Ao lado do Pará, na liderança dos estados que mais desmatam a floresta Amazônica no país, Mato Grosso também concentra os maiores números de ações do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama). Embora não pertença a região Norte, onde está distribuída a maior parte da vegetação, o Estado também faz parte da Amazônia Legal, apresentando singularidades na relação com floresta em comparação a vizinhos como o Pará, Rondônia e Amazonas.
Durante diálogo com jornalistas realizado na última semana, em Belém, o coordenador geral do órgão, Renê de Oliveira, falou ao Agro Olhar sobre algumas destas características, que mudam mesmo dentro do território mato-grossense.
De acordo com ele, na região central, da grande Sinop (480 km de Cuiabá) a pecuária se restringe às áreas que não são agricultáveis. Já na região Noroeste, entre Aripuanã (949 km de Cuiabá) e Colniza (880 km de Cuiabá), predomina a exploração madeireira em áreas que, em um segundo momento, acabam se tornando pasto. É a madeira ilegalmente extraída nessa região que normalmente financia a abertura de áreas de pastagem.
“São muitas áreas da união ainda não destinada e essas pessoas tem como meio de vida transformá-las em pasto. Neste caso, a maioria dos infratores vive em pequenas propriedades. No centro do Estado, por sua vez, o cenário é delimitado por grandes propriedades. A agricultura por si só diferencia o tipo de desmatamento”, diz.
Há que se considerar ainda que na região central do Estado a vegetação é caracterizada por áreas de transição entre cerrado e floresta amazônica. Logo, por não haver tanta madeira, a derrubada com correntão e tratores predomina. Nas regiões de floresta mais densa, mais ao norte, as características se assemelham se assemelham aos demais estados, ocorrendo com motosserra.
Embora não possua áreas vermelhas, Mato Grosso não tem motivos para comemorar
“Esse toco restante fica ali, sendo queimado ano a ano. Para a agricultura é difícil utilizar esse espaço, porque é preciso que ele esteja completamente limpo para plantar. Já para a pastagem não. Depois de desmatar e queimar, aviões lançam as sementes. O problema é um só, independente do motivo, o problema é estar na ilegalidade. Se agricultores e pecuaristas mantivessem a ideia de só desmatar o que é permitido, não estaríamos nessa situação hoje”, reforça.
Que somos grandes produtores, não se discute, sabemos que a terra e o clima são bons, mas tem que ter limite. Dizem que é preciso produzir. Ótimo. O Ibama não é contra o setor produtivo, pelo contrário. Nós também sobrevivemos disso. Somos contra a ilegalidade. Para que andar na ilegalidade, se é possível conseguir licenciamento e buscar a legalidade.
O que fica claro, contudo, é que ao setor não interessa a ilegalidade, que pode causar problemas como embargos judiciais, e sim adequar a lei a seus interesses. É o caso do código Florestal. A primeira versão, de 1965, foi alterada em 2012, inovando em algumas situações e mantendo outras.
“Alegar que mesmo na época da ocupação podia desmatar à vontade não é verdade. Há um descrédito à legislação ambiental. Alguns acreditam que as normas são difíceis de se cumprir, mas não é isso. É que ele não está conseguindo obter o lucro que desejava dentro das normas. Se tem legislação, tem que seguir, independente se é positivo ou negativo para sua atividade. ”