Um vídeo mostra o suposto início do confronto armado entre seguranças da Fazenda Agropecuária Bauru (Magali) e membros da Associação Gleba União, em Colniza (a 1006 quilômetros de Cuiabá), que resultou em duas mortes e deixou oito feridos neste sábado (05). Por meio de nota, a empresa responsável pelo local, Unifort, lamentou o ocorrido e disse que os funcionários foram vítimas de uma “emboscada”.
Segundo Unifort, um grupo de seguranças sofreu uma emboscada e foi surpreendido com disparos de arma de fogo, que atingiram o carro empregado pela equipe para realização de rondas. ”Sem outra alternativa, os seguranças foram obrigados a reagir para salvaguardar suas vidas, assim como dos demais trabalhadores da fazenda”, esclarece.
A empresa ponderou que registrou várias ameaças e invasões explícitas contra os funcionários da fazenda. Alegou também que em outubro de 2018 informou a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) sobre o perigo eminente naquela região, mas a postura por parte do Executivo foi de inércia.
A empresa Floresta Viva, que administra a Fazenda Bauru, de propriedade do ex-deputado estadual José Geraldo Riva, em nota, afirma que é constantemente invadida por grileiros que desrespeitam ordens judiciais.
Há três meses, cerca de 200 membros da Associação Gleba União haviam acampado nas proximidades. Eles afirmavam que só deixariam o local se Riva apresentasse um documento que comprovasse a posse da terra de 46 mil alqueires.
Já o novo comandante da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), Alexandre Bustamante, disse ao Olhar Direto que avalia a situação para saber se irá enviar reforço policial ao município. “Estamos esperando chegar às informações para obter um diagnóstico, por enquanto, para saber quais medidas tomar. As unidades locais já estão tomando todas as medidas e vão passar para nós se irão precisar de algum reforço”, afirmou.
A Polícia Civil, por meio de nota, informou que uma equipe se desloca para a propriedade rural onde ocorreu o confronto armado. A Delegacia de Polícia de Colniza solicitou reforço da Gerência de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, Ciopaer, da Secretaria de Segurança Pública, e peritos da Politec de Cuiabá para realizar os trabalhos de local de crime e necropsia.
Há quatro meses, o Ministério Público Estadual, por meio da Promotoria de Justiça de Colniza oficiou o Governo do Estado sobre risco de conflito armado no local. A preocupação é que ocorra uma tragédia como a chacina de abril de 2017, na qual nove pessoas foram mortas naquela região.
Em dezembro do ano passado, o juiz Carlos Roberto B. de Campos, da Segunda Vara Cível Especializada em Direito Agrário de Cuiabá, determinou uma reintegração de posse na fazenda. Um estudo do Comitê Estadual de Acompanhamento de Conflitos Fundiários de Mato Grosso comprovou a real situação da área e recomendou a participação de 20 policiais militares na desocupação.
O magistrado também considerou que já havia um mandado de reintegração de posse relacionado a esta propriedade, contra o mesmo grupo, sobre a ocupação da fazenda. O mandado foi deferido no dia 31 de outubro de 2018, mas alguns ocupantes permaneciam no local.
Na madrugada de hoje (05), os supostos invasores seguiram em direção à propriedade fortemente armados. Responsável pela segurança do local, profissionais da empresa Unifort revidaram as investidas dos suspeitos. Os membros da associação ainda teriam tentado atear fogo em uma caminhonete da empresa.
Citada em delação
A fazenda em questão foi citada pelo ex-governador do Estado Silval da Cunha Barbosa em sua delação premiada. Ele declarou que negociou com o ex-deputado José Geraldo Riva a compra de uma fazenda pela quantia de R$ 18 milhões no município de Colniza, denominada “Fazenda Bauru”. O delator disse que pagou apenas R$ 4,5 milhões neste contrato, pois a compra não foi para frente. Admitiu que valor para a aquisição era oriundo de propinas do programa “MT Integrado.
Segundo ele, o contrato fora elaborado em nome de terceiros. Riva, usou de sua empresa, a “Floresta Viva”, e Silval, colocou o primo de seu cunhado, Eduardo Pacheco. Isto porque, segundo o delator, a venda da terra lhe renderia ajuda, posteriormente.
A divisão, entretanto, não foi para frente. Eduardo Pacheco se arrependeu da ideia e, em cartório, registrou decisão unilateral de retirar seu nome do contrato. Diante disto, Silval combinou que Riva ficasse, por meio da empresa “Floresta Viva”, com 100% da “Fazenda Bauru”.
A posse da terra sequer foi transferida, pois o pagamento de R$ 18 milhões não fora quitado. Das quatro parcelas de R$ 4,5 milhões combinadas, apenas duas foram pagas, uma por Silval, uma por Riva, deixando o restante em aberto e a propriedade segue no nome da antiga proprietária.
Veja nota da empresa na íntegra:
A Empresa Unifort Segurança lamenta o episódio registrado durante este sábado, 5/1/2019, dentro da fazenda Bauru, em Colniza, próximo à sede, e que envolveu supostos trabalhadores rurais e servidores da empresa.
Nesta data, um grupo de seguranças sofreu uma emboscada e foi surpreendido com disparos de arma de fogo, que atingiram o carro empregado pela equipe para realização de rondas.
Oportuno esclarecer que os invasores também estavam em poder de foices e facões.
Sem outra alternativa, os seguranças foram obrigados a reagir para salvaguardar suas vidas, assim como dos demais trabalhadores da fazenda.
Infelizmente, mesmo após a reintegração de posse e anteriormente ao conflito de hoje, pessoas que se
denominam trabalhadores rurais e que deveriam se manter do
lado externo da propriedade, insistem em descumprir a determinação judicial de 31/10/2018.
Registramos várias ameaças e invasões, incluindo disparos de armas de fogo durante as madrugadas em uma explícita ameaça aos funcionários da fazenda.
Imperativo esclarecer que em outubro de 2018, a Segurança Pública de Mato Grosso recebeu comunicado da empresa Unifort Segurança versando do perigo iminente naquela região, mas a postura por parte do Executivo foi de inércia.
Reafirmamos que mesmo após a reintegração de posse, cumprida em dezembro de 2018, não se registrou a ampliação do número de efetivo policial.
A Unifort é uma empresa constituída há mais de 20 anos no estado e que emprega hoje mais de 400 pais e mães de família e estará à disposição para esclarecimentos perante as autoridades competentes.
Assessoria Jurídica da Unifort Segurança.
Antônio César da Silva Costa