A Coreia do Norte incorporou à sua Constituição o status de potência nuclear, e seu líder, Kim Jong-un, pediu a produção de mais armas atômicas modernas para contra-atacar a ameaça dos Estados Unidos, anunciou nesta quinta-feira (28) a imprensa estatal.
Apesar das sanções internacionais contra seu programa nuclear e armamentista, a Coreia do Norte realizou um número recorde de testes de mísseis neste ano, ignorando as advertências dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e de outros países.
Os esforços diplomáticos fracassaram para convencer Pyongyang a renunciar a seu arsenal atômico. E, depois que Kim declarou o status de potência nuclear do país como algo "irreversível", esse princípio está agora consagrado na Constituição.
"A política de construção de uma força nuclear da RPDC [República Popular Democrática da Coreia] foi estabelecida de forma permanente como lei básica do Estado, que ninguém pode burlar por nenhum meio", disse o líder norte-coreano Kim Jong-un durante uma reunião da Assembleia Popular, segundo a agência oficial de notícias KCNA.
O Parlamento, que segue as ordens do regime ditatorial comunista, se reuniu na terça e nesta quarta-feira. Kim afirmou que o país precisa do armamento para sua defesa contra a ameaça existencial dos Estados Unidos e seus aliados.
Washington "maximizou suas ameaças de guerra nuclear contra a nossa República ao retomar os exercícios de guerra nuclear em larga escala com uma clara natureza agressiva e com a mobilização de seus ativos nucleares estratégicos perto da Península Coreana", afirmou o líder norte-coreano.
Kim disse que o aumento da cooperação na área de defesa entre Washington, Seul e Tóquio é a "pior ameaça real" para seu país e que, portanto, é muito importante "acelerar a modernização das armas nucleares".
Ele também destacou a "necessidade de avançar com os trabalhos para aumentar exponencialmente a produção de armas nucleares e diversificar os recursos de ataque nuclear", segundo a KCNA.
O Japão reagiu e afirmou que o programa atômico de Pyongyang é "absolutamente inaceitável, uma ameaça à paz e segurança".
"Vamos trabalhar com Estados Unidos, Coreia do Sul e o restante da comunidade internacional para que as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança da ONU sejam cumpridas, assim como a plena desnuclearização da Coreia do Norte", disse o porta-voz do governo japonês, Hirokazu Matsuno.
Segundo analistas, a inclusão do status de potência nuclear na Constituição reduz ainda mais as esperanças de convencer Pyongyang sobre uma desnuclearização da península.
"O discurso de Kim [...] significa a permanência de sua força nuclear", declarou à AFP Yang Moon-jin, reitor da Universidade de Estudos Norte-Coreanos de Seul.
"Isto afasta ainda mais a perspectiva de uma desnuclearização da Coreia do Norte", acrescentou.
Entre os testes militares de Pyongyang realizados neste ano estão os lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais e uma simulação de "ataque tático nuclear".
O país comunista também tentou, sem sucesso, em duas ocasiões colocar em órbita um satélite de inteligência militar.
Coreia do Sul e Estados Unidos responderam com o reforço da cooperação de defesa, incluindo vários exercícios militares conjuntos, com a participação do Japão.
As relações entre as duas Coreias estão em um dos piores momentos, e a diplomacia se encontra estagnada, após as tentativas frustradas de discutir uma desnuclearização.
O representante de Pyongyang na ONU, Kim Song, disse nesta semana na Assembleia Geral que a península "está à beira de uma guerra nuclear".
O teste mais recente de armas conhecido do país incluiu o lançamento de dois mísseis de curto alcance no momento em que Kim viajava para a Rússia para uma reunião com o presidente Vladimir Putin.
A reunião alimentou os temores do Ocidente de que Moscou e Pyongyang assinariam contratos de vendas de armas.
Analistas acreditam que Moscou esteja interessada em adquirir munições norte-coreanas para a guerra na Ucrânia, enquanto Pyongyang deseja a ajuda russa para desenvolver mísseis e satélites.
A viagem de Kim "e o possível reforço da cooperação militar [com Moscou] indicam uma dedicação maior para virar uma grande potência nuclear", disse Yang Moon-jin.