Roberto Rackin, de 17 anos, passou a infância em Pirituba, na periferia de São Paulo. Nasceu com o pé torto congênito e, com apenas nove meses, passou por uma cirurgia. Os nove meses seguintes foram complicados por causa da fisioterapia e da imunidade baixa.
Mesmo assim, ele sempre teve contato com a dança, mas foi ter a primeira aula de balé aos oito anos, quando se mudou para um condomínio que tinha a atividade. Mas foi só por um ano. Ele se mudou novamente com a família e se afastou por cinco anos da arte.
Foi aí que veio a grande mudança de vida. Uma professora de dança, dona de uma escola, assistiu à uma de suas performances e deu bolsa integral para o jovem, que na época tinha 13 anos.
Rackin e sua mãe explicaram que ele tem uma limitação em uma das pernas por causa da cirurgia que fez quando bebê.
— A Paula Firetti, dona da escola que me deu a bolsa, disse que não tinha problema. Era só conhecer os meus limites. Comecei a praticar duas vezes por semana.
Não demorou muito para se destacar na escola e seu professor, Junior Silva, o ofereceu uma apresentação solo de balé contemporâneo. A obra foi bem em São Paulo e Rackin fez uma turnê por algumas cidades brasileiras para apresentar o número.
Aí veio a primeira viagem para o exterior. Em junho do ano passado, ele passou por uma seletiva para se apresentar no Valentina Kozlova Ballet Competition, em Nova York, nos Estados Unidos, uma das mais importantes premiações de dança do mundo.
— Ali já tive um choque de realidade porque é um País que trata a dança como algo fundamental e profissional, isso não temos aqui. Fiquei maravilhado com a cidade, com o trabalho. Fiquei em terceiro lugar, foi uma experiência incrível.
Já no final do ano, recebeu a notícia que tinha sido aprovado para participar do Tanzolymp, Festival de Dança de Berlim. Ele se apresentou no dia 15 de fevereiro com bailarinos de outros lugares do mundo. Ficou em primeiro lugar também na modalidade balé contemporâneo.
— Escolhi o balé contemporâneo porque ele significa justamente uma quebra dos paradigmas. Meu pé não me impede de nada disso, a minha cor, estatura, peso… fui uma desconstrução disso tudo, de conceitos. Fiquei muito feliz por ser negro, pobre e não me encaixar nos padrões que o mundo exige da dança. Fiquei muito feliz não só por esse prêmio, mas por tudo que a Alemanha me proporcionou.
As duas viagens foram custeadas por seus pais. Roberto se formou na Etec de Pirituba no final do ano passado e pretende continuar com a carreira de bailarino e os estudos da dança.