Instituto Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune) repudiou em carta aberta o ataque racista sofrido pela fotógrafa Mirian Rosa, de 32 anos, chamada de crioula maldita e outros xingamentos por um homem em áudios no WhatsApp.
Mirian registrou boletim de ocorrência na quarta-feira (2), após receber os áudios na terça-feira (1º).
Nas mensagens dirigidas à ela, o homem é agressivo e ofensivo. Entre os inúmeros xingamentos, a chama de crioula maldita.
“Desde quando preto é gente? Vou falar uma melhor: quem é você na fila do açougue? Eu vou responder para você: pobre não come carne. Então, nem na fila do açougue você entra, crioula maldita”, diz o homem num dos áudios.
O autor do racismo teria usado o telefone celular de uma antiga amiga dela para gravar os áudios. A partir da denúncia da vítima, o crime deve ser investigado pela Polícia Civil.
"Este senhor violentou não somente uma mulher negra, mas à coletividade destas mulheres que, como Miriam, são trabalhadoras e ganham a vida, compondo, hoje no Brasil, a maioria entre as chefes de família", diz trecho do documento.
Ao G1, Mirian afirmou que conheceu o autor das mensagens por meio de um grupo de amigos dela, mas não teve nenhum contato com ele depois dessa reunião.
“Ele saiu com uma amiga em comum e sentamos juntos em um bar. Vi que ele ficou incomodado com a minha presença, mas no dia não passou disso”, contou.
As mensagens racistas chegaram até Mirian depois que ela ignorou um áudio da antiga amiga. No áudio, a mulher criticava o cabelo da fotógrafa.
Em seguida, outros áudios do homem foram encaminhados. Neles, ele chama a fotógrafa de escrava e pergunta qual o preço dela no mercado.
"Fazemos parte da constituição da história e da memória deste país. Somos construtoras de história, ainda que muitos não gostem de admitir. Exigimos o mínimo (ou melhor, o máximo) respeito", diz parte da carta.
Ainda no documento, o movimento cobra:
Mirian contou que essa não é primeira vez que é vítima de racismo. Em outra situação, o vendedor de uma loja da região central a ofendeu. “Não consegui mais passar perto do local. Fiquei três semanas doente em casa”, disse.
O ataque recente a fez relembrar a situação.
“As outras vezes eu deixei passar, mas esse mexeu muito comigo. Achei que fosse passar por tudo de novo. E, basicamente, por alguém que se acha superior por causa da cor da pele”, declarou.