Pesquisadores descobriram uma nova espécie de boto em toda a extensão do Rio Araguaia, em Mato Grosso. Os estudos sobre o boto 'Inia Aragualiaensis' teve início em 2014 pelo professor Tomas Hrbek.
No entanto, o Instituto Araguaia de Proteção Ambiental, em parceria com outros pesquisadores, estão realizando novos estudos para validar a espécie no comitê internacional de zoologia.
Conforme o monitoramento feito pelo instituto, existe cerca de mil botos na região.
De acordo com a bióloga e gerente de pesquisa Thais Susana, que atua no instituto, o estudo aponta que a espécie existe há mais de 2 milhões de anos e está ameaçada de extinção.
“Essa é a única espécie de boto 100% brasileiro, que existe somente no nosso território. Os estudos mostram que em termos ecológicos eles são diferentes do boto-cor-de-rosa.”, disse.
Segundo a bióloga, há uma nova pesquisa sobre o animal, pois a espécie não foi aceita pelo comitê de zoologia, apesar de já ser conhecida por pesquisadores de vários países.
“Existe uma comissão internacional que realiza trabalhos genéticos e valida as espécies. Mas, como havia poucas amostras do animal, eles não validaram. Desde então, o instituo junto com pesquisadores do Pará vem trabalhando para ter mais dados sobre esses animais”, explicou.
A pesquisadora conta que a nova espécie é muito parecida esteticamente com o boto-cor-de-rosa, mas, em termos de genética e vivência, há distinção.
“Visualmente são muito parecidos e acreditavam que era a mesma coisa, mas há uma diferença morfológica, como no tamanho do crânio e carga dentária. Essa espécie é diferente e pode ficar em lugares mais rasos e que possui areia. Já o boto-cor-de-rosa ficaria atolado em uma região como essa”, explicou.
Há amostras do animal no Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA). Pesquisadores do museu realizaram, recentemente, uma viagem a outros países para tentar encontrar mais amostras do boto.
A espécie está ameaçada de extinção, segundo o Instituto Araguaia, que realiza o estudo e monitoramento da espécie.
Devido à instalação de usinas hidrelétricas e a construção das barragens, os botos estão se separando, o que tem dificultado a reprodução da espécie.
“Esses animais se reproduzem entre eles mesmo, mas, com as barragens, eles se separam e ao longo do tempo essa população pode apresentar problemas genéticos e morfológicos, pois a reprodução será muito baixa e pode acontecer dentro da mesma família”, explicou.
O G1 tentou contato com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), mas até a publicação desta reportagem não houve retorno.
Além disso, o nível do rio tem abaixado nos últimos anos, segundo a pesquisadora. Com isso, o habita desses animais pode ser prejudicado.
“Há conflitos também com pescadores. Os botos costumam roubar as iscas e competem com os pescadores, pois eles também se alimentam de peixes. Muitos já foram encontrados presos em redes de pesca”, disse.
Botos 'Inia Aragualiaensis' possuem um comportamento discreto — Foto: Instituto Araguaia/ Divulgação
Os botos 'Inia Aragualiaensis' possuem um comportamento discreto, conforme o estudo. Eles aparecem na superfície da água e, em questão de segundos, desaparecem novamente.
Eles se alimentam de diversas espécies de peixes e não há nenhum tipo de ração ou produtos artificiais na alimentação deles.
Os botos possuem dentes considerados muito resistentes, mas não são agressivos e não é considerado uma ameaça aos humanos. No entanto, eles costumam brigar entre si.