O assassinato da operadora de caixa Tauane Morais, de 23 anos, pelo ex-namorado, Vinícius Rodrigues de Sousa, de 24, nesta quinta-feira (7), foi precedido de uma série de ameaças.
A vítima não queria denunciá-lo, segundo a irmã dela, Nakuécia Morais, porque tinha medo de ser morta.
"Ela pensava em denunciar, mas ele a ameaçava. E ela ficava com medo."
"Às vezes, ela saía para trabalhar com olho roxo. Ele rasgava a calça dela, foram três celulares destruídos. Ele a perseguia nas redes sociais, no telefone e até mesmo no serviço", disse Nakuécia.
Eles estavam juntos havia mais de cinco anos. Um irmão da vítima, que não quis gravar entrevista, classificou o autor do crime de "psicopata" e disse que ele era "muito agradável" com outras pessoas, mas "ciumento e agressivo" com Tauane.
O ex-namorado se dizia "inconformado com o término". Três dias antes de matá-la com 15 facadas, na quarta-feira (6), ele já tinha sido detido por agressão e tentativa de homicídio contra ela: no domingo, foi preso em flagrante após agredir Tauane com socos e tentar enforcá-la.
A agressão foi presenciada pelos filhos do casal – uma menina de 4 anos e um menino de 2.
À polícia, naquele dia, Tauane contou que o ex-namorado chegou a pegar um punhal e rasgar as cortinas da casa, quebrar móveis, a geladeira e a televisão da família.
Mesmo com o flagrante, o homem foi liberado em uma audiência de custódia na segunda-feira. O juiz Aragonê Nunes Fernandes, que analisou o caso, entendeu que a medida protetiva concedida pela Justiça a Tauane era “suficiente” para manter o agressor longe da vítima e “preservar a integridade física” dela.
Depois de o feminicídio ter sido consumado, o juiz disse "não ter bola de cristal" para prever ameaças que poderiam se concretizar. "Não temos como prever aqueles que realmente concretizarão as ameaças. Prender a todos, indistintamente, não parece ser o melhor caminho a seguir", afirmou, durante a segunda audiência de custódia de Vinícius Rodrigues de Sousa em menos de uma semana.
"Apesar de termos leis que nos protegem, elas ainda não são suficientes para que nós, mulheres, possamos viver em paz, livres de violência", disse a presidente da Comissão de Combate à Violência Familiar da OAB-DF, Lúcia Bessa.
"Uma situação como essa mostra que a violência doméstica contra as mulheres é muito mais grave do que se vê. É extremamente triste quando perdemos mais uma."
Após assassinar Tauane a facadas, Vinicius tentou se matar perfurando o próprio abdome, mas não conseguiu. Ele foi socorrido e internado no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). O G1 aguarda resposta da Secretaria de Saúde a respeito do estado do agressor. Ele teve a prisão em flagrante convertida em preventiva, por tempo indeterminado.
A Secretaria de Segurança Pública registrou 38 mortes violentas em maio, segundo balanço informado nesta sexta-feira – um aumento de 22% em relação ao mesmo mês de 2017.
Dos 38 casos, seis vítimas eram mulheres. Três destes casos ficaram registrados como feminicídio – ou seja, mulheres mortas em crimes de ódio motivados pelo gênero.
O secretário de Segurança Pública, Cristiano Sampaio, disse que "todos os órgãos" do governo têm agido para prevenir casos de feminicídio. "Mas se tem algo que nem nós nem ninguém consegue controlar é o elemento humano", afirmou.
"O que tem que ser feito é uma mudança cultural. O que tem acontecido é uma falência das famílias e da sociedade."
"A polícia militar atua intensamente para prevenir. Infelizmente, a proteção foi superada e o autor optou por cometer um crime. Os crimes são premeditados e os autores esperam um brecha para cometê-los", disse Sampaio.
De janeiro a abril deste ano, foram registradas 10 ocorrências de feminicídio no Distrito Federal. No mesmo período do ano passado, foram 8 casos.
Em maio, o caso de maior comoção foi o da estudante Jéssyka Laynara, morta pelo ex-namorado – um policial militar – dentro de casa, na frente da avó e do primo. Ronan Menezes do Rego disparou cinco tiros. Duas semanas antes de ser assassinada pelo ex-namorado, a jovem, de 25 anos, enviou um áudio a uma amiga contando que não conseguia andar porque tinha levado socos no estômago e chutes nas pernas.
Ronan estava de folga, sem farda, mas usou uma pistola da corporação para cometer o crime. A família da vítima disse que ele agiu por ciúmes.