Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, usou a sua conta pessoal no Twitter para esclarecer os detalhes de sua proposta de incentivar o porte de armas por professores como forma de evitar novos massacres em escolas, como o ocorrido na semana passada na Flórida. Acusando a mídia de distorcer suas palavras, ele afirma no tuíte que nunca disse “deem armas aos professores”, mas sim ser favorável a que apenas “professores adeptos do uso de armas e com treinamento militar ou especial” possam levar armamento de pequeno porte para as escolas.
Na noite de quarta-feira (21), Trump encontrou-se com um grupo de alunos e professores da escola Marjory Stoneman Douglas, onde 17 pessoas morreram após um ex-aluno, Nikolas Cruz, invadir o prédio com um AR-15.
Nas publicações, Trump alega que no máximo 20% dos professores estariam armados e que “uma escola sem armas é um imã para pessoas más”. Segundo ele, professores armados deteriam “os covardes” e “os ataques acabariam”.
Para além de novamente acusar algumas redes de comunicação norte-americana de divulgarem “fake news”, a sequência de postagens no Twitter é uma demonstração de como a administração Trump está tentando se equilibrar entre as pressões por maior controle na venda e porte de armas e o forte lobby da NRA (Associação Nacional do Rifle, na sigla em inglês), organização com enorme força política nos EUA e uma das principais apoiadoras da campanha do atual presidente.
Tiroteio da Flórida reabre debate
O massacre na Flórida reabriu o debate sobre armas nos EUA, com os estudantes à frente de um movimento que tem tomado as ruas de várias cidades e deve realizar uma grande marcha em Washington no dia 24 de março. A rede de televisão CNN fez um debate com congressistas e estudantes da escola Marjory Stoneman Douglas sobre o assunto.
Nos últimos dias, Trump sinalizou algumas concessões a demandas dos grupos anti-armas, entre elas aumentar a idade mínima para a compra de uma arma de 18 para 21 anos. Também sinalizou a proibição da venda do chamado “bump stock”, um equipamento que permite transformar armas comuns em automáticas.
Estas são duas medidas que desagradariam à NRA. No entanto, a própria associação pró-armas disse, em um comunicado feito pouco antes das publicações de Trump no Twitter, não enxergar grande distância entre seus interesses e o “presidente mais a favor da Segunda Emenda [à Constituição] dos últimos tempos”. A Segunda Emenda garante o direito dos cidadãos norte-americanos andarem armados.
Armar professores interessa à NRA
A própria defesa de Trump à regulação do porte de armas por professores é uma das provas do alinhamento de sua administração com a pauta da NRA.
Além disso, as primeiras declarações de Trump sobre o tiroteio na Flórida, ressaltando as questões de saúde mental envolvendo o jovem Nikolas Cruz, também alinham-se perfeitamente ao discurso da NRA. O presidente diz ser a favor de medidas mais severas de checagem prévia à concessão do porte de armas, discurso também incorporado pela associação pró-armas.