O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras, o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), apresentou nesta quarta-feira (6) um email institucional enviado pela Hotmilhas — empresa de compra e venda de milhas controlada pela 123milhas — em que os clientes são orientados a não alterar a senha do sistema e a informar às empresas aéreas que doaram as milhas.
Aureo Ribeiro leu o conteúdo do email durante a reunião desta quarta-feira (6), em que estão sendo ouvidos sócios e diretores da 123milhas. De acordo com o email enviado aos clientes, em nome da Hotmilhas, caso o usuário fosse questionado sobre as milhas pela empresa áerea contratada mediante uso de milhagens, deveria dizer que as tinha repassado a "amigos" ou "parentes". "Isso aqui é uma peça criminosa. As atitudes são criminosas, e cabe à CPI investigar quem são os criminosos", afirmou Ribeiro.
"Nós não sabemos quem ordenou o envio do email ainda, e vamos investigar. Isso está pedindo ao cliente, na verdade, para mentir. Isso é para burlar a legislação. Isso é coisa de gangue, de quadrilha. Criminoso o email pedindo para a pessoa não mudar a senha e pedindo para mentir caso seja confrontada", disse o relator da comissão, deputado Ricardo Silva (PSD-SP).
O comparecimento de sócios e diretores da 123milhas à CPI ocorre depois de os depoentes terem faltado em duas ocasiões e o presidente da CPI ter anunciado que havia requerido à Justiça a condução coercitiva deles. A primeira convocação estava marcada para 29 de agosto, mas os empresários e diretores não compareceram à sessão sob o argumento de que não foram formalmente intimados. Após terem sido reconvocados, alegaram ter uma reunião agendada no mesmo horário com o ministro do Turismo, Celso Sabino.
As convocações foram feitas depois que a agência de viagens anunciou, em 18 de agosto, que não emitiria as passagens com preço promocional da linha Promo para viagens entre setembro e dezembro de 2023 e que iria ressarcir os clientes com um voucher, sem a opção de devolução em dinheiro.
Nesta quarta-feira, Ramiro Madureira, sócio e administrador da empresa, pediu desculpas aos clientes lesados e negou a ilegalidade das operações. "Importante dizer que nós não somos uma pirâmide. Somos uma agência de viagens online que vende pacotes, passagens, hotéis e que, nos últimos anos, embarcou mais de 18 milhões de passageiros", disse, ao citar o fato de que a "linha Promo fez reduzir drasticamente custo com marketing".
Sobre a linha Promo, ele explicou que havia estudos consistentes que indicavam a sustentabilidade do modelo. "Acreditávamos que o custo diminuiria com o tempo, à medida que ganhássemos eficiência na tecnologia de operação e o que o mercado de aviação fosse se recuperando dos efeitos da pandemia". No entanto, ele declarou que o efeito foi o oposto e que o mercado "tem se comportado permanentemente como se estivesse em alta temporada, e isso abalou os fundamentos".