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Redação do Enem 2018 sobre manipulação de dados na internet exige foco para não fugir do tema, dizem professores

Tema da prova de redação foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) no início da tarde deste domingo (4).

Data: Domingo, 04/11/2018 17:19
Fonte: G1 MT

A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2018 não trouxe surpresas aos professores de cursinhos ouvidos pelo G1. O tema é 'Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet' e foi divulgado às 13h47 deste domingo (4), no início do primeiro dia de provas.

Os professores dizem que, apesar de terem trabalhado o conteúdo em sala, será necessário que os estudantes mantenham o foco para que não fujam do assunto.

Para comentar o tema da redação, o G1 consultou diversos professores de redação:

 

  • Ana Paula Severiano, professora do Colégio Stockler
  • Anibal Telles, professor de redação do Curso Anglo
  • Carol Achutti, professora de redação do Descomplica
  • Juliana Oliveira, do COC Atibaia
  • Maria Catarina Rabelo Bozio, coordenadora de Redação do Colégio Poliedro
  • Tatiana Camara Nunes, do Colégio Mopi
  • Thiago Braga, professor e autor de redação do Sistema de Ensino pH
  • Viviani Xanthakos, professora do laboratório de redação do Objetivo

 

 

Tema atual e abrangente, segundo os professores

 

A professora do COC Atibaia, Juliana Oliveira, disse que o tema era esperado porque está presente no cotidiano de todas as pessoas. "Como se trata de um tema amplo, caberá ao aluno delimitá-lo a partir dos textos base e, com isso, desenvolver a proposta de intervenção", disse.

O professor de redação do Sistema de Ensino pH Thiago Braga, do Rio de Janeiro, tem análise semelhante. Para ele, o tema é atual e foi tratado na sala de aula, mas da forma como apareceu na prova é abrangente. "Ele pode estar voltado para política, consumo ou comportamento. Depende qual direção os textos de apoio vão apontar", falou.

O Inep ainda não divulgou quais foram os textos de apoio.

Tatiana Camara Nunes, do Colégio Mopi, também do Rio, falou que o tema surpreende pela forma de abordagem. "O tema, em si, é bem atual. Trabalhamos várias questões que falam sobre diferentes aspectos deste assunto. É preciso saber quais são os textos motivadores e, a partir deles, o aluno deverá ter clareza sobre qual caminho seguir."

"É um tema discutido em sala porque nós já tivemos várias aulas sobre 'big data', e acredito que todos os bons colégios abordaram isso", diz Anibal Telles, do curso Anglo, em São Paulo. "Mas, sem os textos de apoio fica difícil sermos detalhistas."

Para a professora Ana Paula Severiano, do Colégio Stockler, ao contrário do tema de 2017, o deste ano não surpreende. "O contexto mundial e, em especial, o brasileiro anunciava uma reflexão a respeito da informação que circula na internet e dos impactos que a manipulação desses dados têm na sociedade."

Segundo ela, tema semelhante já apareceu em outros vestibulares deste ano, como o da Santa Casa de Medicina de São Paulo, e também da Unesp e da Unicamp, em processos anteriores.

Para a professora Viviani Xanthakos, do laboratório de redação do Objetivo, o tema não surpreendeu, já que uma das principais apostas para o tema da redação do Enem 2018 eram as notícias falsas. Porém, a abordagem escolhida pelo Inep foi mais específica, falando diretamente sobre uma das questões envolvendo as notícias falsas, que é o armazenamento de dados dos internautas pelas empresas.

“Se um usuário demonstra um comportamento, clica em muitas matérias que não têm tanta credibilidade, reportagens tão grandes, acaba criando um perfil online e receber mais conteúdo, mais propagandas relacionadas ao que está pesquisando”, explicou a professora.

 

Cuidado para não fugir do tema ou restringir demais

 

Para Braga, do pH, o tema não tem relação direta com as notícias falsas, mas sim com a manipulação de dados dos usuários. "Como o tema é 'manipulação do comportamento', acredito que não esteja ligado diretamente à política, mas a como o comportamento do usuário da internet pode ser manipulado por meio de acesso aos dados dele", disse ao G1.

Ele fala que o aluno deve ficar atento para não fugir da proposta da redação. "A princípio não me parece um tema fácil porque possibilita uma série de leituras que pode levar o aluno a uma direção diferente do que a banca quer. Por isso é importante saber quais os textos de apoio que foram apresentados, para termos uma direção do que foi pedido."

Carol Achutti, professora de redação do Descomplica, diz que o aluno precisa ficar atento a alguns pontos: "Não se restringir a falar apenas de Fale News, não se limitar a fatos que ocorreram no Brasil e não se posicionar de maneira radical", explica.

"Para que o aluno garanta uma nota elevada, é importante que ele trabalhe as quatro palavras centrais da frase tema: manipulação, comportamento, usuário e internet", disse Maria Catarina Rabelo Bozio, coordenadora de Redação do Colégio Poliedro.

"No caso das propostas de intervenção que renderiam a nota zero na competência 5, podemos considerar qualquer defesa ao fim da liberdade de expressão, censura ou violação dos direitos básicos do cidadão como soluções para o problema. Em linhas gerais, é fundamental considerar que o texto somente atingirá a nota máxima se apresentar argumentos claros, bem escritos e fundamentados. Erros gramaticais e falta de operadores argumentativos para a construção da argumentação também podem diminuir a nota", falou.

