Nascida no meio evangélico, a auxiliar administrativo Josiele Oliveira, 30, achava que não sentia prazer com o namorado, como castigo, por fazer sexo antes do casamento. Após o matrimônio, a vida sexual continuou ruim e ela achou que tivesse alguma doença. “Em dois anos de casada, tive de 15 a 20 relações sexuais”. Nesse depoimento, ela conta como descobriu sua sexualidade após a separação:
“Não me interessava por sexo na adolescência, meus pais nunca conversaram comigo sobre o assunto. Minha família é evangélica tradicional e, na igreja, a gente aprendia que tinha de casar virgem e constituir família. Eu entendia que sexo só servia para procriação.
As únicas informações que eu tinha sobre sexualidade eram as que eu ouvia de palestras na escola, como a importância de usar preservativo e orientação sobre as doenças sexualmente transmissíveis.
Perdi minha virgindade aos 24 anos com o meu primeiro namorado. Foi uma experiência ruim, mas como todo mundo dizia que era comum machucar e ter dor na primeira vez, pensei que fosse normal. Só que isso continuou acontecendo. Eu achava que sexo não era bom porque, segundo a igreja, ter relação sexual antes do casamento era pecado. Na minha cabeça, eu estava tendo uma espécie de castigo e por isso não conseguia sentir prazer.
Todos os exames mostravam que eu era saudável
Um tempo depois nos casamos e eu parei de ir à igreja. Imaginei que as coisas iriam melhorar, mas para minha surpresa nossa vida sexual continuou péssima. Durante a penetração, eu sentia muita dor. Eu achava que eu tinha alguma doença que não me deixava gostar de sexo, que não me permitia ter prazer. Todo mundo falava que transar era bom e gostoso e isso não acontecia comigo. Essa situação me deixava bastante angustiada.
Eu falava para o meu marido que não estava legal e ele dizia eu que tinha algum problema. Como eu tinha vergonha de conversar sobre o assunto com outras pessoas, resolvi procurar ajuda médica. Passei com ginecologista, sexólogo, fiz vários exames, tomei remédios para aumentar a libido e nada. Todos os exames mostravam que eu estava saudável.
Eu e meu marido ficamos meses sem transar. Em dois anos de casados, tivemos de 15 a 20 relações sexuais. Eu não sabia o que era preliminar, a gente só se beijava e fazia a posição papai e mamãe. Não havia carinho e a gente não se explorava. Nosso casamento foi se desgastando, tivemos vários problemas e nos divorciamos dois anos depois.
O primeiro orgasmo, aos 27
Um mês após a separação, me envolvi com um ex-colega de faculdade. Nossa primeira relação sexual foi boa, eu experimentei várias coisas que nunca tinha feito antes, como sexo oral, por exemplo. Esse encontro também foi bem marcante porque foi nele que eu fui saber o que era ter o meu primeiro orgasmo aos 27 anos. Foi uma libertação. Nunca tinha vivido e sentido aquelas coisas.
Contratei uma coach de sexo e fiz vários cursos
Depois dessa experiência, resolvi contratar uma coach de sexo, a Flaviane Brandemberg. Nos conhecemos na época em que eu era casada, nunca achei que fosse necessitar desse tipo de serviço. Na primeira consulta, contei para ela os problemas que eu havia tido com o meu ex, as crenças religiosas da juventude, a separação. Eu disse que queria me soltar mais e retribuir sexualmente o meu novo parceiro.
Participei dos cursos dela de strip-tease, pompoarismo, massagem tântrica, massagem com pérolas. Eu não conhecia a maioria das técnicas, mas à medida que fui aprendendo colocava em prática com o meu parceiro da época. Evoluí bastante.
Passar por esse processo de autoconhecimento me ajudou na minha sexualidade. Descobri prazeres em várias partes do meu corpo. Aprendi que eu posso me virar sozinha e que se o sexo estiver ruim eu posso dizer não. Sou uma mulher mais segura e confiante.
Infelizmente, ainda hoje, temos uma cultura e religiões que tentam pregar que a sexualidade da mulher tem de ser reprimida, que somente o homem pode gostar de sexo, mas eu não concordo com essa visão.
Parei de viver de aparência
Eu sou um exemplo disso, fiquei presa a um relacionamento que foi um desastre porque eu não tinha conhecimento, meu ex-marido não me dava o suporte que eu precisava, a religião me prendia e fui ensinada que casamento era para a vida toda e que eu tinha de ficar com a pessoa não importa o que acontecesse. Quando parei de viver de aparência e comecei a olhar para dentro de mim é que enxerguei quem sou e do que gosto. Não penso mais em me casar, quero construir uma família, adotar uma criança e ser feliz livre de crenças e imposições”.