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Presidente afirma que médicos que integram empresas que vendem cirurgia podem ser expulsos de entidade

Data: Domingo, 20/05/2018 17:25
Fonte: Olhar Direto

No último dia 13 morreu a esteticista Edléia Daniele Ferreira Lira, após ser submetida a duas cirurgias plásticas, uma de lipoaspiração grande e mamoplastia redutora. A vítima fez o procedimento por meio da empresa Plástica para Todos, que oferece procedimentos cirúrgicos a preços mais acessíveis. O caso trouxe à tona várias questões relacionadas à cirurgia plástica.
 
O cirurgião plástico Jubert Sanches Cibantos Filho é um dos que critica a postura, e até mesmo a existência, de empresas como a “Plástica para Todos”. Ele é o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Mato Grosso (SBCP/MT). O médico já esteve à frente da Regional de Mato Grosso anteriormente e agora será até 2020.
 
A SBCP/MT já se manifestou sobre o caso, por meio de nota, rebatendo o posicionamento da Plástica para Todos. Em entrevista ao Olhar Direto o presidente da entidade conversou sobre o caso de Daniele, sobre os riscos em cirurgias plásticas, sobre a comercialização destes procedimentos e disse que médicos que integram empresas como a Plástica para Todos podem acabar sendo expulsos.
 
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Olhar Direto – Nesta última semana ganhou evidência a morte da esteticista Edléia Daniele Ferreira Lira após ser submetida à cirurgia plástica. Como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica está acompanhando este caso?

Dr. Jubert Sanches - Na verdade nós temos a obrigação de aguardar a sindicância do Conselho Regional de Medicina (CRM-MT), porque o material técnico que vai ser revelado sobre isso é muito diferente do que a gente vê na imprensa. Não temos como emitir qualquer opinião, até seria leviano falar qualquer coisa com relação aos fatos em si. Não temos nenhuma base para estar falando sobre estas coisas, então nossa posição oficial é que se aguarde todos os fatos serem apurados tanto pelo CRM-MT quanto pelo inquérito que foi instaurado.

Olhar Direto – O próprio Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso já confirmou que os médicos que atuaram no caso de Daniele não possuíam registro de especialidade aqui no estado. Como o senhor encara este fato?

Dr. Jubert Sanches - Esta é a primeira providência que qualquer médico que esteja indo para outro estado tem que providenciar. Dentro da própria preparação médica a gente tem que conhecer o regimento do CRM, e qualquer médico que sai da faculdade, o mínimo que ele sabe é que para ele poder atuar em qualquer local dentro do país ele tem que estar com o CRM ativo naquele estado. Eu vejo isso como um fator agravante, mas sobre o que vai acontecer com eles é o CRM quem vai saber.

Olhar Direto – Quais são os reais riscos deste tipo de procedimento cirúrgico?

Dr. Jubert Sanches - Uma cirurgia só tem um risco determinado, quando passa para duas cirurgias o risco é um pouco maior. Não é uma coisa inaceitável ou perigosa, desde que sejam respeitados certos limites, mas isso aí ainda não temos como saber se foi feito no caso de Daniele. Por exemplo, uma mamoplastia com uma lipoaspiração de 500 ml é um procedimento muito tranqüilo, agora, mamoplastia com uma lipoaspiração de 8 litros muda completamente de figura, não só a quantidade, como os locais onde você atua e também o tipo de técnica que você utiliza.

Olhar Direto – E quais são estas técnicas?

Dr. Jubert Sanches - Existem duas técnicas. Uma é a lipoaspiração que se usa uma infiltração, que se passa um líquido antes e depois aspira, e tem muitas variações deste tipo de técnicas. E tem o outro tipo que é chamada lipoaspiração seca, e nesta o sangramento é muito maior. E por enquanto não sei por qual ela foi submetida. Então, resumindo, pode-se fazer as duas cirurgias sim, desde que sejam respeitados os limites, que tenha a presença de um auxiliar, porque uma cirurgia deste porte é adequado que se tenha um, porque o tempo cirúrgico também é uma coisa importante.
 
Olhar Direto – Uma discussão que surgiu com o caso de Daniele é se cirurgias plásticas são procedimentos de média e baixa complexidade. Isto procede?

Dr. Jubert Sanches - Na verdade são coisas um pouco discutíveis, isso aí entra na questão do senso crítico de cada médico. Por exemplo, uma mamoplastia, com retirada só de pele, é médio porte, lipoaspiração até 1 litro, por exemplo, é de pequeno porte. Agora, se for fazer a redução de uma paciente que tem o peito muito grande ou uma redução de 5 litros, passa a ser uma cirurgia de porte maior. Até a associação de duas cirurgias, uma pequena e uma média, isto está dentro de normas que você possa fazer em hospitais que não tenham uma retaguarda, que não tenham uma alta complexidade.

