A família do verdureiro Francisco Lúcio Maia, de 48 anos, que morreu atropelado pela médica Letícia Bortolini, de 37 anos, em Cuiabá, cobra punição à motorista, que responde pelo crime em liberdade. Nesta segunda-feira (14), o acidente completou um mês e o inquérito da Polícia Civil ainda não foi concluído.
Letícia Bortolini atropelou Francisco quando ele voltava do trabalho, fugiu do local do acidente sem prestar socorro, passou dois dias presa e teve a liberdade concedida pela Justiça, alegando ter um filho de 1 ano de idade para cuidar. Para a viúva da vítima, Maria do Carmo Cezário da Silva, a motorista deve pagar pelo que fez.
"A Justiça a soltou porque ela um filho pequeno. Ela tem só um filho e por isso não pode pagar pelo que fez, mas eu posso ficar com três filhas sem o pai delas", afirmou.
Desde a morte de Francisco, a rotina da família mudou. Maria do Carmo deixou o emprego de serviços gerais pra vender verduras no ponto que o marido trabalhou por 25 anos, no bairro Cidade Alta, na capital. Ela acorda às 3h para comprar verduras e revender no local, contando apenas com o apoio das filhas para manter o ponto.
Segundo Maria do Carmo, apesar da defesa da médica afirmar que ela ia dar toda assistência necessária à família da vítima, nenhum tipo de ajuda foi oferecida. Para as filhas, há provas suficientes sobre o caso para que a Justiça seja feita.
"Quero que provem para nós, que somos menos favorecidas financeiramente, que a Justiça também é feita com os ricos", disse Francenilda Lúcio.
Francisco Lúcio foi atropelado no dia 14 de abril deste ano, quando voltava para casa depois do trabalho. Uma testemunha teria seguido o carro do casal de médicos Letícia Bortolini e Aritony de Alencar Menezes e acionado a polícia, que fez a prisão em flagrante da motorista.
Letícia foi solta dois dias depois, devendo respeitas as seguintes medidas cautelares:
Até o momento, o inquérito policial não foi concluído. O delegado responsável pelo caso, Christian Cabral, afirma que os exames periciais ainda não ficaram prontos e que o caso ainda pode sofrer alguma reviravolta.
Isso porque, entre os laudos aguardados, há perícias sobre o estado da vítima no momento do acidente - para saber se ela estava com a capacidade alterada em função de embriaguez ou uso de drogas e medicamentos -, sobre a velocidade em que o carro estava no momento do acidente e quem efetivamente dirigia o veículo no momento da colisão - uma vez que foi levantada a suspeita de que o marido da médica era quem estava no volante.
A médica responde por homicídio culposo qualificado, omissão de socorro e fuga do local do acidente. O Conselho Regional de Medicina (CRM-MT) instaurou sindicância para apurar o caso, mas as informações do processo são mantidos sob sigilo. Os médicos não sofreram nenhuma medida restritiva até o momento e continuam exercendo a profissão.