Somente aqueles que vivem em Mato Grosso há pelo menos 15 anos já ouviram falar do Vale dos Esquecidos, uma referência para indicar a região distante e isolada do centro sul do Estado.
Por muito tempo, o Vale dos Esquecidos era a região do Vale do Araguaia, uma área imensa margeada pelo rio Araguaia, que começa próximo da cidade de Barra do Garças e vai até o município de Vila Rica, na divisa com o estado do Pará.
Há pelo menos uns sete anos, a soja chegou lá e o crescimento econômico surgiu rapidamente.
Ali a população indígena é a maior do Estado, com a maior reserva indígena do mundo, o Parque do Xingu.
Mas o Vale dos Esquecidos ainda existe, só mudou de lugar.
A região de Juína, com o rio Juruena e vários territórios indígenas, sofre a duras penas para manter a população e suas cidades.
As distâncias entre um município e outro é atípica, de 100 km a 450 km, numa imensa área composta por 11 cidades no entorno de Juína.
Estradas ruins e alguns trechos de terra. A geografia e a presença de etnias indígenas um pouco isoladas distanciam a região do agronegócio.
Há cerca de 30 anos, Juína era um polo muito visitado por compradores de diamante, mas, por falta de fiscalização do Governo Federal, a riqueza se foi de forma ilegal e pouco deixou para o futuro da cidade. Mas quem chega hoje em Juína encontra uma realidade nem um pouco negativa.
Situada na região da Amazônia mato-grossense, as comunidades mais carentes que vivem nos bairros periféricos de Juína resolveram se juntar aos índios, principalmente os Cinta Larga e Rikbaktsa, que coletam castanha do Brasil na floresta e formaram uma cooperativa composta de 38 mulheres, que recebem a castanha e a preparam para a venda.
O casal Adelurde Custodio Oliveira Machado e Luis Antônio Machado cuida da administração e da venda – e as mulheres se revezam nas máquinas de descascar castanhas.
“Estamos muito felizes de ver a cooperativa funcionando. Tem muita coisa para fazer, mas está valendo a pena o sacrifício”, conta Adelurde.
Tudo acontece numa casa no bairro Módulo 6, afastado do centro de Juína. A maioria das 38 mulheres é de donas de casa que vivem no mesmo bairro.
Quase todas têm filhos e nem sempre é possível trabalhar o dia todo. Claudinete Araújo de Barros consegue ficar o dia todo e chega a ganhar R$ 1.200 por mês.
“Eu gosto do que faço e foi pra mim uma grande oportunidade”, conta.
A Cooperativa de Trabalho Sustentável da Amazônia Legal (COOAMA) foi criada há menos de dois anos e chega a beneficiar de 10 a 15 toneladas por mês de castanha do Brasil, coletadas por cerca de 400 índios que vivem às margens do rio Juruena.
No dia-a-dia, a cooperativa conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Juína, que desde 2012 discutiu com os conselhos de políticas públicas do município ações que pudessem beneficiar as comunidades carentes, mulheres e índios.
Tudo começou quando foi produzido o primeiro Planejamento Estratégico da cidade, orientado pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso e que garantiu espaço para comunidade pudesse definir metas que foram inseridas no documento e são implantadas pela Administração Municipal.
O prefeito de Juína, Altir Peruzzo, relata que o apoio a COOAMA é essencial para tirar os índios da miséria e garantir trabalho para as mulheres.
“Hoje o Vale dos Esquecidos é aqui, porque a região não é atrativa para o agronegócio. Por isso, temos que incentivar o que temos na região, que possa garantir renda para as pessoas carentes”, diz.
O Planejamento Estratégico de Juína foi atualizado em 2016 e é monitorado pela Secretaria de Apoio às Unidades Gestoras, do TCE-MT.
O município é uma das 24 cidades do Estado que fazem parte do Programa Institucional Integrado (PDI), criado pelo Tribunal em 2012.
A interação entre a sociedade e o Poder Executivo municipal tem sido bem avaliada pela Secretaria de Articulação Institucional e Desenvolvimento da Cidadania do TCE-MT, que monitora as ações da prefeitura municipal em parceria com os 18 conselhos de políticas públicas de Juína.
“Todos entenderam que é importante trabalharem juntos para elevar a eficiência dos gastos públicos e a qualidade dos serviços prestados à comunidade”, afirma Cassyra Vuolo, secretária de Articulação Institucional do Tribunal de Contas.