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Mãe de menino que teve membros amputados se desdobra na criação de cinco filhos e usa igreja como casa

Data: Segunda-feira, 16/04/2018 09:31
Fonte: Olhar Direto

Na região norte de Cuiabá, em uma salão, que anteriormente servia como igreja, a família do pequeno Fábio Henrique Santana, de 3 anos, mora. Ao chegar à calçada, uma criança brincalhona e sorridente. Trata-se de Fabinho, que logo percebe a aproximação de estranhos e fica retraído.  A mãe Ângela Regina explica: “Quando ele estava no hospital, às enfermeiras pegava ele para tirar sangue, então sempre que chega alguém estranho, ele pensa que vai ser furado”.

Fabinho foi vítima de meningite bacteriana e sofreu a amputação dos dez dedos das mãos e das pernas no início de 2017. A família mora no bairro Novo Paraíso II. Na casa, além do pai Mayckon Andrade, moram Ângela, Fabinho e mais quatro crianças, uma de 14, uma de 11, uma de sete anos e um bebê de um ano e oito meses. O pai das crianças não possui estudo, mas atualmente está em período de experiência na função de serviços gerais.
 
Ângela não possui emprego e dedica suas 24 horas diárias a criação dos filhos. Desde que sofreu amputação, por conta da meningite bacteriana, Fabinho precisou passar por fisioterapia. Em janeiro de 2017, quando tinha um ano, Fabinho contraiu meningite bacteriana, ao retornar de viagem do interior de Mato Grosso, onde foi passar final de ano na casa de parentes.
 
Na data de 11 de janeiro, ele apresentou um quadro febril. No dia seguinte foi levado por sua mãe, para uma unidade de pronto-atendimento, mas voltou para casa com um diagnóstico de gripe. Sem apresentar melhoras, e com ajuda de um amigo da família, o menino foi levado às pressas para a Policlínica do Verdão onde, mediante a suspeita da doença, foi internado e transferido em estado gravíssimo ao Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC). Além da meningite, ele também apresentou quadro de pneumonia. “Eles me disseram que ele tinha 24 horas de sobrevivência, e se o remédio não fizesse efeito ele poderia morrer”, disse a mãe.  
 
Fabinho permaneceu alguns dias em isolamento na Unidade de Terapia Intensiva, e até chegou a cair da maca. No período que permaneceu internado, a criança teve duas paradas cardíacas e febre de 45º graus Celsius, que ocasionaram em varias queimaduras pelo corpo.
 
Diante da manifestação rápida da doença, no dia 14 de fevereiro Fabinho amputou parte das duas pernas. Segundo a mãe, “Já estava podre”. No dia 21 do mesmo mês, houve a amputação dos dez dedos das mãos. “Se não amputasse, a meningite poderia deixar sequelas neurológicas, ou ele poderia ir a óbito”, completou.


 Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

“Eles perguntaram o que queria. Ele tinha chances de sobreviver, mas com as amputações. Como eu queria ver meu filho vivo, eu ia cuidar dele assim”, prometeu. Apesar das amputações, que sofreu há um ano, hoje Fabinho possui independência em diversas atividades do dia a dia. Ao escovar os dentes, comer e tomar banho ele recusa qualquer tipo de ajuda da mãe.
 
Conforme a mãe, Fabinho sempre foi uma criança nervosa, mas após as amputações ele acabou se retraindo excessivamente. Por um longo período ele usou meias, onde os membros foram amputados, e se recusava a tirá-las até mesmo para tomar banho.

“Quando ele saiu do hospital, as pessoas iam visitá-lo, ele não deixava tirar as meias, até para tomar banho ele não queria que tirasse. Só tomava banho escondido de todo mundo. Ele ficou morrendo de vergonha, mas fomos conversando com ele, e tirando as meias aos poucos, até que um dia ele já não quis mais”.
 
Atualmente, Fabinho coleciona ‘amiguinhos’ na rua onde mora e costuma soltar pipa e até jogar bola. “Todo mundo vem brincar com ele, os rapazes vem jogar bola, pois vê ele sentado brincado, meu coração parte, mas ai todo mundo vem brincar com ele”, comemora.
 
Na expectativa
 
Eu um ponto alto do bairro, a residência que acolhe setes pessoas, se trata de um salão alugado, que foi construído para ser uma igreja. Sentado em um sofá na sala, enquanto Ângela apresenta a casa à reportagem, Fabinho assiste atento aos vídeos infantis em um aparelho celular, na companhia de seus irmãos. Os ‘cômodos’ são separados por panos e nos quartos improvisados, uma cama de casal e duas de solteiro acolhem a família. A cozinha de madeira, construída em cima de um pequeno matagal acaba atraindo ratos e aumenta ainda mais a vulnerabilidade de Fabinho e família.
 
Ângela ainda vive na expectativa de ter uma casa própria. Segundo ela, há um ano, durante uma visita do prefeito Emanuel Pinheiro, ele teria feito uma promessa, de uma casa. Conforme matéria vinculada no site da Prefeitura, Emanuel teria anunciado a elaboração de projetos sociais para que todos tenham oportunidade de serem atendidos pelo município. “Estou me solidarizando com a senhora, como mãe para que minha gestão possa fazer uma Cuiabá melhor para se viver”, disse ele, na ocasião. 
 
Anterior à visita do prefeito, um suposto secretário de Habitação, chamado Raul teria ido até a casa de Ângela para programar a visita. Dias depois, apareceram além de Emanuel Pinheiro, o ex- secretário de Cultura, Esportes e Turismo da capital, Renato Alsemo e o vereador Julio da Power.
 
“Estou na espera da minha casa, desde o ano passado que o prefeito prometeu para mim. Tem pessoas que acham que eu já estou morando na casa, mas não estou. Continuo pagando aluguel, passando necessidade, e espero que o prefeito tenha consciência e lembre-se de mim e do Fabinho, e de pessoas que estão à espera da casa”, afirmou. 

Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto
 
Mayckon estava desempregado há 10 meses, e casa já acumulava dois meses de atrasos na energia elétrica e na água.  Um dia antes de a reportagem visitar a família, um funcionário da concessionaria de energia já havia ido até a casa fazer o ‘corte’. Nos momentos de dificuldades, a família recorre ao auxilio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Às vezes eles recebem ajuda do pai e da irmã de Ângela, ou de outras pessoas que se comovem com a situação.
 
Em entrevista recente, Ângela disse que encontra dificuldades para conseguir emprego.  “É chato isso porque ás vezes a pessoa fala ‘tem um monte de criança e não quer trabalhar’, mas não é que a gente não quer, mas não me dão mesmo serviço, às vezes eu consigo um pouco de roupa para lavar, mas não é sempre”. Além disso, devido à timidez, Fabinho encontra dificuldades para se ‘familiarizar’ com outras pessoas. Contudo, como o marido não possui estudo, ele só consegue empregos na área de Construção Civil e serviços gerais.
 
Para ajudar Fábio, o contato pode ser feito com a mãe Ângela pelo telefone (65) 99223-7192 ou com a tia Franciane pelo telefone (65) 99315-7919.