Olhar Direto – Outra questão que surgiu foi sobre a ausência de UTI no hospital onde Daniele fez cirurgia. O diretor do Hospital Militar afirmou que não havia esta exigência.

Dr. Jubert Sanches - A norma que existe é que você tem que ter um convênio com algum hospital com vaga disponível para eventualidades de você ter uma intercorrência, até onde a gente sabe pela imprensa eles tinham essa retaguarda com o Hospital Sotrauma, que é para onde a paciente foi conduzida. E além de ter este convênio com algum hospital em um raio de 10 quilômetros também é necessária uma ambulância, seja ela própria ou de alguma empresa que tenha condições de estar fornecendo este transporte em um curto espaço de tempo.

Olhar Direto – De quem é esta norma?

Dr. Jubert Sanches - É uma norma de um Termo de Ajustamento de Conduta, que foi feito em Brasília, sobre as clínicas. Mas o que importa é que um hospital que não tenha retaguardas de UTI, obrigatoriamente tem que ter um convênio com algum hospital que tenha UTI em um raio próximo.

Olhar Direto – Daniele foi submetida à cirurgia por meio da empresa Plástica para Todos. Como a SBCP encara este tipo de serviço?

Dr. Jubert Sanches - A posição da SBCP em relação a isso é que nós discordamos de maneira veemente sobre este tipo de intermediação por um motivo muito simples e técnico: porque é vedado o médico de participar de intermediadoras, como é o caso dessa empresa, consórcios e qualquer tipo de empresa que venda o serviço do médico. O serviço do médico é algo pessoal, não pode ter um anteparo, como é o caso desta empresa.

Ela vende isso como se fosse uma mercadoria, que tecnicamente a gente chama de mercantilização da medicina, ou seja, é tratar o ato médico, que é pessoal, entre médico e paciente, porque existe uma relação dos dois, como relação comercial. Nestes programas, é como se você entrasse em uma loja para comprar um sapato.

Olhar Direto – Como deve ser feita esta relação?

Dr. Jubert Sanches - Tem que ser estabelecida uma relação entre médico e paciente, e não de uma maneira que o paciente vê no Facebook, vai lá e agenda uma cirurgia, como se fosse pagar a cirurgia, independente de em quantas vezes, e depois chega lá e só tem três médicos, e você vai ter que escolher somente entre um destes, não é assim, acaba cerceando o direito do paciente de consultar outros colegas. Você não está comprando um produto, você será submetido a um procedimento cirúrgico, que é um ato médico. Não é o caso de você comprar alguma coisa e ter que fazer aquilo lá só porque você está pagando um preço mais baixo.

Olhar Direto – Como atua a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica nestes casos?

Dr. Jubert Sanches - A SBCP tem algumas funções, dentre elas é a defesa profissional. Isso inclui desde orientação aos membros, a membros que não estão estejam correspondendo ao estatuto que a gente tem, e estes membros vão para uma comissão de ética, que é o caso destes médicos que participam deste tipo de intermediadores, porque se no CRM não pode, dentro da SBCP também não pode. Os que estavam aqui já estão em sindicância, os que realmente eram membros.

Olhar Direto – O que pode acontecer com eles, por parte da SBCP?

Dr. Jubert Sanches - Se eles continuarem o projeto, se eles continuarem contrariando as normas do CRM e do Conselho Federal de Madicina, independentemente do que aconteceu na cirurgia, é quase inexorável que eles vão ser expulsos da SBCP.

Olhar Direto – Para atuar como cirurgião plástico o médico deve fazer parte da SBCP?

Dr. Jubert Sanches - A sociedade não é um pré requisito para ele trabalhar, ele tem titulo de especialista em cirurgia plástica independentemente da SBCP. Agora, nós não queremos nos nossos quadros uma pessoa que atua de uma maneira que não é ética. Se ele é um bom médico ou não isso não cabe a nós dizer, mas se ele está contrariando o código de ética, ou ele corrige a postura dele ou não vai mais fazer parte.

Olhar Direto – O senhor já tinha conhecimento sobre a atuação do Plástica para Todos?

Dr. Jubert Sanches - Já. Eles vendem uma coisa que não existe a baixo custo. Quando perguntei para os médicos que eles citaram no Facebook, nos grupos, que eles dizem que participam, eles respondem que não vieram para cá, então começa isso em uma mentira. Então o que você pode esperar de um projeto deste.

