Enfrentando uma série de casos na Justiça americana, Donald Trump teve de pagar vários milhões de dólares em gastos legais de defesa e agora se vê diante do possível esgotamento de recursos de sua campanha eleitoral para tentar retornar à Casa Branca.
O ex-presidente republicano está arrecadando muito dinheiro. Seu comitê de arrecadação de fundos recebeu mais de US$ 54 milhões no primeiro semestre do ano, mais do que o restante de seus principais adversários nas primárias.
Mas, de acordo com alguns críticos, documentos recentes relativos ao financiamento de campanha mostram até que ponto seus problemas legais afetaram seu caixa, com menos dinheiro destinado à publicidade na televisão, a comícios ou a viagens de campanha
O comitê de arrecadação de fundos (PAC) revelou que, no fim de junho, restavam apenas US$ 4 milhões, uma quantia insignificante para uma campanha presidencial nos Estados Unidos. "Save America" já gastou mais de US$ 20 milhões em custos judiciais para o ex-presidente.
"Se você der dinheiro a Trump, irá quase exclusivamente para suas despesas legais pessoais", disse o advogado e colunista conservador A.G. Hamilton.
"Isso significa que eles não terão praticamente nada para gastar para encorajar as pessoas a votar e enfrentar os democratas em estados-chave", estimou.
Além disso, a recente acusação por suas supostas tentativas de reverter os resultados das eleições de 2020 vai abalar ainda mais suas finanças. Seus diferentes órgãos políticos dispõem de quase US$ 32 milhões em contas bancárias para as primeiras primárias republicanas em janeiro, em Iowa.
A maior parte dos recursos arrecadados por Trump vai diretamente para sua campanha presidencial, e apenas 10% para seu PAC, que cobriu as despesas legais de quase todas as personalidades do entorno do bilionário envolvidas em suas várias acusações.
"Save America", que arrecada a maior parte de seus fundos por meio de pequenas doações, declarou à Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês) que pagou US$ 21,6 milhões neste ano a escritórios de advocacia que defendem Trump e seus aliados, US$ 5 milhões a mais do que em 2021 e 2022 juntos.
O empresário nova-iorquino, que de acordo com a Forbes em uma fortuna avaliada em US$ 2,5 bilhões, chega às primárias com 78 acusações criminais contra ele em três processos criminais.
Ele deve ir a julgamento em Nova York em março de 2024, no caso de pagamentos suspeitos a uma ex-atriz pornô. Dois meses depois, comparecerá a um tribunal federal da Flórida, em razão da acusação de má gestão de documentos confidenciais da Casa Branca. Trump também irá a Washington nesta quinta-feira para uma audiência preliminar sobre as supostas tentativas de reverter o resultado da eleição presidencial de 2020. Isso pode levar a outro indiciamento, desta vez na Geórgia, por acusações similares.
Trump criou o "Save America" depois de perder as eleições para o democrata Joe Biden e, em dois meses, levantou cerca de US$ 250 milhões de apoiadores, aos quais pediu que contribuíssem para um "fundo de defesa eleitoral" para contestar o resultado. Nem um único centavo foi destinado à recontagem dos votos ou à apresentação de recursos judiciais, enquanto a maior parte do dinheiro foi dividida entre o Partido Republicano e as contas do magnata.
De acordo com um relatório do comitê legislativo que investiga a conduta de Trump no período que antecede as eleições, o candidato e sua campanha "enganaram seus apoiadores".
Embora o uso de fundos arrecadados em 2023 para fins legais não levante nenhuma questão legal, coloca questões éticas sobre a mesa. O governador da Flórida, Ron DeSantis, o principal concorrente de Trump na indicação republicana, apontou isso diretamente.
"Trump gastou mais de US$ 60 milhões em duas coisas: atacando falsamente DeSantis e pagando os próprios honorários jurídicos. Nem um centavo foi gasto para derrotar Biden", disse o porta-voz da campanha do governador, Andrew Romeo.
A equipe de campanha de Trump não respondeu aos questionamentos da AFP, mas já havia explicado que o dinheiro das despesas legais foi usado para ajudar a "proteger pessoas inocentes da ruína", em referência aos familiares do ex-presidente envolvidos em seus problemas na Justiça. E, acrescentou, para "evitar que suas vidas sejam completamente destruídas".