O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve diminuir o ritmo de viagens nacionais, com exceção das já previstas, e se reunir com senadores e deputados federais após o feriado de Corpus Christi, dizem ministros do governo. A medida ocorre após as críticas da falta de articulação política do Executivo com o Legislativo e em meio à vontade de congressistas por mais liberação de emendas.
Nesta segunda-feira (5), havia a expectativa de uma reunião separada entre Lula e os líderes partidários da Câmara dos Deputados e do Senado. No entanto, o governo cancelou o encontro com o primeiro grupo e se reuniu apenas com senadores. Participaram Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), Otto Alencar (PSD-BA), Fabiano Contarato (PT-ES), Jorge Kajuru (PSB-GO), Renan Calheiros (MDB-AL), Izalci Lucas (PSDB-DF) e Marcelo Castro (MDB-PI).
A reunião teve a participação da maioria de senadores que compõem a base do governo na Casa. De acordo com Jaques Wagner, o encontro tinha o objetivo de possibilitar a Lula transmitir os agradecimentos pela aprovação da medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios. Na prática, o texto, alterado pelo relatório feito pelo deputado relator, esvaziou o poder de pastas, como Meio Ambiente e Mudança e Clima e Povos Indígenas, pautas defendidas pelo petista durante a campanha eleitoral de 2022.
Depois de um ritmo acelerado de viagens nacionais e internacionais, Lula deve diminuir o número dos passeios, com exceção de agendas já previstas. O presidente cumpre agenda, nesta terça-feira (6), em Luís Eduardo Magalhães (BA) e no Recife (PE). Na quarta-feira (7), os compromissos se darão na capital pernambucana mais uma vez e em Paulista (PE). Há ainda a possibilidade de o chefe do Executivo passar o feriado de Corpus Christi em Pernambuco ou na Bahia.
Após a agenda, na semana dos dias 12 a 16, Lula deve reduzir o ritmo de viagens e se concentrar em "arrumar a casa", nas palavras de um ministro do governo. A agenda, segundo essa fonte, deve contar com reuniões com parlamentares de diversos partidos e bancadas. O governo vem sendo criticado pela falta de articulação política, inclusive com recados públicos do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
"Há uma insatisfação generalizada dos deputados com a falta de articulação do governo", disse Lira recentemente. "Daqui para a frente o governo tem que andar com as próprias pernas, e não haverá nenhum tipo de sacrifício dos parlamentares. O governo sabe e tem consciência de que a acomodação política não está feita e não tem base consolidada", afirmou.
Lira e Lula conversaram ao menos três vezes sobre a questão. A última reunião entre os presidentes dos dois Poderes ocorreu na manhã desta segunda-feira (5). O alagoano disse em entrevista que, com a presença do petista na articulação política, é possível ter uma construção mais sólida na base do governo no Congresso Nacional.
A situação de desconforto do Executivo é maior na Câmara dos Deputados do que no Senado, cuja presidência é exercida por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aliado do Palácio do Planalto. Apesar das críticas, neste primeiro momento Lula tem reforçado que não deve fazer uma reforma ministerial. No entanto, existem movimentos de pressão por troca de ministros, principalmente os ligados à área de articulação política.
Lula tem sido aconselhado por integrantes do Executivo a fazer alterações na composição ministerial para tentar melhorar a governabilidade com o Congresso Nacional. O principal pedido é que o petista troque os ministros que são filiados ao União Brasil, que comandam três pastas: Integração e Desenvolvimento Regional (Waldez Góes, que entra na cota da sigla, apesar de ainda estar licenciado do PDT), Turismo (Daniela Carneiro) e Comunicações (Juscelino Filho).
A medida que definiu a composição da Esplanada foi aprovada no último dia antes de perder a validade, e os principais líderes disseram que só não foi rejeitada em solidariedade à base do governo no Parlamento. Ainda assim, ministérios foram esvaziados com as mudanças feitas pelos congressistas.
Diante das dificuldades na articulação política, o governo liberou no mês de maio pelo menos R$ 4,5 bilhões em emendas parlamentares. O montante representa quase o valor total do que foi repassado desde janeiro (R$ 4,9 bilhões). Os cofres foram abertos pelo governo especialmente depois de ver ameaçada a medida provisória que definiu a estrutura ministerial.
Temendo não aprovar a matéria, o Palácio do Planalto liberou em um único dia R$ 1,7 bilhão aos parlamentares. Para os próximos meses, os congressistas esperam ainda mais recursos. A maioria dos recursos será utilizada para ações na área do Ministério da Saúde, que vai usar R$ 4,1 bilhões para projetos da pasta.