Trabalhar, estudar, formar uma nova família. São diversos os motivos que levam as pessoas embora de suas terras natais. Cuiabá, por exemplo, recebeu e ainda recebe centenas de ‘paus rodados’, e, por outro lado, muitos dos cuiabanos de ‘pé rachado’ encontraram seu destino em outros lugares do mundo, ficando com a saudade da terrinha.
Farofa de banana (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)
Neste aniversário de 299 anos da capital mato-grossense, o Olhar Conceitoconversou com seis cuiabanos que não vivem mais aqui, para saber do que mais sentem falta onde vivem atualmente. Talvez não seja tão surpreendente: o pôr do sol e a farofa de banana ganham disparados. Veja os depoimentos:
Pôr do sol na Ponte Sérgio Motta (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)
Brasília – Brasil
A escritora Stella Machado se mudou para Brasília em julho de 2015, depois que se casou. O marido também é cuiabano, mas vive na capital federal desde criança por conta do trabalho de sua mãe. Atualmente, ela também trabalha com assessoria de imprensa.
"Cuiabá é uma saudade constante! Adoro Brasília e me adaptei muito bem a cidade, mas só em Cuiabá a gente encontra calor humano - e de temperatura! - em todo e qualquer lugar. Sinto falta de conhecer a pessoa hoje e em seguida já estar perto do meu novo melhor amigo. As pessoas são abertas, amorosas e gostam de confiar. O povo cuiabano é um dos mais dispostos a fazer amizade que eu já conheci. E posso dizer que alguns dos amigos mais próximos que eu tenho aqui são cuiabanos que vieram para o DF. Também sinto falta de estar pertinho de cachoeiras, da Chapada e da natureza que a gente só vê aí. E, com certeza, sinto saudades imensas da farofa de banana, já que até hoje não encontrei nenhuma por aqui que chegue aos pés da cuiabana!"
Stella e seu marido no 'eixão', avenida principal de Brasília que fecha aos domingos (Foto: Arquivo Pessoal)
Boston - EUA
Andreia C. Maroto Picanço tem 27 anos, e há um e meio está em Boston, “servindo a Deus”. Formada em design de interiores, nos Estados Unidos ela trabalha como nanny (babá).
“Eu vim em 2014 pela primeira vez, pra fazer Seminário Pastoral da minha igreja, na Flórida. Voltei para Cuiabá depois de quase dois anos. Após seis meses, vim pra ajudar a implantar uma igreja aqui em Boston, e aqui estou servindo a Deus, já tem um ano e meio.
O que eu mais sinto falta na minha cidade, em primeiro lugar, é a minha família que mora aí, claro. Aquele aconchego de casa, de estar na minha cidade, onde vivi a maior parte da minha vida. E em segundo a comida. Com certeza a comidinha brasileira (cuiabana) e os temperos são os melhores. Sou apaixonada por Maria Isabel e o peixe de água doce, que por aqui não é muito comum”.
Foto: Arquivo Pessoal
Gold Coast - Austrália
Erni Ficagna foi para a Austrália para estudar e trabalhar, e vive atualmente em Gold Coast, aproximadamente 1200km da capital, Canberra.
“Sinto muita falta de tomar um cerveja na praça da mandioca, de escutar um samba no Choros e Serestas e comer uma ventrecha de pacu na comunidade São Gonçalo Beira-Rio”.
Foto: Arquivo Pessoal
São Paulo – Brasil
Isadora Veloso é daquelas que amam Cuiabá e que nunca pensaram em sair daqui. Depois de fazer mestrado em Portugal, no entanto, ficou noiva e foi embora para a capital paulista, enfrentar a ‘selva de pedra’.
"Eu nunca tive em mente deixar Cuiabá. É uma cidade que eu sempre amei, nasci e fui criada, mas por percalços da vida, laços e outras ligações me fizeram ter que deixar a capital. Eu amo muito Cuiabá, amo o calor, as pessoas, a hospitalidade, amo a comida e é uma cidade que eu sinto muita saudade, principalmente pelas pessoas que eu deixei aí, minha família, pelos amigos, mas acho que hoje, estando em São Paulo, uma coisa que eu sinto muita falta é o sorriso do povo cuiabano. A alegria, a questão de todo mundo falar com todo mundo na rua, a hospitalidade, pra mim isso é uma coisa que super me marcou, na minha vivência toda em Cuiabá. Simpatia. Eu acho o povo cuiabano muito simpático e isso realmente me dá muita saudade, você estar na rua, e de repente você está conversando com um desconhecido e aquele desconhecido já vira um colega, e tudo mais.
Outra coisa que eu sinto muita falta é a comida. A moqueca, o peixe, o pirão, o bolo de arroz, a comida em si é simplesmente fantástica. E eu acho que a última coisa que eu diria que eu sinto saudades é o pôr do sol. É fantástico. Aquele céu meio laranja, que de repente está vermelho, de repente está amarelo... é lindo! E também as estrelas. Em São Paulo a gente não vê estrelas no céu, é uma cidade muito grande. E em Cuiabá a gente vê. E eu sinto saudades de conhecer todo mundo também, de você ir ao supermercado e dar oi pra cinco pessoas!"
Isadora em São Paulo (Foto: Alexandre Alvares)
Lauro Justino, estilista, também é apaixonado pela capital mato-grossense, e leva isso até mesmo em sua pele, com uma tatuagem escrito “I <3 CPA”, bairro onde nasceu e foi criado. Para alçar novos voos, foi embora para o Rio de Janeiro, e depois se mudou para São Paulo, onde vive atualmente e trabalha com importantes marcas brasileiras.
Tatuagem feita por Lauro em homenagem ao bairro onde nasceu (Foto: Lauro Justino)
"Nossa, são tantas coisas pra sentir saudades. Primeiro de tudo, saudade de casa e do colo de mamãe. Saudades do pôr do sol que é o mais lindo que já vi até hoje, sem brincadeira nenhuma. Saudades do bolo de queijo da dona Eulália, saudades do guaraná da prainha, saudades do pastel com suco de laranja, aquele do lado da matriz. Saudade da peixada da minha avó, saudades do sorvete da Nevaska (morango com laranja, meu preferido). Saudades até do ar condicionado da Riachuelo em dias de muito calor!"
Lauro Justino (Foto: Arquivo Pessoal)
Estetino (Szczecin) – Polônia
Luiz Vieira nasceu em Cuiabá em 1991, e morou na capital até 2015. Mudou-se para a Polônia em um intercâmbio pela Ong AIESEC, para fazer trabalho voluntário em escolas, e acabou encontrando oportunidades de emprego e estudo. Hoje, tem visto de moradia e trabalho.
"O que mais sinto saudade, sem duvidas é a comida. Mujica, ventrecha, pirão, farofa de banana! Única coisa que consigo fazer é farofa de banana. Compro banana comum no mercado e a farinha eu levo. Aí faço a farofa de banana.E a saudade de pessoas: meu pai e minha mãe. Meus amigos que a maioria mora aqui. Agora estou por aqui, para passar umas semanas de férias. Passear, comer mujica e curtir minha família e amigos". [Entrevista dada em 21/2/2018].
Em Szczecin, no Festival da Corrida de Barcos no ultimo verão (Foto: Arquivo Pessoal)
E você, também está fora de Cuiabá? Então conta pra gente, nos comentários, do que mais sente falta!