Foi depois de passar fome e ver o filho de pouco mais de um ano chorar por não ter leite que o casal de venezuelanos Junior Enandes, de 21, anos, e Estefani Gregória Velasquez, de 17, resolveu deixar seu País de origem em busca de oportunidades e condições de vida.
Eles estão na Capital há pouco mais de três semanas e ainda não conseguiram a tão sonhada dignidade. Desde a quinta-feira (27), marido e mulher decidiram pedir emprego em um dos pontos mais movimentados da cidade - a Avenida do CPA. Ali eles passaram a empunhar cartazes feitos de pedaços de papelão nos quais apelam por uma oportunidade. "Preciso um trabalho pintar capinar fazenda (sic)", diz um dos cartazes.
O casal, que espera o segundo filho, não quer doações, mas sim a dignidade de poder adquirir o próprio sustento.
“Nós estamos aqui há pouco mais de três semanas. Estávamos passando fome na Venezuela. Meu filho não tinha nem leite para se alimentar. Nós não queremos nada de graça, mas sim a oportunidade para viver e nos sustentar com o fruto do nosso trabalho”, afirmou Estefani.
A crise na Venezuela fez crescer o número de refugiados em busca de oportunidades no Brasil. A família chegou a Mato Grosso no dia 6 de abril junto com mais de 70 venezuelanos, no Boeing 767 do Esquadrão Corsário (2º/2º GT), da Força Aérea Brasileira (FAB), que veio de Roraima.
Eles estão Pastoral do Migrante, onde recebem apoio com a alimentação, vestuário, atendimento médico e social até que possam se estruturar. Junior, que era ajudante de pedreiro na Venezuela, busca por qualquer oportunidade na área braçal.
“Ele era ajudante de pedreiro. Sabe pintar, capinar, trabalha na roça ou de caseiro em chácara. Buscamos qualquer oportunidade. Só precisamos de uma oportunidade”, pediu Estefani. O marido não quis dar entrevista, nem mostrar o rosto.
As pessoas que puderem ajudar poderão encontrar a família na Avenida do CPA, durante todos os dias, ou procurá-la na Pastoral, na Avenida Gonçalo Antunes de Barros, casa 2785, no Bairro Carumbé. Eles não tem telefone para contato.
“Estaremos aqui na rua todos os dias até que encontremos um emprego para meu marido”, afirmou.
Família na Venezuela
Conforme explicou Estefani, parte do dinheiro obtido será enviado para a família na Venezuela.
“Tenho muitos irmãos, meus pais, meus sogros, cunhados que precisam de ajuda. A situação lá é muito complicada. Do dinheiro que ganharmos aqui, parte será enviada para nossas famílias”, disse.
Ainda conforme a jovem, assim que estiverem em uma situação boa, ele pretendem voltar para casa.
Dois dias na rua
A jovem venezuelana contou que há três dias eles passaram a ficar na rua, na tentativa de acelerar a independência financeira da família. Estefani contou ainda que desde que estão ali várias pessoas passaram e deixaram dinheiro, comida e até água, mas que essa não é a intenção deles.
“Nós viemos para cá na tentativa de acelerar a nossa independência. Precisamos de uma ajuda para que Junior consiga emprego. Várias pessoas passam e deixam dinheiro e até mesmo alimento, mas a nossa intenção aqui é de pedir emprego. Junior já conseguiu uma diária com uma pessoa que viu nossa placa, mas precisamos de algo mais duradouro”, completou.
O bebê de pouco mais de um ano passa o dia com eles na calçada. Estefani explica que a Pastoral está lotada e, como não conhecem ninguém na cidade, foram obrigados a levar a criança.
Muito tímido, Junior preferiu não dar entrevista, mas afirmou a reportagem que o sonho dele é não ter que ver seus filhos passar necessidade como passaram na Venezuela.