O clima adverso registrado nas principais regiões de produção de milho safrinha no Brasil permanece no radar dos investidores e segue influenciando o comportamento dos preços e o ritmo dos negócios. Em Mato Grosso, o corte das chuvas, normal para essa época do ano, tem preocupado alguns produtores e gerado dúvidas quanto à produtividade das lavouras, especialmente as cultivadas fora da janela ideal.
Com uma área próxima de 4,48 milhões de hectares semeados nesta temporada, a perspectiva é de uma produção de 25,99 milhões de toneladas, com rendimento de 96,3 sacas do grão por hectare, de acordo com último levantamento do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária).
“Apesar das áreas semeadas dentro da janela ideal ainda estarem apresentando bom desenvolvimento, há preocupações nas regiões Nordeste e Sudeste, onde houve maior atraso durante a fase de semeadura. Assim, apesar deste momento trazer boas oportunidades de negócios, também demanda cautela ao produtor dado as incertezas produtivas da safra”, destacou o Imea.
Esse é o cenário em Primavera do Leste, na região Sudeste do estado. “As lavouras de milho safrinha já apresentam perdas de 30% devido à falta de chuvas e as altas temperaturas. A região não registra precipitações desde o dia 15 de abril”, afirma o presidente do Sindicato Rural, José Nardes.
Com isso, a perspectiva é que o rendimento médio, acima de 100 sacas do grão por hectare, não seja alcançado nesta temporada. Paralelamente, os preços do cereal subiram na região e a saca é cotada entre R$ 25,00 e R$ 28,00. Até o momento, cerca de 35% a 40% da safrinha foi negociada antecipadamente.
O quadro é semelhante em Querência, no Nordeste mato-grossense. As lavouras do cereal não recebem chuvas há mais de 15 dias e as temperaturas oscilam entre 33ºC a 35ºC. E, devido ao atraso registrado na soja, cerca de 60% da safrinha foi cultivada fora da janela ideal, no final de fevereiro e no mês de março.
“Com certeza, nós não vamos conseguir atingir os patamares da safra passada, de mais de 100 sacas de milho por hectare, e não tem previsões de chuvas para os próximos dias”, explica o presidente do Sindicato Rural do município, Osmar Frizzo.
A situação também tem deixado os produtores cautelosos em relação à realização de novos negócios, apesar da valorização nos preços do milho. Atualmente, a saca do cereal é cotada entre R$ 22,00 a R$ 23,00 na região.
“Os produtores estão esperando a colheita para começar a vender, pois realizar novas comercializações pode complicar ainda mais a vida do agricultor”, pondera a liderança sindical.
Já em Canarana, as chuvas não se confirmam há mais de 10 dias e as temperaturas também permanecem elevadas. “O que plantou em fevereiro está escape, mas precisamos de chuvas para consolidar a produção nas lavouras tardias. E caso as chuvas não apareçam, poderemos ter perdas de produtividade”, informou o presidente do Sindicato Rural do município, Arlindo Cancian.
De acordo com informações do Imea, a região Nordeste poderá colher até 2,31 milhões de toneladas de milho nesta temporada. A projeção está abaixo do registrado no ciclo anterior, de 2,81 milhões de toneladas.
Médio-Norte
A região do Médio-Norte, que concentra a maior produção no estado, deverá colher mais de 11,52 milhões de toneladas nesta safra, ainda conforme projeção do instituto. O volume estimado também está abaixo do colhido na safra passada, de 13,24 milhões de toneladas.
Além do atraso no plantio observado em alguns municípios, a região também sofreu com chuvas acima da média ao longo do mês de março. “As chuvas acima da normalidade prejudicaram o florescimento do milho. Então, acreditamos que nessas áreas o rendimento não deverá ser excelente”, afirma o produtor rural de Tapurah, Silvésio de Oliveira.
Em contrapartida, as lavouras semeadas após o dia 20 de fevereiro precisam de chuvas nesse momento. “Temos 50% da safra escape na nossa região, mas os outros 50% necessitam de precipitações. O rendimento das lavouras não deverá alcançar o registrado no ano passado, acima de 100 sacas por hectare”, destaca o produtor.
Em relação aos preços, a saca também subiu na localidade para R$ 19,00 a R$ 20,00 a saca. Os agricultores têm realizado alguns negócios, porém, alguns travamentos foram feitos com a saca a R$ 15,00.
Na importante região produtora de Lucas do Rio Verde, em torno de 70% a 80% da safrinha de milho está escape. “O restante entre 20% a 30%, cultivados depois do dia 25 de fevereiro, ainda precisam de chuvas. Caso contrário, poderemos ter algumas perdas”, completa o presidente do Sindicato Rural, Carlos Simon.
A liderança sindical ainda reforça que as lavouras estão com aspecto pior do que o ano passado. Isso por conta das chuvas excessivas e da ausência de precipitações nesse momento. Ainda assim, o rendimento das lavouras pode ficar próximo do ano anterior, entre 100 a 105 sacas de milho por hectare.
A quebra na safra da Argentina e as incertezas quanto ao clima no Brasil também impactaram os preços na localidade. A saca do cereal é cotada entre R$ 21,00 a R$ 22,00 e os agricultores esperam para avançar na comercialização do cereal.
Situação semelhante é registrada em Ipiranga do Norte, onde as plantações sofrem com a estiagem há mais de 10 dias. “Temos 60% da safra escape, o restante ainda precisa de chuvas para consolidar a produtividade”, diz o presidente do Sindicato Rural, Valcir Batista Gheno.
Contudo, a perspectiva ainda é de uma produtividade próxima à registrada em 2017, de 110 sacas do grão por hectare. “Já os preços têm melhorado gradualmente, a saca é negociada entre R$ 19,00 a R$ 20,00 na região. Valores que começam a remunerar os produtores”, reforça Gheno.
Na região de Sorriso, grande parte das lavouras está definida. Isso porque, ao contrário de outras localidades, os produtores conseguiram realizar a semeadura dentro do melhor período, entre os meses de janeiro e fevereiro, conforme explica o presidente do Sindicato Rural, Luimar Gemi.
“Com a semeadura dentro da janela, temos esse cenário e com uma perspectiva de produtividade próxima a do ano anterior, de 112 sacas por hectare. Os preços voltaram a subir e, atualmente, a saca é cotada a R$ 20,00. Temos boas oportunidades aos produtores”, disse o presidente do Sindicato.
Oeste
Na região de Sapezal, as chuvas ainda não cortaram completamente. No último final de semana, as lavouras receberam entre precipitações entre 2 mm e 25 mm. “Temos uma situação mais confortável, com mais de 90% da safra escape. Entretanto, algumas plantações ainda precisam de chuvas”, pondera o produtor rural do município, Evandro Graeff.
O agricultor ainda reforça que algumas áreas apresentam perdas devido ao ataque de pragas, especialmente o percevejo e as lagartas. “A perspectiva é que o rendimento caia 5% nesta safra em função das pragas. No ano anterior, a produtividade chegou a 145 sacas de milho por hectare”, ressalta o produtor.