Aplicação preferida dos brasileiros, a poupança apresentou o primeiro resultado positivo de 2023. Em junho, os depósitos da caderneta superaram os saques em R$ 2,596 bilhões, mostram dados divulgados nesta sexta-feira (7) pelo BC (Banco Central).
O saldo positivo inédito neste ano é insuficiente para reverter as perdas recentes. Com isso, a caderneta amarga um resultado negativo de R$ 66,636 bilhões no primeiro semestre, o maior rombo para o período desde 1995, ano que marca o início da série histórica do indicador.
O resultado supera em 26,3% o recorde semestral anterior, registrado entre julho e dezembro do ano passado (-R$ 52,7 bilhões). O último saldo positivo da poupança em um semestre ocorreu entre julho e dezembro de 2020, quando as aplicações na caderneta superaram as retiradas de R$ 83,9 bilhões.
No acumulado do primeiro semestre, foi retirado R$ 1,926 trilhão e alocado R$ 1,860 trilhão nas cadernetas de poupança. Com o movimento, o saldo final da aplicação figura em R$ 970,4 bilhões.
Entre janeiro e junho deste ano, os depósitos não superaram as retiradas na caderneta apenas no último mês. A maior perda do semestre foi registrada em janeiro (-R$ 33,6 bilhões), mês que representa o maior volume de saques da caderneta já contabilizado pelo BC.
Em fevereiro, o saldo negativo de R$ 11,5 bilhões também foi o maior já registrado para o mês. Em março, abril e maio, os volumes de retiradas foram maiores do que as aplicações na poupança em, respectivamente, R$ 6 bilhões, R$ 6,2 bilhões e R$ 11,7 bilhões.
Mesmo com a sequência de déficits desde 2021, a poupança ainda segue presente na carteira de um quarto dos brasileiros (26%), de acordo com dados do Raio X do Investidor, divulgado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
A perda de recursos da poupança pode ser justificada pelo baixo retorno da aplicação diante de outros investimentos que oferecem segurança semelhante. Com a taxa básica de juros fixada em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, a rentabilidade da caderneta equivale a 0,5% ao mês mais o pagamento da taxa referencial, o equivalente a um retorno médio de 6,34% ao ano.
Na prática, se aplicar R$ 1.000 na caderneta, o consumidor terá uma rentabilidade bruta estimada em R$ 88,37 em 12 meses. No mesmo período, o ganho obtido em um título do Tesouro Direto atrelado à taxa Selic é de R$ 137,50.
Mesmo com o baixo retorno, a caderneta contou com a ajuda da desaceleração da inflação nos últimos meses. Com o arrefecimento do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), as aplicações na poupança renderam 2,95% entre janeiro e junho, o maior ganho real desde 2017.
Além da rentabilidade abaixo da oferecida por outros investimentos, pesam contra a caderneta de poupança a evolução da inflação e a atual situação financeira da população, com mais de 65 milhões de brasileiros inadimplentes, segundo dados do SPC Brasil e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas).