No sul da Faixa de Gaza, onde dezenas de milhares de palestinos se refugiam, Assem, morador do local, enfrenta um dilema diário: tomar banho ou poupar água para beber.
Dezenas de palestinos fazem fila em frente aos banheiros. Muitos deles não tomam banho há dias depois que Israel cortou o fornecimento de água, eletricidade e alimentos após o ataque mortal do grupo terrorista Hamas ao território israelense, em 7 de outubro.
"A água é um problema", diz Assem, que recebeu na sua casa em Khan Yunes "convidados" dos bairros de Rimal e Tal al Hawa que fugiram dos bombardeios israelenses no norte da Faixa de Gaza.
"Todos os dias pensamos em como economizar água. Se tomar banho, não bebe água", lamenta esse morador, que não revelou o sobrenome.
Ahmed Hamid refugiou-se há dias em Rafá, depois de ter fugido de sua aldeia, em Gaza.
"Faz dias que não tomamos banho e até para ir ao banheiro temos que esperar na fila", diz o pai de 43 anos.
Confrontado com a perspectiva de uma ofensiva terrestre contra o território palestino, o Exército israelense apelou no sábado aos civis do norte de Gaza, 1,1 milhão dos 2,4 milhões de habitantes do enclave, para que se refugiem no sul.
"Não há comida", e os preços dos poucos bens disponíveis dispararam, afirma Hamid. "A única coisa que encontramos foram conservas, atum e queijo. Sinto que sou um fardo pesado e não posso fazer nada."
Jornalistas da AFP viram milhares de pessoas nas estradas, assim como em Rafá e Khan Yunes, dormindo em jardins de hospitais, em escolas administradas pela agência da ONU para refugiados palestinos, Unrwa, ou hospedadas com parentes, amontoadas em pequenos apartamentos.
Desde o ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro, que deixou mais de 1.400 mortos segundo as autoridades, Israel reforçou o cerco à Faixa de Gaza, onde os bombardeios israelenses deixaram 2.750 mortos, segundo as autoridades locais.
Israel informou no domingo (15) que iria restaurar o abastecimento de água no sul da Faixa de Gaza. O município de Bani Suheila confirmou, mas não se sabe se isso ocorreu em todas as localidades do sul.
Mona Abdel Hamid, de 55 anos, refugiou-se com familiares em Rafá, mas depois tornou-se "convidada" em casas de pessoas que não conhece.
"Sinto-me humilhada e envergonhada. Não temos muitas roupas, a maioria delas está suja e não há água para lavá-las. Não há eletricidade, nem água, nem internet. Sinto que estou perdendo minha humanidade", disse ela.
Sabah Mousbeh, de 50 anos, encontrou refúgio na casa de uma amiga em Rafá com cerca de 20 familiares, incluindo o marido e a filha.
"O pior e o mais perigoso é que não temos água. Nenhum de nós tomou banho, porque a água é escassa", explicou.
Embora dezenas de milhares de pessoas tenham fugido para o sul do território, a força aérea israelense não parou de atacar certas regiões do sul.
No domingo, Rafá e Khan Yunes foram bombardeados.
"Vejam a destruição massiva. Dizem que há terrorismo aqui", grita Alaa al-Hams mostrando os escombros de um bairro atacado em Rafá.
"Onde está a humanidade de que falam? Onde estão os direitos humanos? Aqui são todos civis, não estão ligados a nenhum grupo, mas morreram [nos ataques]. Estão todos mortos", disse.
Entre as ruínas da sua casa em Rafá, Samira Hassab declara: "Para onde vamos? Onde estão os países árabes? Passamos a vida na diáspora. A nossa casa, onde viviam todos os meus filhos, foi bombardeada".
"Dormimos na rua e não temos mais nada", lamenta. "Minha filha está com câncer, não posso levá-la ao hospital e eu mesma sofro de hipertensão e diabetes."
Mesmo assim, ele se recupera e faz o sinal da vitória ao lado dos netos. "Não irei embora, aconteça o que acontecer, mesmo que morra. Pediremos pão aos vizinhos, mas não abriremos mão de um único grão da nossa terra."