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Pai adotivo de menina levada pela mãe biológica fala sobre luta pelo direito de criá-la: 'Nós não vamos desistir da Maiza':

A menina ficou 36 dias desaparecida e foi encontrada no início de agosto. Os pais adotivos tem a guarda definitiva desde outubro do ano passado. A mãe é considerada foragida.

Data: Domingo, 12/08/2018 18:57
Fonte: G1 MT

João seria tio de Maiza, a esposa dele, Jane, é irmã do pai biológico. O casal não conhecia a menina até quando ela tinha 2 anos. Na ocasião, os pais biológicos de Maiza vieram de Rondonópolis, MT, e trouxeram a menina. O pai adotivo, João Carvalho, disse que ouviu deles algo que mudaria a vida da família:

 

'Após o fim do casamento, eles disseram que não queriam criar a Maiza, cada um tinha seus planos. O pai queria viver a vida de solteiro dele e a mãe queria ir embora para Portugal. Aí eles perguntaram 'Vocês querem ficar com ela?' e nós aceitamos", conta.

 

Eles então levaram a menina para casa em Bela Vista, MS, e tudo mudou. Com os filhos já "criados", eles começaram a providenciar a estrutura necessária para cuidar de uma criança.

João conta que Maiza chegou bem diferente: "Ela veio pra gente em condições lastimáveis, físicas e psicológicas. Tivemos que arrumar acompanhamento psicológico imediatamente, colocamos ela na e escola e cercamos ela de amor. Foi assim que a Maiza se tornou uma criança doce, sorridente e feliz" relata.

 

O desaparecimento de Maiza

 

Mas a vida da família mudou completamente no dia 30 de junho deste ano. A família adotiva detém a guarda definitiva da menina desde outubro. A mãe biológica entrou na justiça pedindo a revogação da decisão, o que não foi concedido, então ela entrou na justiça com um pedido para visitar a filha. Com a concessão desse direito, foi agendada a primeira visita.

Na data marcada, a mãe biológica, Gleici, veio de Rondonópolis acompanhada da advogada e buscou a menina na casa da família: "Ela estava toda sorridente, nós nunca escondemos nada da Maiza, ela viu a mãe poucas vezes nos 4 anos que mora com a gente, estava contente pelo passeio" conta João.

Mas no dia seguinte, quando chegou 18h e a menina não foi devolvida, a família começou uma busca que só terminaria 36 dias depois: "Procuramos por ela na cidade e quando ligamos para a advogada, ela disse que já estava em Rondonópolis e que se a mãe não tinha devolvido a minha filha, o problema era meu. A Gleici tinha fugido com ela" relembra.

 

"Foram dias de profundo desespero"

 

Quando a menina sumiu, começou um período que os pais chamam de "via crucis":

"Eu e Jane, andamos por vários caminhos onde havia indícios de seu paradeiro. Rodamos quilômetros e mais quilômetros, discutimos com pessoas, ficamos frustrados em alguns momentos, mas não desistimos".

 

"Choramos muito, mas seguimos e continuamos cobrando a quem era de obrigação nos dar uma resposta. Sofremos sem jamais desistir e conseguimos a vitória. Saimos fortalecidos na fé e na união com pessoas que não conheciamos e que não mediram esforços em nos ajudar. Nós não desistimos e não vamos desistir da Maíza", relata.

 

Maiza foi encontrada no dia 04 de agosto em um assentamento em Guaritinga, MT. Após várias buscas na região, a polícia civil da cidade junto com a investigadora Maria Campos resgataram a menina, mas a mãe, é considerada foragida.

A menina reencontrou a família no dia 06 de agosto, em Campo Grande. No retorno a Bela Vista, família, amigos e coleguinhas esperavam por ela. No caminho, a família perguntou sobre a experiência e a menina disse "não ter gostado dessa aventura".

 

Paterninade por escolha

 

Para o pai adotivo de Maiza, a decisão de assumir a menina e prepará-la para a vida foi um reflexo do que aprendeu em casa: "Fui criado por um pai e uma mãe maravilhosos que na simplicidade deles, sempre nos orientaram, os 10 filhos, para o bom caminho. Meu pai me ensinou que temos o dever de receber muito bem a quem nos procura".

João e Jane tem outros 3 filhos. Quando Maiza chegou, foi esse o ambiente que encontrou em casa: "Conversamos em familia, eu, Jane e meus filhos e decidimos oferecer a ela o que mais precisava, além de conforto material, muitos cuidados afetivos, amor e carinho" conta.

O compromisso de assumir a criação de Maiza é o que chama de paterninade por escolha:

"Assumimos o compromisso de cuidar dela e dar o melhor de nós para ela. Foi uma escolha. Tudo isso nos levou a não medir esforços na busca de Maiza, sabíamos que ela estava precisando de nossos cuidados. É bom demais estarmos juntos de novo", relata, emocionado.

Perguntado sobre o pai de Maiza, João é enfático:

 

"Eu sou o pai da Maiza. A vida lhe reservou uma origem física, mas com todo o respeito que dedico ao genitor dela, permito-me evocar esse título de pai, não me vejo diferente disso e quando a olho em nada a diferencio dos outros meus filhos. Amo-os da mesma forma e intensidade. Me dedico totalmente a eles e assim há de ser sempre".

 

 

"Não desistir de procurar o amor"

 

O dia dos pais na casa de João será de alegria e paz: "Como de costume, nos reuniremos com alguns irmãos, parentes e amigos e, claro, teremos um motivo muito maior que é a vitória da Maiza estar de volta ao lar que Deus a colocou, que é o nosso. Para nós é muito especial ter essa Graciosidade de volta e estarmos novamente juntos".

"Aprendi na vida que é muito difícil dizer a alguém o que sentimos quando não passamos por certa situação. Aprendi também a aprender com a experiência dos outros. Felizmente hoje posso dividir um pouco do que aprendi com quem precisa, de que sempre podemos suprir a carência de alguém que esteja precisando de amor. Quem não encontrar esse amor na família que tem, pode encontrar em algum lugar. Basta não desistir de procurar o amor".