Em busca de informações oficiais referente ao confronto entre o policial militar Esdras e Valdevir de Nardi Segatti Junior, 38 anos, a equipe de reportagem da TV Amplitude Juara e rádio Amplitude FM 88,9, procurou, nessa segunda-feira, 11 de setembro, o comandante do 21º Batalhão da Polícia Militar em Juara, tenente coronel PM Alex Fontes e o delegado titular da Polícia Civil, doutor Carlos Henrique Engelmann, para falarem a respeito de como estão as investigações sobre o fato ocorrido.
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O tenente coronel PM Alex Fontes, revelou que Valdevir Junior já vinha sendo monitorado devido a postagens e comentários suspeitos em redes sociais. Conforme apurado pelo setor de jornalismo do Grupo Amplitude de Comunicação, entre essas postagens o sujeito aparecia empunhando a mesma pistola usada para ameaçar o PM. O comandante argumentou que esse monitoramento era feito no sentido de precaução sobre eventuais ameaças.
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O delegado titular da Polícia Civil, Carlos Henrique, informou que policiais civis estiveram no local do fato colhendo as primeiras informações bem como determinando as diligências protocolares, que são a realização de perícias, coleta de informações que eventualmente possam existir: como imagens e outras, identificação de testemunhas, bem como encaminhar o corpo do indivíduo que restou alvejado e morto para a realização do exame da necropsia.
Durante a coletiva, o delegado declarou:“Um policial civil, diferente dos demais, ele não é que pode prender, qualquer do povo pode prender quem quer que esteja cometendo algum crime em flagrante delito. O policial civil DEVE, o policial militar DEVE, todos os policiais DEVEM PRENDER, é um dever, não pode-se furtar. No caso específico, a ação do policial militar, com relação a tentar abordar e até alvejar, um indivíduo que apontava uma arma de fogo contra ele, é mais do que lícita né, é uma ação obrigatória. O policial civil não tem essa opção (de fugir de sua função), o policial militar não tem essa opção, ele TINHA que fazer aquilo, é dever funcional e legal dele agir da maneira como agiu.”
Dando sua versão, o tenente coronel PM Alex Fontes falou: “Só para deixar claro isso para as pessoas: O policial militar agiu, estava de folga, mas ele vai responder naturalmente como se fosse outra pessoa ali, como se um civil estivesse feito.”
O delegado explicou que após todas essas diligências, passou a ouvir em cartório da delegacia todas as pessoas envolvidas no fato, não só o policial que se envolveu nessa ocorrência, mas também as testemunhas que restaram apuradas e apontadas. “Estamos ouvindo também outras pessoas que de certa maneira tomaram conhecimento dos fatos. Estamos apurando o histórico desse indivíduo também.”
Houve uma significativa coleta de informações no sentido que aponta que de fato o policial militar agiu no estrito cumprimento do dever legal ou em legitima defesa, conforme alguns juristas entendam a diferença do fato, mas conforme apurado até o momento pelas investigações, não foi possível constatar que o PM agiu com abuso de autoridade ou no intuito de ceifar a vida de qualquer pessoa, dolosamente.
“Todas essas informações, obviamente, estão sendo colhidas no curso desse caderno investigativo que é o inquérito policial e claro, somente ao final de todas as apurações é que nós poderemos formar um juízo conclusivo a respeito da natureza jurídica do fato, da identificação positiva de todos os atores daquela cena, ao que foi apontado pela perícia no palco dos acontecimentos, bem como a tipificação correta de eventual ilícito que possa ter ocorrido, mas inicialmente o que se apresenta , o que está sendo desenhado nesse momento, para que a sociedade possa saber, ainda que não seja uma decisão estanque, definitiva, é de que o policial agiu no sentido de salvaguardar a sua vida e a de terceiros e que fez uso regular de uma arma de fogo abrasonada pela polícia militar do Estado de Mato Grosso que regularmente estava cautelada para a segurança pessoal dele.”
Por sua vez, o tenente coronel PM Alex Fontes comentou: “Logicamente o policial se defendeu, não ia ficar esperando ali ele ser alvejado, então ele atingiu ali o rapaz que infelizmente não resistiu e veio a óbito. É lógico que é uma situação que a gente não queria que acontecesse, ninguém quer né, mas infelizmente aconteceu e a gente está acompanhando os fatos, a apuração e tudo o que está sendo feito conforme a legalidade.”
Carlos Henrique frisou que com o outro indivíduo que restou alvejado foi apreendida, ou arrecadada, uma arma de fogo municiada que após ser periciada ficou verificada como de potencial lesivo efetivo e eficiente. A mesma arma aparece sendo empunhada por Valdevir em uma fotografia tirada por ele mesmo em ambiente interno de determinada residência que em seguida, a compartilhou em suas redes sociais dias antes do ocorrido. Com essas evidências, o delegado frisou que não restam dúvidas que a arma de fogo arrecadada pertencia e estava na posse, irregular, desse indivíduo.
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As investigações também estão indo no sentido de que em momentos antes do confronto, Valdevir esteve envolvido numa outra ocorrência em que apontou essa arma de fogo para uma mulher já identificada pela polícia. Todas essas informações estão sendo verificadas e coligidas.
As testemunhas do fato que presenciaram vendo e ouvindo os acontecimentos, prestaram depoimentos no sentido que o policial agiu em todo tempo visando salvaguardar a sua vida e que se utilizou do extremo uso progressivo da força, que é a utilização da arma de fogo de maneira letal, exaurindo toda e qualquer outra possibilidade de solução daquele evento.
