A aposentada Creuza Arrolho ganhou as redes sociais pelo seu carisma após uma cliente divulgar o apreço que ela tem com cada um que passa por sua banca de doces, próximo à praça central do Bairro Terra Nova, em Cuiabá.
Creuza, de 70 anos, começou a vender biscoitos caseiros, produtos de beleza e títulos de capitalização para complementar a renda da aposentadoria.
Além disso, não gosta de ficar parada e pretende voltar a estudar. Ela revelou que está se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano.
“Esse ano eu vou fazer o Enem. Quero estudar gestão de alimentos. Gosto desse ramo porque vendo alimentos”, disse.
Apesar de idade, assim que Creuza parou de trabalhar, há cerca de um ano e meio, ela sentiu a necessidade de dar início às vendas.
“Nas circunstancias em que nós, brasileiros, estamos, a aposentadoria é pequenininha. Eu preciso ver alguma coisa para ter uma renda melhor. Porque a gente gasta bastante, paga convênio médico. Quando você aposenta, acha que vai ficar tranquila, mas conforme a idade chega, vai ter que tomar medicamentos, você tem que pagar uma série de coisas”, explicou.
Entre francisquitos, casadinhos, cocadas e petiscos, o que mais faz sucesso é o biscoito de nata que derrete na boca. Além disso, ela traz um diferencial que é o “pacholate”, uma paçoquinha coberta com chocolate.
Creuza compra os doces caseiros de Minas Gerais, São Paulo e até mesmo Cáceres. E os valores variam entre R$ 2 e R$ 18. Ela monta sua banca de segunda a sexta, das 16h30 às 19h.
Ela também conquistou uma grande e fiel clientela com a sua simpatia e alegria no atendimento.
“Quero sempre atender bem, ter amizades, o que é muito importante. Tanto que a minha cliente divulgou no Facebook”, disse, com orgulho.
No entanto, não é sempre que Creuza tem boas vendas, pois ela depende da renda dos fregueses.
“Conforme os dias que eles recebem, têm mais movimento. Eles nem sempre têm dinheiro. Mas eu tenho uma freguesia boa”.
Mãe de três filhos, a aposentada já é bisavó e recebe grande incentivo da família para realizar seus desejos de continuar trabalhando e estudando.
“Eles [os filhos] me apoiam, eles são muito presentes. Falo com as minhas duas filhas que moram fora, praticamente, todos os dias”.
Alair Ribeiro/MidiaNews
"Eu trabalhei bastante e estou feliz”, diz a vendedora de doces Creuza Arrolho
Força para trabalhar
Antes de se aventurar na venda de guloseimas, Creuza traçou uma respeitável trajetória como técnica de segurança do trabalho em obras. Creuza já foi intitulada a mais velha de Mato Grosso atuando no cargo.
“Onde eu trabalhei, eu nunca descriminei os trabalhadores, sempre tratei todos com igualdade. Desde o engenheiro ao pedreiro, não tinha distinção para mim. Hoje em dia eles vêm aqui [na banca] e têm um carinho especial comigo. Deixei um legado bom na minha vida”, afirmou a aposentada.
Ela conta que chegou a dar diversas palestras e cursos sobre segurança no trabalho, na época em que trabalhava em uma grande construtora.
“Eu gostava muito do que eu fazia. Estava trabalhando até esses dias de tanto que eu amava”.
Nascida e criada em São Paulo, a aposentada chegou a trabalhar com contabilidade, mas largou o ofício por não ter paixão pelo o que fazia.
Divorciada, ela lembra que chegou a vender livros e criou os três filhos, praticamente, sozinha.
Mas sua jornada em busca da ocupação ideal foi longa. Creuza até foi gerente de locação de uma imobiliária antes de virar técnica em segurança do trabalho.
Moradora de Cuiabá desde 1979, Creuza diz que se sentiu acolhida e tem um carinho muito grande pela cidade. “Me considero cuiabaníssima, eu amo Cuiabá”.
Cadeira de rodas
Em 2013, Creuza passou por momentos difíceis. Ela precisou realizar duas cirurgias invasivas que quase a deixaram de cadeira de rodas.
A vendedora foi diagnosticada com osteoporose, que é uma doença que atinge os idosos, reduzindo a massa óssea.
“Eu fiz uma cirurgia da coluna lombar, quando coloquei oito pinos na coluna. E uma prótese no quadril esquerdo. Fiquei praticamente um ano andando de muletas, de andador, de cadeiras de rodas”, relembrou.
Contudo, com muita persistência e apoio familiar, Creuza conseguiu superar e esse período escuro a incentivou ainda mais a continuar sendo uma pessoa ativa.
“Graças a Deus eu venci. Então eu não paro porque eu acho que nasci trabalhando. Eu sou elétrica. Nasci trabalhando, eu não sei parar”.