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Reforma ministerial é decisiva para agenda do governo no Congresso no 2º semestre, dizem especialistas

Congresso volta na próxima semana; reforma tributária, arcabouço fiscal e Carf dependem de negociações com partidos

Data: Quinta-feira, 27/07/2023 09:17
Fonte: Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

negociação de uma eventual reforma ministerial deve ser decisiva para o destino da agenda do governo no Congresso Nacional no segundo semestre, avaliam cientistas políticos ouvidos pelo R7. A partir de agosto, quando retornarem do recesso parlamentar, deputados e senadores voltarão a analisar as novas regras fiscais do país, a reforma tributária e o voto de qualidade do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), temas essenciais para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A âncora fiscal, aprovada pelos senadores em junho, terá de voltar para a Câmara dos Deputados, devido às mudanças incluídas pelo Senado. A reforma tributária, que recebeu o sinal verde dos deputados no início de julho, ainda precisa do aval dos senadores.

A retomada do voto de qualidade do Carf, que permite a representantes do Executivo desempatarem votações em julgamentos de processos tributários na Receita Federal, pode ampliar a arrecadação federal. A medida foi aprovada pela Câmara no início do mês e ainda carece de análise do Senado.

Os três projetos, tidos pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) como as "balas de prata" do governo Lula, dependem de negociações com o Planalto para ser concluídos no Congresso.

Como o R7 mostrou, o presidente deve promover algumas mudanças na Esplanada dos Ministérios, depois de o centrão cobrar a fatura pela aprovação da reforma tributária na Câmara com folga — no segundo turno, foram 375 votos a favor, 113 contrários e 3 abstenções. Já no primeiro turno, foram 382 votos favoráveis e 118 votos contra. Eram necessários 308 votos para a aprovação da proposta.

"Quando vai mexer numa questão dessas, é muita gente envolvida, o guarda-chuva é muito grande. Alguém vai ter de ceder e perder. É o dilema da chamada frente ampla: é muito grande, não cabe todo mundo nesse barco. Vai ter de jogar gente no mar", analisa o cientista político André César.

O especialista aposta na troca de aliados de primeira hora do governo federal. "É possível que PSD, PCdoB e até o PT percam espaço em ministérios, para trazer gente do centrão, que não sabemos o quanto é capaz de entregar em votos, se consegue dar tudo o que pretende. [O governo] pode estar queimando aliados em busca de uma resposta que não é garantida", completa.

Para César, o voto de qualidade do Carf deve passar com tranquilidade pelo Senado, porque a questão já está pacificada. A tramitação das regras fiscais e a da reforma tributária, no entanto, tendem a gerar ruídos.

"Na Câmara, o arcabouço [fiscal] fechou o primeiro semestre dependendo de entendimentos e acordos, com o relator [deputado Claudio Cajado (PP-BA)] falando que ainda estão trabalhando as mudanças do Senado", avalia o cientista político, para quem a reforma tributária é o tema que pode causar os maiores embates a partir da próxima semana.

"Já passou aquela coisa da felicidade [da aprovação], de ter passado a madrugada votando, com uma ressaca boa. Agora, começam a aparecer os buracos — muitos setores foram contemplados e muitos não foram, e estão vendo as forças assimétricas. Assim, vão se abrindo exceções. A questão dos estados, com o dispositivo que permite criarem impostos para financiar projetos de infraestrutura, é um jabuti muito esquisito. Me parece que, no Senado, [a aprovação] não vai ser tão rápida quanto na Câmara. O setor de serviços e a construção civil, por exemplo, apareceram. Quem não foi contemplado no texto da Câmara vai, agora, para cima — e tem muita gente. No pior cenário, no mais extremo, isso pode inviablizar o texto".

 ANDRÉ CÉSAR, CIENTISTA POLÍTICO

Para o cientista político Leonardo Barreto, como a promessa da reforma ministerial já foi assumida em público, não há como as mudanças não serem feitas. "A não ser que Lula queira correr o risco de quebrar um pacto com os partidos. É claro que a composição dos ministérios vai influenciar bastante as condições que o governo vai ter para resolver as medidas econômicas no Congresso Nacional", analisa. Ele explica que a conta para equilibrar os desejos dos aliados do presidente envolve perdas de espaço.

"A Câmara quer mais espaço na Esplanada, hoje com uma influência muito grande do Senado. No início do ano, o Senado ganhou mais espaço do que a Câmara [nos ministérios] porque, no Senado, havia uma sinalização de composição maior. Agora, o governo está pressionado a acomodar os aliados da Câmara, e esse espaço pode ser retirado de outros partidos, inclusive do próprio PT, mas também pode ser retirado do Senado, que está com algumas das principais pautas atuais. A Câmara entregou o que o governo queria antes de receber. Agora, a Câmara precisa receber, e o presidente precisa fazer isso sem desagradar ao Senado". 

LEONARDO BARRETO, CIENTISTA POLÍTICO

Mesmo com as complicações que envolvem o reequilíbro de forças, Barreto acredita que as tramitações dos temas não devem ficar paradas. Isso porque o próprio Legislativo tem interesses em aprovar as matérias. "O ritmo vai depender desse processo de composições políticas. O presidente Lula tem o desafio de gerar a menor quantidade de inimizades possível. Dar o cargo não garante apoio, porque tira quem estava anteriormente, gerando um 'inimigo', e a pessoa que assume tende a ter uma posição de ingratidão", avalia.