Olhar Direto – Estes médicos já estavam sendo acompanhados então?

Dr. Jubert Sanches - Já tínhamos identificado os médicos, e agora estes médicos já estão em sindicância, os que são membros da SBCP. O que faríamos é uma denuncia no CRM para que averiguassem se o tipo de trabalho deles, dentro desta intermediadora, é compatível com as normas do código de ética médica, aí fomos surpreendidos com a tragédia.

Olhar Direto – E com relação à prática da empresa?

Dr. Jubert Sanches - A nossa atuação é muito mais em relação aos médicos do que em relação ao projeto. O projeto é mais um problema do CRM e do Ministério Público, porque por exemplo, você não vê nenhuma empresa vendendo cirurgia cardíaca, isso não existe, então do nosso ponto de vista, talvez até exista alguma ilegalidade desta empresa. Mas isso com o tempo será apurado, não cabe a nós. Mas que você não pode vender um serviço médico, isso é uma coisa óbvia e os médicos que estão atrelados a isso vão sofrer algum tipo de sindicância e dela será definido o que vai ser feito.

Olhar Direto – Em Mato Grosso, quais são as cirurgias mais comuns?

Dr. Jubert Sanches - Nós temos estatísticas sobre isso, normalmente varia de ano para ano, mas as mais comuns são lipoaspiração e prótese de mama. São as campeãs em quantidade em Mato Grosso e no Brasil, é igual no país inteiro. Entre as duas sempre inverte qual é a mais procurada, mas são sempre estas. Depois vem mamoplastia, abdominoplastia, as associadas, como prótese com lipoaspiração, etc.

Olhar Direto – Quem mais procura estes procedimentos?

Dr. Jubert Sanches - Mulher é quem mais procura, com certeza. Nos últimos anos tem havido uma mudança em relação ao comportamento dos homens, tem aumentado discretamente, mas se formos comparar os dois, mulher é muito mais. Aí a faixa etária varia pelo tipo de cirurgia. Prótese de mama, por exemplo, está na faixa de 18 a 25 anos mais ou menos, lipoaspiração é muito variável, de 20 a 40 anos é o mais freqüente, abdominoplastia já é um pouquinho mais, 30 a 40 anos, porque é uma cirurgia que geralmente se faz depois da gravidez.

Olhar Direto – Menores de 18 anos podem ser submetidos a cirurgias plásticas?

Dr. Jubert Sanches - Pode ser feito. A recomendação internacional, não só a brasileira, é que cirurgias de prótese mama sejam realizadas após os 18 anos. De mamoplastia existem casos em que a menina tem a mama muito grande, então é aceitável que se faça perto dos 15 anos, mas cada caso tem que ser avaliado individualmente, para saber todos os fatores. Rinoplastia em torno dos 15 anos pode, porque o crescimento facial geralmente já atingiu a plenitude. Otoplastia a partir de 7 ou 8 anos, que é a cirurgia da orelha.

Olhar Direto - Muitas pacientes procuram empresas como a Plástica para Todos justamente porque o custo de se fazer o procedimento com outros médicos é alto certo?
 
Dr. Jubert Sanches - O que a gente percebe é assim, todo paciente tem direito e pode fazer cirurgia plástica, e o porquê de muitas vezes estes pacientes procuram cirurgias mais baratas é pelo momento em que elas querem fazer. Tem muitas pessoas que guardam o valor e fazem cirurgia. Então muitas destas pessoas que estão indo para o Plástica para Todos, por exemplo, se elas fossem fazer um procedimento que fosse de custo um pouco mais alto, muitas delas em vez de fazer imediatamente, fariam depois, porque isso é o grande atrativo disso aí, ás vezes a pessoa compra a coisa porque está barato, mas não é bem assim. A limitação de hospital, por exemplo, não é uma coisa bem vista, o paciente tem que ter a livre escolha. Quando você vai nestes grupos e vê os preços são baixos, mas o que eles retiraram para conseguir preços tão baratos?
 
Olhar Direto – A variação dos preços, de médico para médico, é muito alta?
 
Dr. Jubert Sanches - Isso é uma coisa, inclusive, que a gente discute muito em congressos, até no comércio você não consegue colocar um preço único, ou estabelecer uma faixa, não existe nenhum órgão dentro da SBCP que determine que você cobre um valor específico, que não passe de determinado valor, a gente não tem isso, até porque é livre de médico para médico, existe uma variação de hospital para hospital, de médico para médico, é importante que isso seja assim, porque a gente não está lidando com um mercado, a gente não quer que isso vire uma coisa puramente comercial, o que a gente quer é que seja mesmo um ato médico, individualizado.