 

Argumentos que podem ser usados

 

Segundo Braga, do Colégio pH, os alunos podem usar a privacidade como argumento. "Os alunos podem falar sobre privacidade, sobre como hoje ela não existe mais. Se você está na internet, os seus dados são utilizados para que você seja conhecido e seja conduzido a determinado tipo de comportamento. Isso pode ser problemático porque as pessoas acabam perdendo a privacidade."

Para Ana Paula Severiano, do Colégio Stockler, a proposta de intervenção pode ser feita em várias frentes: "É necessária, por exemplo, a formação dos usuários para que tenham clareza da política de privacidade a que aderem em uma rede social e também para que sejam capazes de checar a veracidade da informação que recebem pela internet."

Anibal Telles, do Anglo, diz que a redação pode se apoiar em várias frentes. "Pode ser voltado tanto para o consumo quanto para as 'Fake News', porque tudo o que o usuário recebe na internet já vem editado. A gente não pode achar que, ao fazer uma pesquisa na internet e conseguir logo a informação, isso é economia de tempo. Isso ocorre porque já há um acesso prévio aos seus dados. Em termos de política, isso reforça a bolha, porque só chegam as informações com as quais você se identifica e toda manipulação é perigosa", fala.

Achutti, professora de redação do Descomplica, diz que este é um assunto que leva o aluno a tratar do marketing dirigido e sobre como os usuários de internet disponibiliza informações nas redes sociais.

"O aluno pode levantar discussões sobre o Marco Civil da internet, que prevê um ambiente de privacidade, neutro e de liberdade de expressão. Para a intervenção, no longo prazo, um caminho é abordar o letramento digital, para que o usuário consiga se relacionar com a internet de maneira mais crítica e segura. Para o curto prazo bastaria que ele levantasse o fortalecimento das leis já existentes no país", fala ela.

Simone Motta, coordenadora de Português do Grupo Etapa, diz que os argumentos viáveis podem abranger o poder das mídias eletrônicas diante de adultos, jovens e crianças. "[Os alunos também podem] mostrar que minar um meio de comunicação tão poderoso pode ser prejudicial à comunidade, mencionar as segmentações das informações e até falar sobre o possível alvo de usuários da internet para efeitos de marketing."

 

Enem quebra sequência de temas de minorias

 

Anibal Telles, do curso Anglo, comenta que o Enem vinha em uma sequência de temas sociais e de minorias nas redações – em 2015 foram as mulheres, em 2016 foram os negros, em 2017 foram os suros (veja lista abaixo) – mas neste ano quebrou este sistema. "Pode ser que, por causa da polarização política, o MEC tenha decidido não entrar em questões de representatividade."

Viviani Xanthakos, do laboratório de redação do Objetivo, diz que nos anos anteriores as questões que inspiraram o tema da redação eram mais abrangentes, como a violência contra a as mulheres e a intolerância religiosa. Outra novidade apontada por Viviane é o fato de o tema da redação ser dos mais atuais, sempre em grande evidência no debate público e no noticiário.

 

Dicas para tirar nota alta

 

Foco nas palavras-chave: De acordo com Viviani, o laboratório de redação do Objetivo, uma questão central de um tema como esse, que é comprido e aparentemente complexo, é que o candidato se concentre nas palavras-chave. “O aluno em geral foca no centro, que é ‘dados na internet’, mas a palavra ‘manipulação’ obrigatoriamente deveria aparecer no texto dele”, ressaltou ela.

Atenção aos textos motivadores: Em um tema como esse, um dos truques que podem ajudar os estudantes é prestar atenção nos textos motivadores, que dão pistas do que a banca espera, além de argumentos que podem ajudar no encaminhamento da redação. "A princípio não me parece um tema fácil porque possibilita uma série de leituras que pode levar o aluno a uma direção diferente do que a banca quer. Por isso é importante saber quais os textos de apoio que foram apresentados, para termos uma direção do que foi pedido”, explicou Thiago Braga, do Sistema de Ensino pH.

Compreensão dos direitos humanos: Embora ferir os direitos humanos não renda mais nota zero, isso pode tirar pontos na competência 5. Por isso, Viviani lembra que é preciso saber do que falar. No caso do Enem 2018, o fim do anonimato na internet pode ser defendido sem ferir a Constituição Federal. “Os direitos humanos no Enem sempre forem corrigidos de maneira muito ligada à Constituição. Então, não pode defender linchamento, perda de direitos civis etc. Mas o anonimato na internet não é um direito, então o candidato pode defender sim”, disse ela.

 

 

TODOS OS TEMAS

 

Veja abaixo todos os temas de redação da história do Enem:

 

 

 

Programa ao vivo

 

O primeiro dia do Enem 2018 começou às 13h deste domingo (4). Às 18h30, o estúdio do G1 em São Paulo dará início a um programa em vídeo ao vivo com professores do Sistema COC de Ensino. Eles comentarão os níveis de dificuldade de cada uma das provas, o tema da redação e os pontos mais polêmicos que caíram no Enem.

Candidatos que fizeram a prova poderão participar do programa enviando perguntas usando a hashtag #G1Enem.

 

Resolução das questões

 

G1 trará ainda a resolução das 90 questões de domingo preparadas pelos professores do COC. O gabarito oficial do Enem será divulgado pelo MEC em 14 de novembro.