O laudo do exame de necropsia do Instituto Médico-Legal (IML) confirmou que a morte de Tatiane Spitzner foi por asfixia mecânica, causada por esganadura e com sinais de crueldade. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (20) pelo diretor do IML, Paulino Pastre.
O corpo da advogada foi encontrado em 22 de julho dentro do apartamento onde ela morava com o marido, Luis Felipe Manvailer, em Guarapuava, na região Central do Paraná. Manvailer foi preso no mesmo dia, a mais de 300 km da cidade. Ele é réu em um processo por feminicídio e nega as acusações.
Segundo Pastre, o estudo feito pelos médicos legistas de Guarapuava indicava, desde o início, que se tratava de uma morte violenta, utilizando-se de constrição do pescoço, o que é chamado de esganadura.
"Todo o procedimento pericial realizado confirmou unanimemente, tanto os exames complementares realizados em Curitiba como o exame necroscópico lá em Guarapuava, que a Tatiane morreu e posteriormente caiu do prédio", disse o diretor do IML.
O diretor do IML explicou que vários elementos ajudam a comprovar que houve a esganadura, além da fratura do osso hioide, que fica na região do pescoço.
“O que foi mais importante a corroborar foram outros elementos da constrição da região cervical – por meio do emprego possivelmente das mãos, na esganadura – que imprimiu os próprios dedos, para falar em um linguajar mais simples, na musculatura cervical, fazendo um processo de edema, e que é constatável no exame”, detalhou.
Pastre informou que o corpo de Tatiane apresentava evidências de que houve luta antes da morte.
“Ela apresentava no seu corpo – e estão descritas no laudo – muitas marcas de luta”, pontuou.
Ainda conforme o diretor, o exame toxicológico indicou elevado grau de alcoolemia no corpo de Tatiane.
“O que sugere que ela estava bastante fragilizada até para se defender no momento”, afirmou.
O laudo foi concluído quase dois meses depois da morte. Segundo Pastre, esse período foi necessário porque o exame é complexo – um procedimento químico para descalcificação óssea.
A promotora Dúnia Rampazzo, responsável pelo caso, disse que os laudos trazem a certeza de que Tatiane foi morta dentro do apartamento.
"Os laudos nos comprovam que o acusado matou a vítima dentro do apartamento mediante esganadura, porque a morte da vítima foi produzida por asfixia mecânica, e posteriormente jogou o corpo da vítima pela sacada do apartamento", afirma.
Em nota, a defesa de Luis Felipe Manvailer, informou que, assim que for intimada sobre o conteúdo dos laudos, vai submetê-los aos assistentes técnicos com expertises nas matérias e que, só depois, vai de pronunciar no processo.
A família de Tatiane Spitzner informou, em nota, que a recebe com muita tristeza a confirmação de que a advogada "já estava morta quando foi jogada da sacada por Luis Felipe Manvailer".
Os advogados da família, que atuam como assistentes de acusação no processo, informaram que ainda não tiveram acesso acesso ao laudo, que a conclusão é mais uma prova de que Luis Felipe mente.
"Ele a matou dentro do apartamento, submetendo-a um período prolongado de violentas agressões físicas. Não houve suicídio, mas feminicídio e fuga do criminoso", diz a nota.
Câmeras registraram agressões do marido a advogada Tatiane Spitzner no elevador do prédio — Foto: Câmeras de segurança
Tatiane morreu na madrugada do dia 22 de julho, no Centro de Guarapuava. Conforme o Ministério Público do Paraná (MP-PR) Luis Felipe matou a mulher, a jogou pela sacada e, em seguida, recolheu o corpo de Tatiane e o levou de volta para o apartamento.
Uma testemunha relatou que, logo depois da queda, viu o marido recolhendo o corpo e ouviu ele gritando: “Meu amor, acorda”.
O marido foi preso após sofrer um acidente de carro na BR-277, em São Miguel do Iguaçu, a 340 quilômetros de Guarapuava. Ele disse que se acidentou porque a imagem da esposa pulando a sacada não saía da cabeça dele.
O casal estava junto havia cinco anos e era "feliz", de acordo com a defesa do marido. O Ministério Público (MP-PR), porém, diz que Tatiane vivia um relacionamento abusivo.
Luis Felipe e Tatiane estavam juntos havia cinco anos — Foto: Reprodução/Facebook
Familiares e amigos relataram que ela queria pedir o divórcio. Para a polícia, eles disseram que Luis Felipe costumava chamar Tatiane de apelidos pejorativos e que a proibia de contratar uma diarista para ajudar nas tarefas domésticas.
Uma amiga da advogada, Rosenilda Bielack, que conviveu com o casal na Alemanha, contou que a advogada era maltratada constantemente pelo marido, que é faixa roxa no jiu-jítsu. “Tudo era motivo para ele maltratar a Tati, falar coisas pesadas, pejorativas sempre”, afirmou.
Conversas por WhatsApp de Tatiane com Rosenilda mostram como estava a relação dela com o marido. Nas mensagens, entre março e junho deste ano, a advogada relatou sentir "medo" e disse que o marido tinha "ódio mortal" por ela.
Uma perícia feita no local da morte já tinha constatado que ela teve uma fratura no pescoço, característica de quem sofreu esganadura.
Advogada foi encontrada morta após queda de 4º andar de prédio, na madrugada de 22 de julho, no Centro de Guarapuava — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Luis Felipe é réu em um processo na 2ª Vara Criminal de Guarapuava. Ele responde pelos crimes de homicídio com quatro qualificadoras (meio cruel, dificultar defesa da vítima, motivo torpe e feminicídio), cárcere privado e fraude processual.
A defesa de Luis Felipe Manvailer pediu por duas vezes a suspensão do processo. Os advogados alegaram impossibilidade de apresentar uma resposta à acusação porque, na denúncia, a promotoria não deixava claro quando, onde, e como Tatiane Spitzner morreu.
Família de Tatiane Spitzner criou páginas nas redes sociais para incentivar a luta contra o feminicídio — Foto: Reprodução/Instagram