O ano era 1923. Naquela época, os clubes de futebol do Brasil ainda estavam longe do profissionalismo que vemos hoje em dia. Os jogadores eram mal remunerados, isso quando recebiam um salário. Por conta disso, surgiu uma prática que até hoje resiste no nosso futebol: o "bicho".
O bicho nada mais é que uma gratificação dada aos jogadores em caso de vitória, empate ou título, segundo o jornalista Marcelo Duarte, autor da série Guia dos Curiosos. Mas, por que essa prática recebeu o nome de "bicho"?
No folclore da bola, há duas versões que explicam a alcunha. A primeira é de que os torcedores premiavam os jogadores com animais, literalmente. A depender do tamanho das vitórias ou títulos conquistados, os atletas eram premiados com galinhas, patos ou leitões. Apesar de curiosa, essa versão já foi deixada de lado, mas fica aqui o registro.
Outro ponto de vista, este mais aceito pelos historiadores, é de que foi a torcida do Vasco da Gama, pioneira em inúmeras outras oportunidades, que começou a premiar seus jogadores em vitórias importantes, empates e títulos. É o que explica Marcelo Duarte.
"Havia uma senha entre os torcedores, baseada no jogo do bicho. Um empate valia um cachorro, o número 5, ou 5 mil réis. O coelho, número 10, representava 10 mil réis, e era pago em caso de uma vitória. Para as grandes vitórias, ou títulos, o prêmio máximo era de uma vaca, número 25, ou 25 mil réis", afirma o jornalista e escritor.
Inclusive, acredita-se inclusive que foi por conta dessa prática dos vascaínos que surgiu o termo "fazer uma vaquinha", já que os torcedores se uniam para arrecadar dinheiro afim de incentivar os atletas a vencer.
O futebol só foi ser regularizado dez anos depois, em 1933, mas o bicho continuou e segue presente nos bastidores da bola até os dias de hoje. O Água Santa, inclusive, usou dessa prática para reconhecer o esforço de seus atletas na histórica campanha neste Paulistão, em que o time está na grande final contra o Palmeiras.
O Netuno paga cerca de R$ 120 mil para todos os funcionários do clube em caso de vitória. Nos empates fora de casa, a diretoria também paga um valor, ainda que menor. Já nas quartas e semifinais do Paulistão, o bicho foi ainda maior que os R$ 120 mil, segundo o diretor-executivo do clube, Júlio Rondinelli.