A família de Muhammad'Ali Som Alerrandro Paolo Nicholas Poseidon Maciel Afonso, morto após levar uma descarga elétrica enquanto trabalhava na instalação de uma luminária na Arena Pantanal, em Cuiabá, no ano de 2014, ainda vive o pesadelo da perda. Até hoje, eles não foram ao estádio e evitam passar pela região. “Foi uma Copa horrível e acabou”, disse Karoline, sobrinha do operário, em entrevista ao UOL.
A mãe de Muhammad'Ali, Eliana, nunca superou a perda do filho. Quase quatro anos depois, a chegada da Copa da Rússia volta a inflamar o sentimento de dor, que nunca se apagou. “A minha avó não superou a morte do filho. É difícil comentar sobre o assunto, mexe muito com ela. Agora, nesse período de Copa, vem lembranças tristes. Minha avó vive mais afastada", disse Karoline.
Dona Eliana e os dois filhos de Muhammad'Ali, que tinham sete e nove anos à época, receberam indenização. A Arena Pantanal, que o tio de Karoline ajudou a construir, não desperta o interesse da família. “É um assunto que morreu. Ninguém da minha família foi na Arena e ninguém tem curiosidade. Foi uma Copa horrível e acabou".
O caso
Às vésperas da Copa do Mundo de 2014, Arena Pantanal foi palco de um registro triste na manhã do dia 08 de maio. Um trabalhador do consórcio CLE (responsável pelas obras de TI) sofreu uma forte descarga elétrica no Setor Leste, onde eram feitos os retoques finais para a inauguração.
O operário tinha 32 anos, era de Cuiabá e no momento do acidente trabalhava com instalação de luminária sob uma escada de 40 centímetros. O acidente ocorreu no nível 2 do setor Leste, por volta das 10h30. Os médicos tentaram a reanimação por cerca de 40 minutos sem sucesso.
A Arena Pantanal já havia ocupado as manchetes de forma negativa em outubro de 2013, quando um incêndio atingiu parte do subsolo colocando em alerta os órgãos fiscalizadores como CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e Ministério Público. A suspeita de possíveis danos estruturais foi noticiada pela agência de notícias internacional Reuters em fevereiro deste ano.
Os laudos da Perícia Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso (Politec) apontaram que o circuito não estava energizado e o trabalhador não utilizava luvas de proteção: “A queimadura típica de passagem de corrente elétrica, localizada na mão esquerda da vítima, aliada à presença de pontos expostos dos condutos energizado em local próximo à posição onde seu corpo estaria, inferem que o trabalhador vitimado tocou com a mão esquerda sem luva de proteção (isoladora elétrica) em um desses pontos desencapados”.
O relatório do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) confirmou as causas da morte e voltou a responsabilizar a empresa para qual Muhammad’ Ali trabalhava: “Destacamos que se não houvesse desvio de função OU houvesse capacitação/qualificação do trabalhador OU se houvesse o uso de EPIs e EPCs adequados OU se houvesse dado a devida importância a choque elétrico para o cargo de montador nos programas de segurança da empresa (PPRA, PCMSO, PTS) OU usado um disjuntor tipo DR no quadro que alimenta o circuito que eletrocutou a vítima, infere-se que não teria ocorrido o acidente fatal”, afirmaram os auditores fiscais do trabalho.
Além disto, os peritos ainda destacaram no documento que o local não tinha iluminação adequada, além do fato do trabalhador não ser contratado para aquele tipo de serviço: “É inadmissível que nesse contexto encontrem-se infrações trabalhistas das mais básicas como as aqui verificadas, e que importaram na morte de um trabalhador em razão de responsabilidade única e exclusiva das empresas demandadas, em razão de sua negligência, demonstrando que não houve um cuidado mínimo com a segurança e saúde dos trabalhadores envolvidos na execução dos serviços na Arena Pantanal”, afirmou a procuradora do Trabalho Marselha Silvério de Assis