Em julho de 2010, o presidente da patrocinadora do Fluminense, Celso Barros, foi firme com o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Não liberaria Muricy Ramalho para treinar a seleção.
E não aceitaria, de jeito nenhum, que ele comandasse o Brasil e o time ao mesmo tempo.
Era Barros quem mandava no clube.
A prioridade absoluta era a conquista do Brasileiro, que o Fluminense não ganhava havia 26 anos.
A postura firme deu certo. Cinco meses depois, o clube das Laranjeiras foi campeão deste país, quebrando o longo jejum.
Treze anos depois, o Fluminense, atual campeão carioca, fazia ótima campanha na Libertadores. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, diz ter a promessa de que Carlo Ancelotti assumirá a seleção em junho de 2024.
Enquanto isso, assustado pelos fracassos do interino Ramon Menezes, o dirigente decidiu chamar Fernando Diniz para assumir a seleção até Ancelotti chegar. Se ele chegar.
A postura do atual presidente do Fluminense, Mario Bittencourt, foi muito diferente da de Celso Barros.
Liberou, "com orgulho", Diniz para a seleção.
Mesmo com o Fluminense tendo a chance de vencer pela primeira vez a Libertadores.
O resultado tem se mostrado péssimo.
O treinador, que se vangloria de seus esquemas táticos extremamente ofensivos, quase suicidas, sabe que precisa de tempo para fazer suas equipes jogarem como pensa.
Do Fluminense mesmo, foi enxotado em 2019, depois de acumular decepções, fracassos, em um ano de trabalho.
Diniz foi oportunista e, mesmo sem estar acostumado com o ambiente de conquistas, só venceu um Carioca em 14 anos de carreira e aceitou a seleção.
Ele se sentiu pleno para dirigir o Brasil nas Eliminatórias e conduzir o Fluminense ao título da Libertadores.
Em uma das semifinais mais injustas da história da Libertadores, o Internacional massacrou o time de Fernando Diniz, que desperdiçou pelo menos quatro chances absurdas de chegar à decisão do torneio sul-americano.
E o Fluminense garantiu a sonhada vaga na final da competição que nunca venceu.
O jogo contra o Boca Juniors está marcado para o dia 4 de novembro.
O foco, é evidente, deveria ser todo nesse confronto.
Só que Diniz teve de esquecer o Fluminense por 11 dias, justo nesta reta final de preparação. E assumir a seleção, que já havia consumido tempo, para escolher, conversar com atletas e convocá-los para os jogos contra a Venezuela e o Uruguai.
Sob seu comando, a seleção havia vencido bem a fraquíssima Bolívia. Depois, ganhou de forma injusta do Peru.
Vieram as desilusões. Vaia e péssimo futebol no empate com a Venezuela, em Cuiabá, com direito a saco de pipoca na cabeça de Neymar.
Pior, ontem, na derrota para o Uruguai, por 2 a 0. O seu primeiro fracasso com a seleção, que fez o país, depois de 37 partidas, oito anos, voltar a perder nas Eliminatórias Sul-Americanas.
Com direito a só dois arremates para o gol uruguaio.
O Brasil se mostrou perdido, sem rumo, tenso, afobado, sem a menor estrutura tática. Com plano de jogo simplório, de tocar a bola na sua intermediária, para atrair os uruguaios e jogar nas costas dos laterais e volantes.
Marcelo Bielsa agiu com sabedoria. Segurou os uruguaios no meio de campo, deixou que Casemiro e Bruno Guimarães mostrassem toda a falta de capacidade de saírem jogando com qualidade. Sabia que o Brasil tinha dois laterais novos e limitados: Yan Couto e Carlos Augusto.
Neymar estava perdido entre os meio-campistas uruguaios. Enquanto Vinícius Jr., Rodrygo e Gabriel Jesus corriam sem rumo.
Diniz tentou fazer a seleção espelhar o Fluminense, com um meio de campo com ótima saída de bola, com Neymar aproveitando o privilégio reservado a Ganso, de apenas pensar o jogo, sem ter de marcar ninguém. Enquanto isso, do meio para a frente, movimentação liberada para os atacantes.
Só que o "dinizismo" exige muito tempo e treinos para ser executado.
O que aconteceu foi um caos tático. Os jogadores da seleção, que atuam de maneira completamente diferente na Europa, estranharam e nada renderam.
O resultado foi Fernando Diniz completamente envergonhado, constrangido, desgastado na coletiva de imprensa.
E absolutamente massacrado pela mídia de todo o Brasil.
É com esse espírito que ele retoma o Fluminense que, daqui a 17 dias, disputará a final da Libertadores da América, no Maracanã.
Antes disso, haverá os confrontos com o Corinthians, no Rio; o Bragantino, em Bragança Paulista; o Goiás, no Rio, no dia 25. O clube deverá ter suas partidas contra o Atlético Mineiro e o Bahia adiadas. E nove dias para trabalhar até a final da Libertadores.
O Fluminense é apenas o sétimo no Brasileiro, caso perca a final para o Boca Juniors, pois não tem a classificação assegurada na Libertadores de 2024. Por isso, não pode ficar desperdiçando pontos no Brasileiro.
Diniz sabe que, após a decisão da Libertadores, terá a data Fifa mais complicada desde que assumiu a seleção. Com dois jogos ainda em novembro. No dia 16, em Barranquilla, contra a Colômbia. E a atual campeã mundial, a Argentina, de Messi, no Maracanã, no dia 21. Jogos que serão dramáticos, depois dos vexames contra Venezuela e Uruguai.
E que não terão o foco total do treinador, por conta da Libertadores.
Ou seja, Diniz está completamente pressionado.
E dividido.
Passa por um dilema pesadíssimo do qual Muricy Ramalho escapou.
O Fluminense disse "não" à CBF e foi campeão do Brasil, em 2010.
Agora, o Fluminense paga o preço de ter dito "sim".
Tem um treinador questionado, criticado pelo péssimo trabalho na seleção.
E, sem o foco necessário, possível, decidirá a Libertadores.
A ambição desmedida de Diniz e a falta de visão da direção do clube põem em risco a chance de o clube ser campeão da Libertadores.
Demonstração de amadorismo, improvisação.
E as consequências podem ser péssimas.
Para o Fluminense e para a seleção brasileira...