Com uma fila de aproximadamente 77 mil brasileiras e um tempo de espera que pode ultrapassar 80 dias em alguns lufares, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda enfrenta grandes desafios na oferta do principal exame de detecção do câncer de mama. O alerta é do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), que no Outubro Rosa lançou a iniciativa “Radiologia Solidária”, campanha que oferecerá milhares de exames gratuitos para mulheres de baixa renda em diversas cidades do Brasil.
A presidente do CBR, Cibele Carvalho, explica que, se realizada em tempo hábil, a mamografia permite a detecção precoce de alterações mamárias, aumentando as chances de tratamento bem-sucedido e reduzindo a necessidade de intervenções mais invasivas e onerosas. “Dar acesso ao exame de mamografia pode salvar vidas e também otimizar recursos, ao evitar tratamentos de estágios avançados, que são mais caros e desgastantes para os pacientes e o sistema de saúde”, disse.
Os dados, obtidos via Lei de Acesso à Informação, utilizam o ano de 2023 como referência para o cálculo do tempo médio de espera. Já o número de pacientes aguardando os procedimentos é baseado em dados de junho de 2024. Na análise do CBR, os números revelam parte da sobrecarga no SUS e devem ser levados em conta, especialmente pelos recém-eleitos nas Eleições Municipais, na formulação e manutenção de políticas de saúde pública.
Subnotificação – De acordo com a análise do CBR sobre os dados do Sistema de Regulação (SISREG) do Ministério da Saúde, a fila de espera por mamografias pode ser ainda mais longa do que o indicado. Isto porque o SISREG, plataforma que deveria registrar em uma fila única as demandas por cirurgias eletivas no País, depende de dados fornecidos voluntariamente pelas secretarias de saúde estaduais e municipais.
Um exemplo dessa discrepância pode ser observado no Distrito Federal, onde o sistema nacional informa uma fila de espera de 306 pacientes aguardando pelo exame. No entanto, dados divulgados pela imprensa local, baseados no Mapa Social do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPTDF), apontam que o número real de mulheres à espera de uma mamografia é dez vezes maior, alcançando 3.600.
Na análise por Unidade da Federação, Santa Catarina está no topo do ranking com cerca de 17 mil mulheres aguardando por um exame de mamografia, seguida de São Paulo (15 mil) e Rio de Janeiro (12,5 mil). Os três estados somam 56% do total de pacientes em espera informados ao Ministério da Saúde.
Fila de espera – A disparidade entre as regiões e o tempo médio de espera é uma outra preocupação para os radiologistas, que apontam a necessidade urgente de intervenções eficazes e políticas públicas capazes de reduzir as filas e garantir acesso equitativo ao diagnóstico. “As autoridades de saúde devem buscar soluções imediatas para diminuir as filas e assegurar que o tempo de espera não comprometa o diagnóstico precoce e o tratamento adequado do câncer de mama”, explica Luciano Chala, Coordenador da Comissão de Mamografia do CBR.
Ele lembra que, segundo o último relatório do Instituo Nacional de Câncer (INCA) sobre o Controle do Câncer de Mama no Brasil, longos períodos entre a solicitação do médico e a emissão do laudo podem dificultar a adesão da população ao rastreamento. “Em 2023, 48,8% das mamografias de rastreamento tiveram laudos liberados em até 30 dias após a solicitação do exame. Cerca de 36% dos laudos, por outro lado, foram liberados com mais de 60 dias, o que pode indicar a necessidade de melhorias do processo para agilizar o retorno para a mulher, de modo a reforçar a confiança e o vínculo com o programa”, aponta o estudo.