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Déficit de pediatras é de 50% em MT

Mato Grosso não tem pediatras suficientes para atender cerca de um milhão de crianças com idade entre zero e 18 anos. Segundo a Demografia Médica 2018, são 426 pediatras para todo o estado.

Data: Quarta-feira, 04/04/2018 09:02
Fonte: Olhar Cidade

Fila de espera por chegar a dois anos, como ocorre na neuropediatria, em que existe paciente aguardando desde 2016.

 

Mato Grosso não tem pediatras suficientes para atender cerca de um milhão de crianças com idade entre zero e 18 anos. Segundo a Demografia Médica 2018, são 426 pediatras para todo o estado. O deficit de profissionais causa demora nas consultas, especialmente nas subáreas da pediatria. Em alguns casos, a fila de espera pode chegar a dois anos, como ocorre na neuropediatria, em que existe pacientes aguardando desde 2016 por uma consulta na Central de Regulação. A falta de atendimento pode agravar os problemas de saúde, causar lesoes permanentes e representa até mesmo risco de vida aos pacientes.

 

Secretário-adjunto de Políticas e Regionalização da Secretaria de Estado de Saúde, Cassiano Falleiros confirma que o índice de cobertura pediátrica em Mato Grosso é a metade do que preconiza a Organização Mundial de Saúde - que indica o mínimo de 20 médicos por 100 mil habitantes. Isso é um indicador de que há crianças que não estão sendo assistidas e que falta acesso a saúde.

 

Com uma das maiores demandas e poucos médicos especializados, a neuropediatria é apontada como um dos gargalos, mas também são poucos os pediatras especializados em cardiologia, cirurgia, genética e endocrinologia, entre outros. Para o gestor, como se trata de falta de médicos, não há o que fazer para resolver a fila de espera por atendimentos especializados. "A criança é acompanhada por um pediatra geral, até que se consiga uma consulta com o especialista".

 

Para melhorar o quadro, Cassiano aponta a necessidade de adoção de várias medidas. Primeiro, ele considera necessário uma política educacional e de saúde pública voltada para a formação de mais médicos nas áreas em que há demanda. Também considera importante o estímulo para que haja mais programas de residencia médica (especialização) no interior, onde a situação é mais grave. Depois, diz ser necessário melhores condições de trabalho e remuneração.

 

Enquanto isso não ocorre, a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) não anda para muitas famílias ou, quando anda, já pode ser tarde.

 

Foi o que aconteceu com o pequeno Leonardo, de seis meses. Prematuro, os problemas iniciaram ainda na maternidade pública, onde exames necessários não foram feitos. Depois, a demora em conseguir um retinólogo resultou na perda total da visão do olho esquerdo, conforme conta a mãe, a atendente de caixa Iara Ribeiro da Paz, 25. O diagnóstico foi recebido na semana passada, quando a criança passou por consulta médica com o especialista no Hospital Universitário Júlio Müller, em Cuiabá, depois de meses de peregrinação.

 

Em muitos casos demora representa sequelas, como para o pequeno Leonardo que já perdeu totalmente a visão do olho esquerdo.

 

Abalada pela notícia, Iara acredita que se não fosse a demora em conseguir um especialista, o filho não perderia a visão.

 

Nesta semana, Leonardo vai passar por uma cirurgia no olho direito, na tentativa de recuperar parte da visão e evitar que fique completamente cego. Mas o procedimento não é garantido. "É muito descaso. Agora o problema já está avançado. Se não fosse a demora isso podia ter sido evitado", desabafa.

 

Iara conta que teve muita dificuldade e ficou cerca de três meses tentando conseguir um retinólogo para avaliar Leonardo. Como a família é de Terra Nova do Norte (647 km da Capital), mãe e filho ficam hospedados na casa de uma prima, quando vem para Cuiabá. "Desde a primeira consulta o médico (de Terra Nova) falou que era urgente e precisava de cirurgia. O pedido foi para a Central de Regulação e lá ficou".