Segundo os últimos dados da Serasa, de abril de 2023, o cartão de crédito era responsável por 31,6% da inadimplência dos brasileiros. No entanto, é um método de pagamento que pode ajudar, desde que acompanhado do devido planejamento financeiro. É o que dizem especialistas ouvidos pelo R7.
Para eles, a ferramenta tem, sim, pontos positivos. Porém, ela não pode ser utilizada como dinheiro extra. Ou seja, só pode ser usada se a pessoa tiver renda para pagar a fatura integralmente no fim do mês.
“O maior erro do brasileiro comum é que ele usa esse limite do cartão de crédito como se fosse complemento do seu salário. Então, por exemplo, eu ganho R$ 2.000 por mês e tenho um crédito de R$ 500, eu começo a considerar que eu tenho R$ 2.500 por mês para usar. Esses R$ 500, na verdade, são um empréstimo, e ele tem que ser pago”, afirma Simone Sgarbi, educadora financeira.
"Ela define o cartão de crédito como uma espécie de empréstimo pré-aprovado. Por causa disso, as taxas de juros cobradas quando o pagamento da fatura não é feito integralmente são altas.
A maioria das pessoas usa esse limite do cartão de crédito como se ele fosse uma segunda fonte de renda, e aí, quer queira ou não, vai sobrar esse limite para ser pago depois".
Segundo os últimos dados divulgados pelo Banco Central sobre o assunto, também de abril deste ano, a taxa de juros média do método era de 447%. Na prática: uma dívida de R$ 1.000 resultará no valor total de R$ 5,47 mil.
Dessa forma, Sgarbi ressalta que o uso da ferramenta precisa vir acompanhado de um devido planejamento financeiro. Ou seja, ela afirma que os gastos no cartão precisam ser menores que o salário mensal do consumidor.
Rogério Araújo, que também é educador financeiro, pensa de forma semelhante. Além disso, ele dá uma dica “simples”.
“[Não é preciso] uma planilha de Excel ou uma dica de um analista, às vezes é suficiente simplesmente um caderno em que a pessoa anote quanto ganha no topo da página, e as dívidas, ou o que ela tem para pagar, embaixo. O final lá embaixo do caderno tem que dar positivo. É um processo simples e que funciona. Eu aprendi isso com a minha mãe”, explica.
Os educadores financeiros acreditam que a bandeira a ser escolhida depende de preferências pessoais. Isso porque os benefícios concedidos a usuários de cartão de crédito variam.
Araújo lembra que algumas bandeiras dão direito a preferência na compra de ingressos e descontos para determinados shows.
“Na compra de ingressos, para quem gosta de shows, dessa parte cultural, você consegue comprar com descontos, e isso é vantagem. Agora… precisa pesar a vantagem para cada um. Por exemplo, eu não uso para shows, eu não vou a eventos, eu não participo disso. Não faz sentido eu ter um cartão que me dá esta vantagem.”
Por sua vez, Sgarbi afirma que usa o cartão por conta do sistema de milhagens. Como ela gosta de viajar, esse benefício é bom por isso, diz à reportagem.
Ao ser questionada se, afinal, o cartão de crédito é recomendável ou não, Simone Sgarbi é “conservadora”.
Isso porque, para ela, ele só deve ser utilizado se o usuário tiver tido acesso a uma boa educação financeira. Porém, não é o caso da maioria da população brasileira.
De acordo com a última pesquisa global de educação financeira, a S&P Global Financial Literacy Survey, o Brasil tem apenas 35% dos adultos alfabetizados financeiramente. Nessa lista, o país fica atrás de nações subdesenvolvidas como Madagascar, Togo e Zimbábue.
“Eu sei que eu estou sendo conservadora, mas é por causa dos números mesmo, né? Então assim… o cartão de crédito é uma ferramenta de administração financeira, é uma ferramenta de organização financeira, mas você precisa aprender a usá-lo”, diz ela.
Iniciativas para inserir a educação financeira na grade curricular já ocorreram no Brasil. Tanto no âmbito federal quanto no estadual e no municipal. Porém, elas nunca foram efetivamente implementadas em escala nacional, muito por conta da pressão contrária feita por partidos inclinados à esquerda.
Por outro lado, o governo Lula (PT) se propôs a oferecer curso de educação financeira. Mas isso para quem aderir ao Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas, que deve ter a primeira fase iniciada em julho.
*Sob supervisão de Ana Vinhas