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Em MT, idoso de 70 anos volta à sala de aula e trajetória viraliza nas redes sociais

Em MT, idoso de 70 anos volta à sala de aula e trajetória viraliza nas redes sociais

Data: Terça-feira, 20/11/2018 10:16
Fonte: RD NEWS

O relato sobre a dedicação de um idoso de Alto Araguaia (a 395 km de Cuiabá) aos estudos repercutiu nas redes sociais na última semana. Foram mais de 17 mil “curtidas” em uma publicação sobre a história do aposentado Elpídio Neto de Oliveira, 70 anos, que cursa o quinto semestre de Letras na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).

A publicação sobre o aposentado foi feita originalmente por uma das professoras dele, Géssica Cristina, no Instagram. No texto, acompanhado de uma fotografia ao lado do idoso, a docente conta sobre a vida de universitário de Elpídio. “Já dei aulas para ele em outros semestres e é sempre um aprendizado. Ele tem todas as dificuldades que vocês puderem pensar, menos a falta de vontade de estudar”, narra a professora.

 

 Ele é um presente. Sempre disposto. Sempre aberto. É uma inspiração para mim todos os dias

No relato, Géssica conta que mesmo quando há apenas uma aula, o aposentado não falta. “Ainda que esteja chovendo. Ainda que ninguém mais apareça, posso contar com ele. Com a botina furada, com as tarefas rasuradas, com a mochila molhada, com as vistas cansadas, sem celular ou acesso fácil à internet, mas sempre presente”.

“E ele é um presente. Sempre disposto. Sempre aberto. É uma inspiração para mim todos os dias”, completa a professora.

A história de Elpídio emocionou diversas pessoas, que comentaram na publicação e elogiaram o aposentado. "Que exemplo lindo. Que bravura. Que orgulho", escreveu uma mulher. “Lição de vida, principalmente para os jovens que têm tudo", disse outra.

Em conversa com a professora revela que decidiu compartilhar a história do estudante nas redes sociais por considerá-lo um exemplo de superação. “Ele é o aluno mais velho da Unemat e a dedicação dele é muito bonita. Ele está sempre muito empenhado, mesmo com as dificuldades que possui no aprendizado”, declara.

Senhor Elpídio tira foto no lugar que gosta de frequentar: a biblioteca. Um dos livros que escolhe para mostrar é de Linguística, disciplina do curso de Letras

Voltando à escola 50 anos depois

Elpídio estudou até a quarta série do Ensino Fundamental. Ele deixou a escola em 1964, para se dedicar ao trabalho. “Meus pais estavam doentes e eu precisava ajudar em casa”, conta o aposentado, que na época morava em Ponte Branca (a 496 km de Cuiabá). Desde então, ele trabalhou na propriedade rural da família.

Algumas pessoas diziam que eu era analfabeto. Mas nunca gostei de ouvir isso e não queria ser chamado assim. Foi muito triste ouvir isso

Há cinco anos, décadas depois de abandonar os estudos, Elpídio decidiu voltar para a escola. Ele se inscreveu no programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) e em três anos concluiu os estudos. O idoso revela o motivo que o levou a voltar a estudar.

“Algumas pessoas diziam que eu era analfabeto. Mas nunca gostei de ouvir isso e não queria ser chamado assim”, se recorda. Ele conta que se candidatou a vereador por Ponte Branca anos atrás, mas muitas pessoas disseram que não votariam nele porque o consideravam analfabeto. “Foi muito triste ouvir isso”.

Para o aposentado, os comentários foram fundamentais para voltar à escola. Também para não ser chamado de analfabeto, ele continuou os estudos após o EJA e resolveu fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). “Eu queria cursar uma faculdade para melhorar meu conhecimento”.

Depois do resultado do exame, ele se inscreveu no curso de Letras com habilitação em Língua Portuguesa, na Unemat. “Eu queria algo em que pudesse ser professor. Talvez eu nem consiga dar aula, mas pelo menos sei que existe essa possibilidade”.

Elpídio conquistou a vaga na universidade. Para se dedicar aos estudos, se mudou de Ponte Branca para Alto Araguaia. “Eu tive que sair da minha cidade, para ficar mais próximo da universidade”, diz.

Hoje, ele vive em uma residência com a esposa, com quem está há 40 anos, na área urbana de Alto Araguaia. Eles não tiveram filhos. “Ela me ajuda bastante e me incentiva a estudar”, pontua. A casa do universitário é distante do campus da Unemat da cidade. Diariamente, ele caminha por 50 minutos para chegar à unidade de ensino.

“Não existe ônibus que passa perto da minha casa e me leve para a universidade. Eu também não consigo chamar táxi ou mototáxi todos os dias, apenas quando estou muito atrasado”, explica o idoso, que sobrevive com a sua aposentadoria e a da mulher.

Ele comenta que não falta a nenhuma aula por ter medo de perder o conteúdo. “É porque todo dia ensinam coisas diferentes e se perder um dia, fico sem entender depois”.

A professora Géssica Cristina ressalta que Elpídio tem mais dificuldade que outros alunos. “Mas ainda assim, passo os mesmos trabalhos para ele e para os colegas de classe. Sei que ele possui mais limitações, mas também sei o quanto ele é esforçado”, pontua.

Mesmo com as limitações, o universitário mais velho da Unemat planeja se formar até o fim de 2020. “Espero que até lá consiga concluir o curso”.