O instrutor de tiros credenciado pela Polícia Federal, Edson Massaiti Igarashi, que atua em Mato Grosso, disse que a procura por instruções em relação à aquisição e posse de arma de fogo aumentou cerca de 90%, após o decreto do presidente Jair Bolsonaro, que facilita a aquisição e posse de arma de fogo. O texto inicial do projeto previa a liberação de armas para a área rural e urbana com mais de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes por município.
No entanto, o presidente mudou o texto e trocou o termo 'município' por 'estado'. Além disso, o registro feito na PF valia por cinco anos e, com o novo decreto, o prazo passou a ser de 10 anos.
De acordo com o instrutor, a maioria das pessoas que entraram em contato com ele estavam "perdidas" no assunto. “Muitos estão dando 'tiro no escuro'. Elas sabem que as regras mudaram, mas não sabem o que mudou. Somente ontem recebi cerca de 40 ligações, o que não acontecia antes”, afirmou.
Edson disse que a quantidade de alunos para fazer o curso básico de tiros aumentou, mas que o número de testes continua estável. “As pessoas ainda estão um pouco assustadas com o teste. O curso básico é para aprender a atirar e tem uma carga horária de 3 horas. Já o teste é para adquirir a arma. A pessoa precisa apresentar os documentos pessoais, o laudo psicológico e, por fim, fazer o teste”, explicou.
Segundo o instrutor, o curso custa cerca de R$ 350. Já o teste varia de R$ 270 a R$ 330, dependendo do tipo de armamento que a pessoa deseja adquirir.
Além disso, a pessoa que for adquirir a arma também deve pagar mais R$ 80 da Guia de Recolhimento da União (GRU). O instrutor afirmou que é a favor da aquisição da arma de fogo para a população, desde que a pessoa esteja pronta para manusear o objeto. “O cidadão deve estar ciente dos seus deveres e saber manusear o armamento. Até então, a maioria das armas estavam a mercê da bandidagem e eles invadiam casas sem medo. Agora vão pensar duas vezes, pois a possibilidade do cidadão ter uma arma será maior”, pontuou.
O presidente da Câmara de Vereadores de Cuiabá, Misael Galvão (PSB), se diz favorável à facilitação para a compra de arma. "Com a nova regra adotada pelo presidente, o cidadão vai ter responsabilidade para manusear a arma e poderá ter mais segurança", disse.
Já a defensora pública Rosana Leite avalia que a facilidade para conseguir uma arma não é algo positivo. Ela ressalta que homens, mesmo que estejam respondendo a processos envolvendo violência doméstica, segue apto a dar entrada em um pedido de posse de arma, pois isso não caracteriza antecedente criminal. “Com isso, o número de feminicídio pode aumentar. É necessário aumentar a segurança pública em nosso estado. Armar as pessoas não vai resolver os problemas de segurança”, ressaltou.
Segundo Rosana, de 2006 para 2016, o número de mortes por arma de fogo aumentou 14,8% no estado, nesse mesmo período, o número de mulheres assassinadas cresceu 48,6%.
Até o final do ano passado, o índice de homicídios em Mato Grosso era de 26,5 mortes para cada 100 mil habitantes.