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Deficit de pediatras é de 50% em MT

Data: Domingo, 01/04/2018 16:15
Fonte: Gazeta Digital

Mato Grosso nao tem pediatras suficientes para atender cerca de um milhao de crianças com idade entre zero e 18 anos. Segundo a Demografia Médica 2018, sao 426 pediatras para todo o estado. O deficit de profissionais causa demora nas consultas, especialmente nas subáreas da pediatria. Em alguns casos, a fila de espera pode chegar a dois anos, como ocorre na neuropediatria, em que existe pacientes aguardando desde 2016 por uma consulta na Central de Regulaçao. A falta de atendimento pode agravar os problemas de saúde, causar lesoes permanentes e representa até mesmo risco de vida aos pacientes.

Secretário-adjunto de Políticas e Regionalizaçao da Secretaria de Estado de Saúde, Cassiano Falleiros confirma que o índice de cobertura pediátrica em Mato Grosso é a metade do que preconiza a Organizaçao Mundial de Saúde - que indica o mínimo de 20 médicos por 100 mil habitantes. Isso é um indicador de que há crianças que nao estao sendo assistidas e que falta acesso a saúde.

Com uma das maiores demandas e poucos médicos especializados, a neuropediatria é apontada como um dos gargalos, mas também sao poucos os pediatras especializados em cardiologia, cirurgia, genética e endocrinologia, entre outros. Para o gestor, como se trata de falta de médicos, nao há o que fazer para resolver a fila de espera por atendimentos especializados. “A criança é acompanhada por um pediatra geral, até que se consiga uma consulta com o especialista”.

Para melhorar o quadro, Cassiano aponta a necessidade de adoçao de várias medidas. Primeiro, ele considera necessário uma política educacional e de saúde pública voltada para a formaçao de mais médicos nas áreas em que há demanda. Também considera importante o estímulo para que haja mais programas de residencia médica (especializaçao) no interior, onde a situaçao é mais grave. Depois, diz ser necessário melhores condiçoes de trabalho e remuneraçao.

Enquanto isso nao ocorre, a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) nao anda para muitas famílias ou, quando anda, já pode ser tarde.

Foi o que aconteceu com o pequeno Leonardo, de seis meses. Prematuro, os problemas iniciaram ainda na maternidade pública, onde exames necessários nao foram feitos. Depois, a demora em conseguir um retinólogo resultou na perda total da visao do olho esquerdo, conforme conta a mae, a atendente de caixa Iara Ribeiro da Paz, 25. O diagnóstico foi recebido na semana passada, quando a criança passou por consulta médica com o especialista no Hospital Universitário Júlio Müller, em Cuiabá, depois de meses de peregrinaçao.

Abalada pela notícia, Iara acredita que se nao fosse a demora em conseguir um especialista, o filho nao perderia a visao.

Nesta semana, Leonardo vai passar por uma cirurgia no olho direito, na tentativa de recuperar parte da visao e evitar que fique completamente cego. Mas o procedimento nao é garantido. “É muito descaso. Agora o problema já está avançado. Se nao fosse a demora isso podia ter sido evitado”, desabafa.
Iara conta que teve muita dificuldade e ficou cerca de tres meses tentando conseguir um retinólogo para avaliar Leonardo. Como a família é de Terra Nova do Norte (647 km da Capital), mae e filho ficam hospedados na casa de uma prima, quando vem para Cuiabá. “Desde a primeira consulta o médico (de Terra Nova) falou que era urgente e precisava de cirurgia. O pedido foi para a Central de Regulaçao e lá ficou”.