Em checagem de denúncia na Central de Atendimento de Direitos Humanos, disque 100, a Polícia Judiciária Civil resgatou, na sexta-feira (07.07) pessoas que viviam em condição análoga de escravo, na propriedade rural de um advogado em Colniza (1.065 km a Noroeste). Entre as vítimas, estava um deficiente físico e visual que vivia condições desumanas.
O advogado, R.M., 42, e o seu ex-sogro L.A.P.B., 72, responderão pelos crimes de sequestro e cárcere privado, redução a condição análoga de escravo, maus tratos e constranger alguém com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se da condição de superior hierárquico.
Após receberem a denúncia, os policiais da Delegacia de Colniza diligenciaram até a Fazenda São Lucas, de propriedade do advogado, na linha 36, km 09, sentido Guariba, onde encontraram o senhor J.P.R. , vivendo em um quarto com muito ratos e próximo ao chiqueiro. O local ainda funciona como depósito para armazenamento de produtos agropecuários, rações e ferramentas .
A vítima tem deficiência física e visual ocasionadas por acidentes de trabalho nas fazendas do acusado. O funcionário, que nunca teve carteira assinada e recebia apenas moradia e comida pelos trabalhos prestados, ficou cego do olho esquerdo devido um acidente de trânsito no ano de 2015 e amputou uma perna em razão de ferimento ocasionado quando apagava um incêndio na propriedade.
A vítima é portadora de Hanseníase e não sente dores no corpo. Há cerca de quatro meses os ratos que convivem no quarto roeram a perna da vítima enquanto ela dormia, e ao levantar percebeu as poças de sangue no colchão. Devido às deficiências, o lavrador não consegue fazer a sua comida e espera que outros funcionários da fazenda levem refeição para ele.
Os policiais constataram que na fazenda e há um banheiro adequado com sanitário e chuveiro adequado, porém os proprietários deixam trancado com cadeado e corrente, obrigando a vítima a tomar banho de mangueira atrás da casa, ou em uma lagoa onde divide o espaço com porcos, bois e cavalos.
De acordo com a vítima, seus documentos pessoais estão há cerca de um ano em poder do ex-sogro do patrão, supostamente para dar entrada em sua aposentadoria.
Na mesma propriedade, os investigadores conversaram com outra família que também trabalha sem carteira assinada. A filha do casal, de 13 anos, contou que por várias vezes já foi convidada pelo patrão para ter relação sexual com ele e a sua esposa. Segundo a adolescente, o advogado diz que por enquanto não vai força-la por ela ser menor, mas depois que ela completar 14 anos não passa.
Dando continuidade as investigações, os policiais ouviram testemunhas que afirmaram que em outras fazendas do advogado, existem outras pessoas vivendo na condição análoga a de escravo.
Diante das informações, o delegado Edson Ricardo Pick representou pela prisão preventiva de R. M. e pela prisão temporária de seu ex-sogro L.A.P.B., assim como pelo mandado de busca e apreensão em demais propriedades do suspeito. O ministério público encaminhou o procedimento para Justiça Federal.