Ao menos 100 integrantes do Movimento Sem Terra (MST) estão acampados no estacionamento da Justiça Federal, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Av. do CPA), em Cuiabá, desde as 9 horas da manhã desta quarta-feira (18). Na manhã de ontem, eles também percorreram as principais vias da capital, em manifesto a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e também para pedir justiça pelo massacre de Eldorado do Carajás, cometido em abril de 1996, no Pará.
Maria Alice, professora da Rede Estadual, viajou 176 quilômetros de Jaciara a Cuiabá para o ato. Ela explicou que além da prisão do ex-presidente e o massacre, existem outras pautas que estão sendo reivindicadas pelo grupo, no entanto, ela preferiu não revelar quais seriam.
No estacionamento, acomodados em barracas de acampamento, estão famílias, idosos e até crianças. Durante o dia, os ocupantes podem usar o banheiro do local, mas sob acompanhamento da segurança, que aguarda ao lado de fora. Contudo, diante do número de ocupantes fora do prédio, uma estrutura improvisada de lona também é usada como banheiro.
Durante a permanência da reportagem do local, Maria Alice tentou hastear uma bandeira do movimento em um dos mastros em frente ao prédio, mas foi impedida por um profissional da segurança, que “limitou” o espaço destinado aos ocupantes.
“É um espaço mínimo, recluso, onde não há espaço de reivindicar os seus direitos. Por que nossa bandeira não pode ser hasteada aqui? Se temos nossa bandeira, por que ela tem que ficar guardada ou escondida?”, questionou.
Ainda não há uma data estabelecida para a desocupação do lugar, mas o grupo possui estrutura para permanecer cerca de 20 dias. “A gente tem previsão de vinda, sempre, e nunca de volta”. A professora também ressaltou que parte dos ocupantes vem dos municípios da região sul mato-grossense.
Maria Alice também explicou que o movimento não possui um líder. “Não temos líder, todos são líderes. Estamos aqui em busca da mesma pauta. Todos nós somos líderes, mas cada um tem sua função.”, explicou.
Prisão de Lula
Decisão do dia 5 de abril do Supremo Tribunal Federal (STF) negou habeas corpus preventivo a Lula e permitiu que ele começasse a cumprir pena após encerrados os recursos no TRF-4. No fim da tarde do mesmo dia, o TRF-4 encaminhou ao juiz federal Sérgio Moro, na primeira instância, em Curitiba, o ofício com a autorização para a execução da pena. A prisão foi determinada às 17h de sexta-feira.
Lula foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido o imóvel no litoral paulista como propina dissimulada da construtora OAS. Em troca, ele teria favorecido a empresa em contratos com a Petrobras. O ex-presidente nega as acusações e se diz inocente.
Massacre
No dia 17 de abril de 1996, 155 policiais militares promoveram um dos maiores massacres contra camponeses do Movimento sem Terra, que acampavam na beira da estrada PA-150, na região de Carajás, no Pará.
Quase 70 pessoas ficaram feridas e 22 morreram. Os mortos apresentavam marcas de pólvora em volta dos furos das balas, indicando tiros à queima-roupa. Outros foram mutilados com facões e foices. O episódio que chocou o mundo ficou conhecido como o massacre de Eldorado dos Carajás - e é também lembrado como um exemplo de impunidade.
O ocorrido foi considerado o resultado mais contundente de uma ação violenta do Estado contra um grupo de manifestantes. Segundo líder do Movimento dos Sem Terra, em entrevista na época, os policiais roubaram alimentos, destruíram medicações e documentos foram queimados, com o objetivo de prejudicar também aqueles que sobreviveriam ao acontecimento.