Depois dos pedidos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao empreiteiro Marcelo Odebrecht por doações a candidatos tucanos na eleição de 2010, revelado por VEJA na última quarta-feira, 6, duas empresas ligadas à cervejeira Petrópolis que eram utilizadas para fazer doações eleitorais disfarçadas em nome da Odebrecht repassaram 100.000 reais à campanha do então tucano Antero Paes de Barros naquele ano. Paes de Barros, que se candidatou ao Senado por Mato Grosso e não se elegeu, foi o nome pelo qual FHC pediu por “ajuda” financeira da empreiteira em dois e-mails.
Ao contrário das empresas do Grupo Odebrecht, a Leyroz de Caxias Indústria, Comércio e Logística e a Praiamar Indústria, Comércio & Distribuição, distribuidoras ligadas ao Grupo Petrópolis, que fabrica as cervejas Itaipava e Crystal, aparecem na prestação de contas de Antero Paes de Barros em 2010. A Leyroz doou 80.000 reais ao tucano e a Praiamar, 20.000 reais (veja abaixo).
Na delação premiada de Marcelo Odebrecht, o empreiteiro classificou o Petrópolis como “grande parceiro” que fazia doações oficiais disfarçadas a candidatos a pedido da Odebrecht. “Nós também fazíamos doação oficial através de terceiros, ou seja, terceiros doavam oficialmente, e um desses parceiros era a Itaipava e a gente reembolsava eles de alguma maneira”, afirmou Odebrecht. Segundo o empresário, a “parceria” com a cervejeira aconteceu a partir de 2010.
Outros delatores da Odebrecht, como o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ, também relataram a relação entre a empreiteira e a cervejeira.
As duas doações foram feitas no dia 29 de setembro de 2010, mesmo dia em que uma planilha da Odebrecht, apreendida na 23ª fase da Operação Lava Jato, atribui um pagamento de 100.000 reais a Antero Paes de Barros (veja abaixo).
As distribuidoras Leyroz e Praiamar também aparecem na planilha da empreiteira, vinculadas a diversos valores (veja abaixo).
O dinheiro das empresas ligadas à cervejeira foi injetado na campanha de Antero Paes de Barros oito dias depois do dia 21 de setembro, quando FHC enviou a Marcelo Odebrecht o e-mail com o assunto “o de sempre”. Na mensagem, o ex-presidente reiterou o pedido por uma doação da empreiteira a Paes de Barros, que já havia sido feito por ele em outro e-mail, datado do dia 13 de setembro. O empresário Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), também foi incluído entre os destinatários da mensagem.
“Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso; 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito”, pediu o tucano.
No dia 22 de setembro, Odebrecht confirmou a FHC que a doação, ou “apoio”, a Paes de Barros seria mesmo feita. “Presidente, Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apóia-lo. Flexa não sei dizer, mas vou verificar”, escreveu o empreiteiro.
Procurado pela reportagem, Antero Paes de Barros disse que não teve contato com nenhum emissário da Odebrecht ou das distribuidoras Leyroz de Caxias e Praiamar. “A doação deve ter atendido a um pedido do diretório do PSDB ou do próprio Fernando Henrique”, diz Paes de Barros.
Por meio de nota divulgada na última quarta-feira, FHC afirmou que o pedido “era legal”. “Posso ter pedido, mas era legal. Não se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos governos, da República e do estado”.
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