O caso de um homem de 61 anos que ficou livre do câncer um mês após receber uma terapia inovadora chamou ganhou o noticiário nesta semana.
O publicitário Paulo Peregrino tinha um linfoma não Hodgkin – câncer que ataca os glóbulos brancos do sangue, também chamados de linfócitos – e estava prestes a ser encaminhado para cuidados paliativos, pois já havia se submetido a 45 quimioterapias nos últimos anos, sem que houvesse melhora do quadro.
Ele foi, então, selecionado para um tratamento desenvolvido pelo Hemocentro de Ribeirão Preto e pelo CTC-USP (Centro de Terapia Celular da Universidade de São Paulo), em parceria com o Instituto Butantan.
O método, chamado de CAR-T, envolve o redirecionamento da atividade natural de uma célula de defesa do organismo, chamada de célula T, utilizando a expressão o receptor de antígeno quimérico (CAR, na sigla em inglês).
Diferentemente dos métodos mais usados nos tratamentos de câncer, como quimioterapia, radioterapia e imunoterapia, que são padronizadas, a o CAR-T é personalizado para cada paciente.
É feita a coleta de células T do paciente, que são reprogramadas em laboratório para produzir em sua superfície os receptores quiméricos de antígenos. Essas moléculas são sintéticas, não existem naturalmente.
Posteriormente, essas células são recolocadas no corpo do paciente, onde reconhecem e matam quaisquer células cancerígenas que abriguem o antígeno-alvo em suas superfícies.
O médico Renier J. Brentjens, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, descreveu a terapia de células CAR-T como algo equivalente a "dar aos pacientes uma droga viva", pois elas vão orquestrar a resposta imune do paciente para que o próprio organismo elimine o câncer.
A resposta é não. Além de ser algo ainda feito em pequena escala, as terapias CAR-T têm indicação neste momento somente para linfomas, alguns casos de leucemia e mieloma múltiplo.
Também é uma terapia de alto custo, podendo custar até R$ 5 milhões na rede privada – já que depende do envio das células ao exterior.
Aqui no Brasil, os centros de pesquisa realizam o tratamento pelo SUS.
Estudos em andamento no CTC (Centro de Terapia Celular) da USP , porém, já demonstram potenciais benefícios da técnica para outros tipos de tumores, como o glioblastoma, o segundo tipo que mais mata crianças e ataca o sistema nervoso central, e o sarcoma.
Ainda assim, não há um grande otimismo em relação ao uso do CAR-T para tumores sólidos, como de cérebro e mama, por exemplo. Esforços para identificar antígenos que estão na superfície desses tumores, mas não em células saudáveis, não obtiveram sucesso.
As barreiras físicas que circundam tumores sólidos também podem ser um obstáculo para que as células CAR-T infundidas no organismo consigam atingir o câncer.
Em uma apresentação, o pesquisador Lucas Eduardo Botelho Souza, do CTC e do Laboratório de Transferência Gênica do Hemocentro de Ribeirão Preto, ligado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, mostrou o caso do nono paciente tratado com CAR-T pela equipe.
Era uma pessoa diagnosticada com linfoma difuso de grandes células B, um dos tipos não Hodgkin, e o tipo mais comum, que recebeu a infusão e, assim como Paulo Peregrino, viu o câncer desaparecer em um mês.
Atualmente, o câncer está em remissão, o que pode ser considerado cura, pois passaram-se mais de cinco anos sem o ressurgimento da doença.
O PET scan realizado antes do tratamento mostra o câncer espalhado pelo corpo. No exame seguinte, as células tumorais já haviam desaparecido – as manchas pretas permanecem nos rins e cérebro devido ao contraste utilizado.
O sucesso do tratamento, todavia, depende da permanência desses linfócitos no paciente. Em alguns casos, essas células podem durar anos.
Entretanto, o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, ressalta que "apesar da empolgação em torno dessas terapias, elas levam à sobrevida a longo prazo a menos da metade dos pacientes tratados".
A terapia também não está livre de riscos. Embora seja feita uma única infusão, existem efeitos colaterais, devido a uma enorme liberação de moléculas que podem ser consideradas inflamatórias. Por essa razão, a terapia tem de ser feita em um centro especializado em transplantes.