A Bélgica será a adversária do Brasil nas quartas de final da Copa do Mundo, e alguns dados sobre ela não são exatamente animadores para o Brasil. Vamos a eles, mas não se apavore (lá para baixo no texto trazemos umas boas ressalvas):
Parece evidente que não é uma seleção fraca. O leitor mais atento vai lembrar, com toda a razão: “E daí, continua sendo um time que nunca ganhou nada”. Verdade. A tal super geração belga, carregada de superlativos ao longo dos últimos anos, não transformou expectativa em títulos: caiu nas quartas de final da Copa de 2014, para a Argentina, e fracassou na Euro de 2016 ao tombar diante do País de Gales.
Mas um dos chavões do futebol (ou da vida) diz que é na derrota que se aprende, e a Bélgica, contra o Japão, conseguiu evitar um fiasco que destruiria a imagem construída por esse elenco. A derrota por 2 a 0, em idos do segundo tempo, virou vitória por 3 a 2, com o gol da vitória na prorrogação. Bem ou mal, foi um sinal de maturidade de um time que parece ter aprendido a apanhar – e a reagir.
A vitória saiu do banco. Os dois últimos gols foram marcados por Fellaini e Chadli, mandados a campo no segundo tempo por Martínez. Esta foi a segunda demonstração de força do elenco, mais do que dos 11 titulares; a anterior foi a vitória de 1 a 0 sobre a Inglaterra com nove reservas formando o time belga.
Mas a principal força da Bélgica está na união de alguns de seus protagonistas, formando um setor ofensivo muito forte. Do meio para a frente, a Bélgica tem a saída de bola de De Bruyne, a clarividência de Hazard, o ótimo momento de Mertens e a coleção impressionante de gols de Lukaku. São, todos eles, jogadores acostumados às principais ligas europeias. E que já carregam a vivência de uma Copa do Mundo nas costas.
O camisa 9 é um caso à parte. Ele tem números impressionantes: maior goleador da história da seleção belga, com 40 gols; autor de 13 gols em seus dez jogos mais recentes pelo país; décimo estrangeiro com mais gols na Premier League (101), onde atualmente defende o Manchester United; dono de quatro gols em oito finalizações na Copa da Rússia.
Com 1,90m, ele é difícil de ser marcado. Não tem a mesma técnica de seus colegas, mas sai para tabelas e consegue aproveitar o talento que o cerca. E vive o melhor momento da carreira – embora não tenha conseguido aproveitar as chances que teve contra o Japão, foi decisivo ao puxar a marcação e fazer o corta-luz para o gol de Chadli, aos 48 do segundo tempo.
A questão é que a Bélgica tem uma engrenagem muito mais eficiente para atacar do que para defender. Os três zagueiros ficam expostos porque suas linhas de proteção são fracas. Os alas são ofensivos, e os marcadores do meio-campo não são exatamente caçadores – um deles, de Bruyne, destacou-se na última temporada da Premier League ao ser o líder em... assistências para gol.
E isso piora quando se leva em consideração o estado físico dos zagueiros. Kompany, o central do trio, chegou à Rússia lesionado e só virou titular contra o Japão, em uma jogada arriscada de Martínez. Varmaelen, um potencial titular, também começou o Mundial lesionado, jogou contra a Inglaterra e ficou no banco nas oitavas de final. Alderweireld, pela direita, e Vertonghen, pela esquerda, completam a trinca defensiva.
Martínez, logo depois do jogo contra o Japão, foi questionado se mudaria o time contra o Brasil. E escapou da resposta. Disse que em um dia de tanta superação de seu elenco, não era o momento de falar de tática. Mas é bastante possível que ele modifique a forma de jogar, talvez transformando Vertonghen em um lateral defensivo pela esquerda e sacrificando Carrasco (muito mal nesta segunda-feira) para a entrada de algum jogador que dê mais corpo ao meio-campo.
Se o técnico da Bélgica mantiver o sistema, a vitória ficará mais fácil para o Brasil, especialmente pela velocidade de jogadores como Willian, Philippe Coutinho e, claro, Neymar.
Outra questão que pode pesar é a relação mental dos belgas com o jogo contra o Brasil. Eles parecem genuinamente felizes pela oportunidade de viver isso – a ponto de Martínez dizer que os jogadores vão realizar um sonho de infância, de Meunier afirmar que não existe maneira de marcar Neymar, de Vertonghen comentar que enfrentar o Brasil terá um sabor particular, de Hazard opinar que será incrível enfrentar a Seleção.
De qualquer forma, a Bélgica será o adversário mais difícil do Brasil até agora na Copa do Mundo. E tende a ser a equipe mais talentosa que a Seleção enfrentará em todo o Mundial – inclusos aí eventuais oponentes em semifinal e final.
Mas os belgas parecem estar alguns passos atrás em um ponto fundamental em mata-mata de Copa do Mundo: competitividade.
Brasil e Bélgica se enfrentam às 15h de sexta-feira em Kazan. O vencedor pegará França ou Uruguai nas semifinais.