Três casos graves, envolvendo pacientes do programa Plástica Pra Todos, incluindo uma morte, foram conduzidos pelo mesmo cirurgião, Eduardo Santos Montoro.
Há 100 dias em Mato Grosso, o programa fez cerca de 120 cirurgias. Entre elas, a de uma paciente que chegou a morrer e de duas que foram parar na UTI em estado grave.
A empresa, que oferece serviços estéticos a baixo custo, tem sido duramente criticada pela classe médica mato-grossense.
O apurou que o médico Eduardo Montoro, responsável pelas três cirurgias que culminaram em casos graves, se formou em Sorocaba (SP). Ele é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e está inscrito no Conselho Regional de Medicina (CRM) de Mato Grosso. Desta forma, o profissional é considerado apto a realizar procedimentos cirúrgicos.
O primeiro caso envolvendo o médico foi a morte da esteticista Daniele Ferreira Lima, 33 anos, em 13 de maio. Montoro foi o responsável pelas cirurgias de lipoaspiração e mamoplastia redutora pelas quais a paciente passou, no Hospital Militar. A mulher morreu em decorrência dos procedimentos.
O caso seguinte envolveu uma paciente com as iniciais N.D.C.R. Ela realizou procedimentos de abdominoplastia, lipoaspiração e mamoplastia. Depois das intervenções, teve complicações e foi encaminhada à UTI do Hospital Santa Casa da Misericórdia em Cuiabá. Passou cinco dias em estado grave, apresentou melhoras e atualmente está na enfermaria. O estado de saúde dela ainda inspira cuidados.
Representantes do Plástica Pra Todos negam que Montoro tenha participado das cirurgias de N.D.C.R. Eles afirmam que o responsável pelos procedimentos foi o cirurgião João Fernando Mello. Segundo a empresa, Montoro apenas auxiliou na recuperação da paciente, enquanto ela estava na Santa Casa. Porém, uma fonte ouvida pela reportagem assegurou que o profissional também participou das cirurgias da mulher.
O terceiro procedimento envolvendo o médico, desta vez confirmado pelo Plástica Pra Todos, é o da paciente M.J.O.U., 34. No último sábado (6), ela fez uma abdominoplastia e teve choque hemorrágico, com intensa perda de sangue. A mulher foi encaminhada ao pronto-atendimento do Hospital São Matheus e, posteriormente, à UTI do local, após seu quadro de saúde apresentar piora.
O Plástica Pra Todos assegura que a jovem foi acompanhada para UTI apenas para melhor acompanhamento. A empresa não comentou sobre o choque hemorrágico da paciente, em razão de sangramentos de vasos durante o procedimento cirúrgico.
O Conselho Regional de Medicina informa que foi notificado extraoficialmente sobre dois novos casos de problemas graves envolvendo mulheres operadas no Plástica Pra Todos. No entanto, a entidade informou que aguarda ser informada oficialmente, para que possa apurar os casos. Em relação à morte da esteticista Daniele Ferreira, alega que continua com as investigações, que seguem em sigilo.
Outro lado
O médico Montoro nega que tenha cometido irregularidades durante os procedimentos cirúrgicos. Ele afirma que está à disposição das autoridades para esclarecimento dos fatos. Declara que seu nome está sendo usado em uma guerra por mercado. A empresa ressalta que ele foi o responsável por conduzir os procedimentos médicos em apenas duas das três situações.
Por meio de um comunicado, garante que ficou provado, no laudo pericial e nos prontuários, a sua inocência no caso da morte da esteticista Daniele Ferreira. Em relação aos novos casos, argumenta que são condições esperadas em cirurgias e diz que está acompanhando e contente com a evolução das pacientes.
O médico ainda afirma que sequer foi intimado para prestar qualquer depoimento referente à morte de esteticista, “já tendo se colocado à disposição da autoridade em ocasiões anteriores”.
Infeliz tentativa de juntar os casos
Os casos das outras duas pacientes vieram à tona nesta quarta (11), após divulgação da Sociedade Mato-grossense de Anestesia (Soma), que afirmou que se viu na obrigação de divulgar os problemas para alertar o Estado e os mato-grossenses sobre o programa de cirurgias plásticas.
O Plástica Pra Todos criticou a divulgação feita pela Soma e afirmou que se trata de “uma infeliz tentativa de associação dos casos entre si, pois a exemplo do que tentou fazer a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, mascara à sociedade o real interesse na reserva de mercado”.
Ainda no comunicado, o programa afirma que contratou, recentemente, uma equipe de anestesistas na Capital. “O que não era vontade da Soma, razão pela qual em evidente ato de represália, busca fazer uma associação dos casos para prejudicar os médicos, a empresa, o hospital, gerando, por fim, um indevido temor na população”, diz trecho do comunicado da empresa.