Academia Mato-Grossense de Letras pode se mudar para o interior do estado e deixar a Casa Barão de Melgaço. Após mais de vinte ocorrências em cerca de três meses, os imortais discutiram, no último sábado (10), a possibilidade de mudança, e criaram uma comissão para tentar falar, pela última vez, com os gestores municipal e estadual.
A ideia foi dada pelo secretário geral da Academia, José Cidalino Carrara. Segundo ele, além dos assaltos, a causa está no “descaso, desdém, e falta de respeito dos gestores públicos com a Academia, não com os componentes da Academia, mas com a instituição em si”.
Desde outubro de 2017 já foram levados da Casa Barão até mesmo a fiação elétrica e os aparelhos de ar condicionado. “Depois que eu dei a ideia no último sábado, já recebemos três propostas de cidades do interior, que eu não posso divulgar ainda por uma questão de ética, que estão dispostas a sediar a Academia Mato-Grossense de Letras”, afirma Carrara. Segundo ele, a maioria dos imortais presentes na reunião concordou com a mudança, e a sugestão foi aplaudida.
Marília Beatriz, imortal e ex-presidente da AML, também lamentou todas as ocorrências que atingiram a casa. Segundo ela, quando estava na presidência, a Prefeitura disponibilizava um guarda para ficar na porta. “Não era suficiente, porque ele trabalhava um dia, e no outro tinha que descansar, o ideal seriam dois. Mas desde que eles entregaram a Academia de volta pra nós, em março, até quando eu saí da Presidência, em outubro, não teve nenhuma ocorrência”, lembra.
A ex-presidente afirma que será difícil encontrar um local para levar a AML, porque “ela fica na Casa Barão de Melgaço aqui, que foi a casa do Barão mesmo. Não tem outro lugar em que ele tenha morado”, lamenta. Segundo ela, o próximo passo, antes da mudança, será ir até o governador e o prefeito apresentar a situação e pedir por mudanças.
Carrara, no entanto, disse que não vai acompanhar a comissão nestes encontros. “Nós estamos com os ouvidos doendo de ouvir tantas promessas de governador, prefeito, secretário... Depois da proposta, decidiu-se formar uma comissão pra falar com o governador. Eu não irei. E falar com o prefeito. Eu não irei. Pra ouvir as mesmas promessas que ouvimos já 15, 20 anos?”.
Para que a Academia não saia da capital, a solução seria colocar guardas para cuidar da Casa Barão todos os dias. “Eu sou secretário geral, não tenho coragem de passar uma manhã lá! A noite ainda é pior! Que nos coloque um ou dois guardas, isso não custa nada pro estado, faz tanto convênio, não custa nada pegar uma empresa terceirizada e colocar um funcionado pra tomar conta”, afirma Carrara. “A nossa sorte é que bandido não gosta de livro. Temos uma riqueza, um patrimônio tão grande lá, e felizmente bandido não gosta de livro, assim como as autoridades tem medo, porque são ignorantes, e tem medo do conhecimento”, finaliza.
Obra parada
A obra de revitalização da Casa Barão de Melgaço, sede da Academia Mato-grossense de Letras (AML) e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IGHMT), demorou dois anos para sair do papel e ser entregue.
As obras começaram em setembro de 2015, e em fevereiro de 2017 a presidente da AML na época, Marília Beatriz, chegou a emitir uma notificação extra-judicial à prefeitura exigindo a entrega do prédio. As obras foram feitas em uma parceria do IPHAN com a Prefeitura de Cuiabá.
O valor total de investimento na restauração do edifício foi de R$690 mil. As obras foram feitas tanto na Casa em si, quanto na biblioteca e no arquivo dos acervos das duas instituições, que são as mais antigas do estado ainda em atividade. A Casa foi entregue em março de 2017.
A Casa Barão de Melgaço
A Casa Barão foi construída entre 1775 e 1777, e em 1843 passou a ser residência do Barão de Melgaço, um francês naturalizado brasileiro que recebeu o título de Barão de Dom Pedro I após defender o Brasil na Guerra do Paraguai. Ele também foi governador de Mato Grosso cinco vezes, historiador, geógrafo, pesquisador e escritor.
Após sua morte, a casa passou aos descendentes, e foi desapropriada em 1926. Quatro anos depois, em 1930, passou a ser sede da AML e do IGHMT. Foi ali, também, a primeira faculdade de direito de Cuiabá.