VÁRIAS PASSAGENS PELA POLÍCIA
Valdevir Junior tinha inúmeras passagens pela polícia e estava envolvido em crimes de uso abusivo de drogas, tráfico de drogas, posse e porte irregular de arma de fogo, direção perigosa, embriaguez ao volante, desacato e desobediência a policiais e a 16 dias do ocorrido, ele ainda foi preso em flagrante delito por ter cometido, em tese, o crime de extorsão contra o próprio pai quando exigia que fosse adiantado a ele uma quantia em dinheiro no valor de R$ 20 mil e se não fosse feita, ele iria até onde seu pai estava e cometeria um fato gravoso como teria ameaçado. O sujeito chegou a ser preso, mas foi liberado em seguida por ordem da justiça. Como analisado, conclui-se que ele já causou grande desordem social devida a sua conduta delitiva.
A ABORDAGEM
Segundo apurado até o momento, todos os fatos aconteceram em via pública, o policial caminhava em determinada rua do bairro Jardim Floresta exatamente para prestar um auxílio a um parente que estava temeroso porque teria ouvido vários disparos de arma de fogo e entendia que poderia estar em perigo. Durante o deslocamento a pé pela via pública, o policial verificou que esse indivíduo se locomovia com a motocicleta Honda Pop e que ostentava uma arma de fogo.
Quando visualizou a situação, Esdras teria abordado Valdevir e verbalizou com ele dizendo que se tratava de um policial militar, mas que esse indivíduo ao contrário, ao invés de parar, teria empreendido fuga e o policial com auxílio de terceiros acionou colegas da Polícia Militar através do telefone de emergência, fatos esses que se encontram devidamente registrados.
Conforme relatado por testemunhas durante as investigações, após ter fugido, Valdevir retornou e de posse da arma de fogo empunhada, se aproximou por traz do policial, quando então, o PM repeliu a injusta agressão fazendo uso da arma de fogo que estava portando. Todos os fatos são bastante positivados no inquérito policial e as várias pessoas ouvidas e o contexto probatório indica bastante verossimilhança com essa informação.
O PM SERÁ AFASTADO?
O comandante do 21º Batalhão da Polícia Militar descartou essa possibilidade. Alex Fontes ressaltou que o policial militar se apresentou e todos os protocolos legais estão sendo cumpridos e o seu trabalho continuará sendo feito normalmente. “A gente vai avaliar. Se houve uma determinação superior, ou algo do tipo, se pode ter mudança disso ou não, dele ser afastado ou ser deslocado para trabalhar em outro local momentaneamente, mas nesse primeiro momento não”.
O tenente coronel continuou: “A gente também não pode pré-condenar o nosso policial o afastando do serviço por conta de uma situação dessa. Aconteceu, infelizmente, ninguém queria, mas ele (o policial), reagiu como qualquer outro colega militar agiria do mesmo jeito. Então a gente tem que ser cauteloso nesse sentido, porque se a gente afastar todo mundo que age numa situação dessa, nós vamos ter que afastar um batalhão inteiro no Estado todo em vários lugares, então eu acredito que não é o caminho. A gente está aberto a mudanças, se houver uma determinação superior, mas aqui acredito que o caso está bem fundamentado, bem respaldado, ninguém está escondendo nada de ninguém aqui, tudo está sendo cumprido.”
VINGANÇA?
O policial militar atua no distrito de Paranorte, justamente onde Valdevir residia com sua família, e por coincidência o PM participou na prisão do indivíduo quando este praticou a extorsão contra seu pai no dia 24 de agosto, sobressas essas coincidências, o delegado Carlos Henrique explicou que elas têm maior ocorrência principalmente em cidades de tamanho diminuído e população reduzida, como é o caso de Juara.
“Nós temos um número pequeno de policiais e as localidades são diminuídas de tamanho populacional e é comum que as pessoas se encontram, que determinado policial prenda um indivíduo mais de uma vez, que o conduza para a delegacia mais de uma vez. Eu mesmo, como delegado de polícia, autuei esse indivíduo (Valdevir) em mais de uma vez, eu o indiciei em mais de um procedimento, são as coincidências normais que acontecem.”, argumentou o delegado.
Ele ressaltou que o fato do Policial Militar ser um policial destacado para servir no núcleo de Polícia Militar do distrito de Paranorte e esse indivíduo ter morado naquela localidade, bem como do policial militar estar circulando ou andando em vias públicas de um bairro onde ele ou os parentes dele mora e Valdevir ter estado lá, por si só, não produz nenhuma informação relevante, dado que essas coincidências podem acontecer, como dito pelo delegado.
Não obstante, a hipótese de vingança será objeto de investigação, talvez se possa imaginar que por esse indivíduo supostamente ter sido capturado dias antes em flagrante delito por este policial militar lá em Paranorte e ter estado circulando com uma motocicleta, armado nas vias públicas onde sabia que esse policial militar supostamente poderia estar, pode-se induzir a um juízo que ele iria cometer um crime contra este policial.
“Mas o fato é que está sendo apurado a ação desse policial militar, com relação a atuação dele, o que nos pareceu primeiramente, dentro da legalidade. Num segundo momento, nós podemos até perquirir esse motivo (de vingança), mas isso talvez não seja possível porque muito provavelmente, se exista ou se tenha existido, deve ter ficado com esse indivíduo que restou alvejado e morto.”, finalizou o delegado.