Condenada a 39 anos de cadeia por ajudar na morte dos pais, em 2003, Suzane von Richthofen deixou a penitenciária de Tremembé hoje cedo, 8, para passar dez dias ao lado do noivo, Rogério Olberg. Como tudo na vida de Su – apelido dado pelas colegas de prisão – envolve polêmica, sua saída temporária não poderia ser diferente. Ela já cumpriu um sexto da pena e é considerada uma presa exemplar. Com esses predicados, ela já tem direito de progredir para o regime aberto. Ou seja, Suzane poderia ficar livre, leve e solta desde já. Poderia. Apesar de o seu alvará de soltura definitivo estar neste momento sobre a mesa, esperando a assinatura da juíza da 1ª Vara de Execuções Penais de Taubaté, Wania Regina Gonçalves da Cunha, o promotor que acompanha a execução da pena de Suzane, Paulo de Palma, quer que a detenta seja submetida ao teste de Rorschach antes de ela ir para casa definitivamente. O resultado do teste revelará traços marcantes da personalidade de Suzane e responderá principalmente a seguinte pergunta: ela seria capaz de cometer novamente um assassinato?
Como Suzane já foi submetida ao Rorschach há quatro anos, a juíza Wania Regina dispensou o novo teste, mas o Ministério Público recorreu a instâncias superiores para que a Justiça não dê alforria à criminosa sem a aplicação do exame, conhecido também como teste do borrão. O impasse continua. Se Suzane ganhar essa batalha nos próximos dez dias, ela pode não voltar para a cadeia. Em 2014, segundo documentos anexados ao processo de execução penal da detenta, o teste do borrão atestou que ela é dotada de “egocentrismo elevado” e “agressividade camuflada”, além de ser “manipuladora, insidiosa e narcisista”.
Suzane saiu da cadeia com as unhas pintadas de vermelho e radiante sob uma garoa fina. Ao se deparar com jornalistas, fechou a cara. Ruiva e magra, vestia blusa verde-bebê e calça jeans colada no corpo, ressaltando as formas do quadril. Seu noivo chegou às 6 da manhã e ficou sob a chuva à espera da amada, que só saiu da prisão às 8h50. Não se beijaram, mas se deram às mãos e partiram em carro popular de Tremembé até Angatuba, a 362 quilômetros do presídio. No veículo, apesar de estar sozinha com namorado, Suzane seguiu no banco de trás, protegida dos fotógrafos pela película escura dos vidros. Em Angatuba, o casal de pombinhos costuma passear de mãos dadas pela praça central, tomar sorvete, namorar e bater ponto em cultos evangélicos das igrejas da cidade, que é pacata e tem 20.000 habitantes.
O crime
Suzane tinha 19 anos quando planejou e participou do assassinato de seus pais, Manfred e Marísia von Richthofen. Hoje tem 34. Pelo crime, foi condenada junto com o ex-namorado, Daniel Cravinhos, e com irmão dele, Cristian Cravinhos, que executaram o casal von Richthofen a pauladas na calada da noite, enquanto dormiam. Prestes a ganhar liberdade definitiva, ela vai trabalhar na Fábrica Recruta, uma confecção tradicional de Angatuba pertencente ao empresário Daniel Carneiro da Silva, que sonha em ser vereador na cidade. Mas Suzane planeja ter a própria confecção. O maquinário ela já ganhou do apresentador Gugu Liberato, mas a ex-esposa, Sandra Ruiz, o Sandrão, confiscou as máquinas porque não aceitou a separação, ocorrida há dois anos. Entraram num acordo: vão vender o presente e dividir o dinheiro.
VEJA conversou com colegas de cela de Suzane e agentes carcerárias do presídio onde ela cumpre pena. No quesito bom comportamento, ela parece imbatível, como mostram os depoimentos colhidos. “Ela está recuperada. Não sei porque a imprensa a persegue”, diz a detenta Maria das Dores, presa por tráfico. “Ela é uma santa. Meiga e atenciosa, dá conselhos amorosos e ensina inglês para as amigas”, diz uma agente carcerária sob a condição do anonimato. Paulo José da Palma, o promotor responsável pelo acompanhamento da pena de Suzane, por exemplo, diz que a jovem “foi elogiada em todas as prisões por que passou”. Com tanta resenha positiva, Suzane tem todas as credenciais para ganhar o mundo.