No interior de Mato Grosso, a cerca de 530 quilômetros de Cuiabá, fica um município muito novo: Feliz Natal. A cidade, que chama atenção pelo nome e atrai ainda mais atenções no final de ano, surgiu de forma inusitada e, até hoje, vivem lá alguns de seus pioneiros. Seu Natalino Passador, por exemplo, foi um dos primeiros a chegar. Ele não estava lá na noite em que os primeiros habitantes passaram, mas sabe bem o que aconteceu.
“Começou em um dia de Natal. Uma família foi passar na água, e não conseguiu subir. Pousaram duas noites lá, também na noite de Natal, e foram embora. Eles deixaram uma placa escrito ‘Feliz Natal’. E foi assim que começou”, contou ao Olhar Conceito.
Segundo o imortal da Academia Mato-Grossense de Letras João Carlos Vicente Ferreira, o ocorrido se deu em 1978. “No alvorecer do ano de 1.978, vários empresários do ramo madeireiro, a grande maioria da cidade de Sinop, deslocaram-se para a região do Rio Ferro, em face da abundância de madeiras ainda inexploradas e a fertilidade do solo daquele local.
Paralelamente á exploração de madeiras, outros empresários agropecuários investiam maciçamente na região, dentre estes a Agropecuária Cônsul S/A, Luiz Vicentini (Fazenda Bandeirantes), Flávio Turquino (Fazenda Uirapuru), Nova Aliança S/A Agropecuária, Nelson Tarnoski entre outros”, afirmou, em artigo publicado em 2017.
Os empresários decidiram voltar para Sinop para passar a noite de Natal com seus familiares, mas encontraram um riacho transbordando no entardecer do dia 23 de dezembro, e ficaram presos. Tiveram que passar a ‘Noite Feliz’ por ali, e provavelmente foram eles que deixaram a plaquinha de ‘Feliz Natal’ que Natalino se recorda.
Foi em 1980 que Natalino chegou ao vilarejo. Na época, ainda não era uma cidade. “Eu vim pra cá porque queria mexer com madeira. Depois a madeira acabou e começamos a plantar roça e soja”, lembra. Ele e a esposa, Tereza Passador, foram já com os filhos, e os dias não foram nada fáceis.
“Gosto daqui, lugar bom pra plantar, pra colher e pra tudo. [Mas] foi penado. Bastante. Saíamos com caminhão daqui pra cidade, e tinha que levar pedra junto pra tampar os buracos com a mão. Tinha que trazer comida de Cuiabá. Levava madeira e trazia comida. A vida foi sofrida, não foi fácil”, relembra. “Moro aqui há todo esse tempo e gosto muito. Criei boi, faço roça e estou velho demais também, hoje estou mais descansando e trabalhando”, brinca.
Seu Natalino tem 88 anos de idade, e há trinta vive em Feliz Natal, onde nasceram seus netos, bisnetos e tataranetos. Foi sua filha Ninha uma das primeiras pessoas a ter uma vendinha no vilarejo.
Apesar da coincidência, o nome de seu Natalino não tem nada a ver com o local onde vive. Na realidade, ele nasceu no dia 21 de dezembro, e a proximidade com a festa cristã foi que inspirou seu batismo.
A cidade só foi fundada em 17 de novembro de 1995. Possui uma área total de 11.448,049 km², e, segundo o censo do IBGE de 2010, 10.933 habitantes. Apesar de pequena, os habitantes garantem que, desde 1978, por ali, todo dia é dia de Feliz Natal.