pelas regras estabelecidas entre diretoria e atletas, vitórias como mandante e visitante, e empates longe do Distrital de Inamar garantem a remuneração extra aos atletas.
“Como a premiação é bastante significativa, fez com que o elenco sempre buscasse a vitória desde a primeira rodada, sem alteração de valor ou de condição”, conclui Júlio.
Segundo apurado pela reportagem, na fase de grupos, o Água Santa pagou cerca de R$ 120 mil por cada vitória na fase de grupos. Como o clube venceu sete jogos e empatou um fora de casa, a premiação ficou acima dos R$ 900 mil.
A classificação contra São Paulo, nas quartas de final, e Red Bull Bragantino, na semifinal, tiveram bichos consideravelmente maiores do que os 120 mil reais.
A reportagem, Júlio confidenciou que caso o clube alcance o inédito título, a premiação é “gigante”.
Em comparação com o Palmeiras, rival na final, que será jogada nos dias 2 e 9 de abril, os Aquáticos têm uma folha salarial cerca de 22 vezes menor.
O alviverde gasta mensalmente R$ 18 milhões em salários, já o Água paga cerca de R$ 850 mil ao seu elenco.
No entanto, ao vermos a realidade do futebol brasileiro, o Água Santa é uma exceção para um clube em sua situação, que em 2023, não tem divisão e disputa apenas o campeonato estadual
Se disputasse a Série B de 2022, por exemplo, o clube da região do ABCD teria o sétimo maior gasto salarial da competição, à frente de times tradicionais, como Guarani, CRB, Náutico e Brusque.
Apesar do gasto milionário com as premiações, além dos salários, o bom desempenho no Paulistão, além da venda de jogadores, ajudaram o clube a fechar o primeiro trimestre do ano com superavit.
Por chegar na final do estadual, o clube já garantiu R$ 1,65 milhão da premiação estabelecida pela FPF (Federação Paulista de Futebol). A venda de dois atletas, Thiaguinho e Renato Júnior, ambos das categorias de base, geraram mais 500 mil dólares (R$ 2,57 milhões, na conversão de valores).
Vivenciando “o melhor momento” em sua trajetória no futebol, como o próprio diz, Júlio, que admite sondagens de grandes clubes do país, e dificilmente segue no Água, explica que o sucesso do clube passou por uma boa gestão, que envolve não cometer loucuras.
"Existe continuidade, o clube passou a entender que uma boa gestão era importante para atingir esses objetivos em três anos. A gente teve somente dois treinadores [desde 2020] que foram Tiago Carpini e Sérgio Guedes, então a gente busca ter um equilíbrio nas decisões, não tomar nenhuma decisão intempestiva que prejudica o clube e faça com que onere o clube em decisões desequilibradas”.