Em meio a dezenas de comércios na movimentada Avenida Isaac Póvoas, mais precisamente entre as ruas Comandante Costa e Barão de Melgaço, está a residência de dona Maria Benedita Martins de Oliveira, mãe do ex-governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira. Aqueles mais observadores já devem ter notado que os portões da casa estão quase sempre abertos. E isso é não é por acaso. O local é um ponto de encontro de amigos e familiares que, ao longo do dia, sempre passam por lá para tomar um café, conversar ou dar um abraço em sua moradora mais ilustre.
Muitos desses abraços ela recebeu (ou voltou a receber) no feriado de 1º de Maio, quando celebrou seu 97º aniversário. Além do afeto e carinho de todos aqueles que a cercam, dona Maria revela outro segredo para a sua longevidade: a fé.
“Graças a Deus fui criada com uma mãe muito católica e a fé me segurou até hoje. Muita fé em Deus e em Nossa Senhora. Com muita fé consegui criar os filhos, enfrentar a vida, que não foi fácil. Mas a graças a Deus consegui viver muito bem”, disse ela à reportagem do MidiaNews.
Nesta semana, foi a nossa vez de ir até aquela casa onde dona Maria mora desde o ano de 1963, quando se mudou em definitivo para Cuiabá. Ela, que é cuiabana, passou parte de sua infância no município de Poconé (101 km de Capital), onde sua mãe, a professora Francisca de Arruda Martins, dava aulas.
Muito lúcida e comunicativa, dona Maria nos contou parte de sua vida que se mistura também à história de Mato Grosso e à da política local.
Aos 21 anos, ela casou-se com o advogado Sebastião de Oliveira, mais conhecido como doutor Paraná, que chegou a ser deputado constituinte. Dessa união nasceram sete filhos: Iolanda, Lúcia, Inês, Eneida, Bernardo, Armando e Dante. Mais à frente, ainda vieram 17 netos e 34 bisnetos, para os quais ela é exemplo.
Ao longo da conversa, foi possível perceber a emoção de dona Maria ao falar de seu filho mais “famoso”, que morreu em 2006, aos 54 anos de idade. E é possível dizer que a história de Dante de Oliveira, que ficou conhecido nacionalmente por ser o autor da proposta de emenda constitucional que restabelecia as eleições diretas para Presidente, poderia ter sido totalmente diferente.
Dona Maria confessa que ela e o Doutor Paraná foram contrários à entrada de Dante na política, embora aquele fosse o caminho que ele dizia que iria seguir desde muito jovem.
“Quando ele se candidatou a vereador, nem eu, nem o pai dele, queríamos que ele seguisse carreira política. Não ajudamos ele em nada, nada, nada e ele não foi eleito”, disse ela.
“Depois vimos que ele queria mesmo ser político, e aí a gente colaborou. E buscamos orientá-lo sempre. O orientamos para ser um político sério, correto, trabalhar pelo Brasil, por Mato Grosso. E assim ele foi em frente e conseguiu continuar sua vida política”.
Perdas e tristeza
Quis Deus e o destino que Dona Maria, por três vezes, enfrentasse a dor de perder um filho.
“Graças a Deus, Dante fez um bom governo, fez uma bonita carreira. Infelizmente, ele morreu muito cedo. Foi um momento muito difícil, muito, muito, muito. Eu já tinha perdido um filho com 29 anos, vítima de acidente. Minha vida foi de muito sofrimento. Perdi três filhos. Mas, seja feita a vontade de Deus”, afirmou ela, com os olhos marejados.
Dona Maria acredita que a ausência de Dante é muito sentida pela população de Mato Grosso. Reiteradas vezes ela diz encontrar pessoas nas ruas que a procuram para demonstrar o carinho que tinham pelo ex-governador.
“Até hoje as pessoas vêm me falar dele. Desde criança, ele sempre foi muito dado, gostava de ir à casa dos mais humildes, sentar e conversar. Como político a mesma coisa, ele chegava na casa das pessoas, ia na panela do sujeito, comia, tomava café. Acho que essa simplicidade fez com que as pessoas se simpatizassem com ele”, conta.
Mais que isso, para a mãe orgulhosa, o ex-governador deixou um vazio na política local.
“Ele sempre trabalhou com muito amor por Mato Grosso. Era um homem sério. Não era de fazer negociatas. Acho que o nome dele ficou gravado nas coisas sérias. Nunca ouvi comentar que ele fez coisas erradas. Era um homem honesto, correto, sério com o dinheiro público. Acho que isso em si já é muito importante”.
“Classe política caiu”
E é com tristeza que dona Maria fala sobre o cenário político atual. Ela diz ter a impressão de que as coisas mudaram muito nos últimos anos e para pior.
Da televisão, ela assiste aos noticiários que, dia após dia, expõem casos de corrupção no Estado e no país.
“Sempre acompanho as notícias e tudo que a gente vê é muito triste. A classe política hoje caiu de verdade. Não sabemos mais quem é sério. A gente pensa que determinado sujeito é sério, de repente aparece a safadeza”, disse ela.
A quase centenária também mostra insatisfação com a polarização do debate político. Diz que não concorda com o fato de as pessoas tratarem as divergências políticas de forma raivosa.
Mas, religiosa como já disse ser, ela não desanima. Diz que ainda acredita na política e afirma que a população deve buscar “ajuda dos céus” e refletir muito antes de depositar seu voto em determinada pessoa.
“Acho muito ruim essas brigas das pessoas por causa de política. As pessoas deviam se preocupar com o país, dar boas ideias para quem está governando, não ficar brigando um contra outro. Hoje tem muita anarquia. O Brasil ficou muito difícil”.
“Vamos ver o que vai dar e quem será eleito. A gente fica numa situação de nem saber em quem votar. Principalmente na parte federal, lá em Brasília. ‘Tá’ muita bagunça. Mas ainda acredito que tem gente boa. Acho que temos é que pedir força e orientação a Deus, ao Espirito Santo, pro povo saber votar, pra vermos se melhora esse país. Votar em quem não presta, não dá. Temos que saber escolher”, afirma.
E por falar em esperança na política, dona Maria já, inclusive, realizou seu cadastramento biométrico. Embora o procedimento não seja mais obrigatório para as eleições deste ano, ela se antecipou.
Por ora, ela diz que analisa os políticos que já se colocaram à disposição para concorrer à eleição em outubro. Um voto, segundo ela, é certo: seu neto, Leonardo de Oliveira, que recentemente se descompatibilizou da secretaria de Estado de Esporte e Lazer para tentar uma vaga na Assembleia Legislativa.
Dona Maria diz que vê em Leonardo um possível herdeiro político de Dante. “Acho até que ele tem bem o jeito do Dante. Ele sempre fala do tio com muito carinho. Espero que ele, na política, tenha a mesma postura do tio. Se assim for, será mais um orgulho”.
Segundo ela, não há como negar que a política está mesmo no sangue da família. Até mesmo a bisneta Maria Antônia, de 10 anos de idade, já tem projeto de lei na Câmara de Vereadores de Cuiabá, em parceria com o vereador Gilberto Figueiredo (PSB).
Por fim, dona Maria faz um apelo àqueles que estão na política: “Espero que possamos eleger pessoas boas, dignas e que melhorem o Brasil. Que sejam capazes de governar com dignidade e respeito ao povo”.