Atualizada às 12h16 - Quanto às ponderações do presidente, a Plástica para Todos encaminhou nota a redação.

Veja a abaixo:

"A EMPRESA PLÁSTICA PRA TODOS, que em pouco mais de 02 (dois) anos, já se encontra estabelecida em vários Estados brasileiros, com milhares de cirurgias plásticas intermediadas em todo o país, vem a público REPUDIAR as declarações que vem sendo prestadas pelo Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em Mato Grosso, Dr. Joubert Sanches. 

Ao contrário do que afirma o Presidente da Sociedade, de que a empresa busca em ato de desespero associar sua imagem à SBCP, o que na verdade ocorre é o inverso, na medida em que o desespero se evidencia justamente nas infelizes declarações do Presidente, eis que o Programa Plástica Pra Todos, alcançou expressivo volume de cirurgias plásticas realizadas no estado mato-grossense, porém, em pacientes, que não teriam a oportunidade de fazê-las, não fosse o programa.

A empresa lamenta que num momento tão sensível, o Presidente da entidade, que enquanto cirurgião plástico deveria mostrar-se mais comedido, utilize-se do momento e da fatalidade ocorrida, para menosprezar a própria vontade dos pacientes, que optam por realizar procedimentos, que vão muito além da estética, por preços mais acessíveis. 

Ademais, repudiamos qualquer relação de causa e consequência, feita pelo Presidente entre o procedimento cirúrgico realizado e sua evolução, com as condições comerciais e o regime jurídico da empresa Plástica Pra Todos, como claramente, vem sendo feito pelo Presidente. A apuração do caso em si, deverá limitar-se a constatação se o ocorrido se encaixa ou não em negligência, imprudência ou imperícia médica, e a esse respeito não cabe à SBCP, mas às autoridades competentes. Ocorre que ao constatar a regularidade dos profissionais e as evidências de regularidade dos procedimentos cirúrgicos realizados, a empresa passou a ser atacada covardemente pelo citado Presidente, estando evidente em suas declarações, a reserva de mercado.

Ora, fatalidades e resultados adversos, infelizmente acontecem com quaisquer médicos em procedimentos cirúrgicos, independentemente do valor cobrado. Aliás, basta uma simples consulta nos registros do CRM, na internet e outros meios, para verificarmos que o resultado indesejado em cirurgias plásticas, é um problema na vida de médicos que atendem pacientes de qualquer nível social, mas o Presidente é recorrente na forma agressiva de tratar seus colegas de profissão, já que os vê exclusivamente enquanto concorrentes.

Logo, externamos também nossa indignação na afronta da dignidade dos médicos do Programa Plástica Pra Todos, que foram acusados pelo Presidente de realizarem um desserviço à medicina.

Desserviço faz quem à frente de uma entidade de classe, tão importante como a SBCP, não desenvolve políticas para promover a universalização das cirurgias plásticas no país, que não devem ficar restritas ao público “A e B”, já que pelo Programa, quase 90% das cirurgias, ocorrem em pacientes da Classe “C e D”, mas também somos procurados por um baixo percentual de pacientes mais favorecidos financeiramente, sendo esta a causa da revolta de alguns médicos.

Logo, ao contrário da postura sensata e comedida, de todas as demais instituições que acompanham o caso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, vem sendo utilizada pelo seu representante, para denegrir a imagem dos médicos aderentes ao programa e, da própria empresa Plástica Pra Todos. E mais, de maneira velada, porém evidente, se insurge contra a universalização da saúde e do tratamento estético no país, o que também deve ser objeto de repressão das autoridades e da sociedade em geral.

Na oportunidade, reafirmamos que a Empresa Plástica Pra Todos, manterá suas atividades na capital mato-grossense, inclusive com cirurgias agendadas para a próxima semana no Hospital Militar, que há muitos e muitos anos, realiza cirurgias em sua unidade, inclusive para cirurgiões membros da SBCP, encontrando-se absolutamente dentro das normas técnicas para sua atuação, sem prejuízo de outros hospitais que assim como em outros Estados, também devam aderia ao Programa.

Esclarecemos ainda que os valores cobrados pelo Programa Plástica Pra Todos, jamais podem ser considerados aviltados, são suficientes para bem remunerar todos os envolvidos nos procedimentos, obviamente que com menor margem de lucros.

Plástica Pra Todos!"