Em um movimento de protesto, indígenas da etnia Cinta Larga ocuparam pacificamente o prédio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em Juína nesta terça-feira (16.07). A ação visa pressionar as autoridades para obter respostas sobre a invasão de suas terras por membros da etnia Sabanê. Valdomiro Cinta Larga, um dos líderes do movimento, concedeu uma entrevista para esclarecer os motivos da ocupação.
"Uns 15 dias atrás, fomos pegos de surpresa pela invasão de nossa terra, no sentido de Vilhena, pelo povo Sabanê. Queremos explicações da FUNAI tanto de Brasília quanto das coordenações locais em Vilhena, Cuiabá e Cacoal. Precisamos de respostas desse órgão que responde pelos povos indígenas nessa região", afirmou Valdomiro.
Ele destacou que, até o momento, não houve contato direto com os invasores. "Estamos nos organizando para chegar ao local e aguardando respostas das autoridades. A área invadida tem aproximadamente 2 milhões e 200 mil hectares, e quase a metade dela foi retomada. Estamos revoltados com essa situação", acrescentou.
Valdomiro explicou que a ocupação é pacífica e que estão no local esperando uma resposta da presidência da FUNAI e dos órgãos competentes. Durante a entrevista, ele também protestou em sua língua nativa, traduzindo posteriormente. "Estamos aqui na FUNAI esperando respostas das autoridades competentes. Nossa terra foi invadida e a própria FUNAI demarcou nosso território. Queremos entender por que a FUNAI cedeu nossa área para os Sabane", questionou.
Em resposta ao protesto, a coordenadora da FUNAI em Juína, Marcela Munduruku, explicou que o órgão tem buscado manter o diálogo entre as populações indígenas da região. "Nosso papel inicial é manter o diálogo entre as populações aqui da região. O processo de demarcação do território dos Cinta Larga, iniciado em 2000 e finalizado em 2022, destinou parte do território deles no Parque Aripuanã para o povo Sabanê. Foi uma decisão de Brasília, e estamos tentando mediar essa situação", afirmou Marcela.
Ela ressaltou a complexidade do caso, mencionando que a falta de uma audiência adequada das duas partes levou a uma decisão judicial que desconsiderou a demarcação anterior dos anos 90. "Estamos tentando manter a paz, mas se Brasília não se manifestar e não der um posicionamento sobre o mandato de segurança para retirada dos Sabanê, será difícil segurar os Cinta Larga aqui", alertou.
O expediente na FUNAI em Juína foi suspenso como parte do acordo com os manifestantes. Marcela informou que a coordenação regional está atendendo nove povos indígenas e que muitos já demonstraram apoio ao protesto dos Cinta Larga. "Nosso papel é atender a população indígena da nossa região, garantindo seus direitos sobre o território e modo de vida. Estamos aguardando uma resposta da procuradoria em Brasília sobre a expedição do mandato de segurança", concluiu.