Uma família de Cuiabá denuncia um possível caso de violência obstétrica no Hospital Geral Universitário (HGU) após complicações no parto e a morte de um recém-nascido que passou duas semanas internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da instituição. A morte do bebê foi atestada na última sexta-feira (20).
Por meio de nota enviada à reportagem, o HGU informou que toda a assistência foi dada ao bebê internado na UTI Neonatal, bem como o parto foi realizado dentro das normas e recomendações técnicas do Ministério da Saúde. Segundo o hospital, a evolução durante todo o trabalho de parto ocorreu sem necessidade de intervenção externa da equipe de assistência.
"[A paciente] evoluiu para dilatação total do colo uterino de 10 cm quando foi evidenciada uma parada abrupta e inesperada das contrações uterinas e a ocorrência de intensa dor abdominal, quadro este compatível com o diagnóstico de rotura uterina [ruptura uterina]", diz trecho da nota.
A mãe do bebê, Luana Lacerda Pinto, de 21 anos, relata que teria sido obrigada pela equipe do hospital a ter o filho por meio de parto normal, mesmo tendo encaminhamento médico afirmando que tal procedimento não era adequado por não ter dilatação, o que resultou no rompimento uterino e em sequelas para o recém-nascido.
Ela deu entrada no hospital na madrugada do dia 7 de julho, tendo sido encaminhada para um quarto de espera, onde passou mais de 12 horas em trabalho de parto. O pai do bebê, Paulo da SIlva, alega que também foi ignorado pelos médicos em todas as ocasiões que tentou informar sobre o impedimento que a esposa tinha para seguir em parto normal.
Segundo Janaína Santos Delana Lacerda, cunhada da paciente, Luana reclamava de dores intensas e mesmo assim, foi obrigada a tentar o parto normal.
"Lá, eles falavam para ela que o hospital só fazia parto normal, que ela ia fazer normal como todo mundo. Ela começou a fazer força e, no terceiro empurrão, o útero dela 'estourou' e ela não sentiu mais o bebê mexer", afirmou.
De acordo com Janaína, ao perceber o que havia ocorrido, a equipe médica transferiu a cunhada com urgência para a sala de cirurgia. Durante o nascimento, o recém-nascido chegou a ficar cerca de 40 segundos sem respirar e foi reanimado por meio de aparelhos, conforme a família.
A mãe afirma que, antes mesmo da anestesia fazer efeito, sentiu a equipe médica puxando o filho dela com as mãos. Os familiares alegam que o bebê já nasceu morto e que o período em que passou internado na unidade, nunca esbolou reação, mexeu ou abriu os olhos.
"Para a gente, internaram a criança para abafar o caso. E ainda colocaram no laudo [pericial] que a causa da morte foi a ruptura uterina, ou seja, culparam a mãe", reclamou Janaína.
Conforme o laudo médico, Luana - que tem um filho de dois anos - não mais poderá entrar em trabalho de parto em gestações futuras.
A família deve registrar um boletim de ocorrência sobre o caso ainda nesta segunda-feira (23) e promete seguir denunciando o caso nos órgãos competentes.
"Queremos Justiça e vamos até onde for preciso para consegui-la. Isso não vai trazer o filho dela de volta, mas servirá para evitar que outras famílias passem pelo o que estamos passando", afirmou Janaína.
A mãe do bebê está em estado de choque e apenas chora desde o dia em que a morte do filho foi atestada, segundo a família.
"Ela não consegue lidar com essa situação, só chora, fala que levaram o filho dela", lamentou a cunhada.
O bebê foi velado e enterrado no final de semana, segundo a família.