Dois dias após o rompimento da barragem que deixou mais de 200 desaparecidos em Brumadinho, moradores da parte mais baixa - e de maior risco - de Parque da Cachoeira acordaram com sirenes na manhã deste domingo (27). Por conta própria, seguiram para a parte mais alta do bairro. Moradores dizem que bombeiros levaram mais de 2 horas para chegar a área de risco após sirene.
A reportagem do G1 estava no local e presenciou a chegada dos primeiros dois bombeiros civis às 8h12. Moradores relataram que as sirenes começaram a tocar antes das 6h, mais de duas horas antes. Questionadas, as autoridades não explicaram por que a remoção das famílias não foi feita de maneira preventiva logo após o rompimento da primeira barragem na sexta-feira e porque não havia contingente de apoio após o toque das sirenes.
"Estão anunciando que o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil estão dando apoio, mas esse apoio não existe. A sirene tocou por volta de 5h50, a população ficou toda sem rumo, desorientada, sem saber o que fazer, porque não tinha ninguém para orientar", disse o assistente administrativo Silas Fialho, de 34 anos, morador do bairro, em frente a casas que foram destruídas no local, no final da Rua Augusto Diniz Murta.
"Órgãos do governo, prefeitura, funcionários da Vale, não tinha ninguém, população simplesmente saiu das casas sem saber o que estava acontecendo, e tudo desesperado subiu na parte do morro e estão lá até agora", desabafa o morador.
Segundo os moradores, havia 14 casas que foram destruídas no local, e há pessoas desaparecidas. O local foi interditado próximo das 9h.
Na Unidade Básica de Saúde Parque da Cachoeira, também na rua Augusto Diniz Murta, mas na parte alta, moradores se refugiaram no começo da manhã. A agente de saúde Raiane Ferreira de Resende, de 28 anos, chegou ainda de pijama. Ela, o pai, a mãe, irmão, irmã e dois sobrinhos se apertaram em um carro.
"Cedinho foi todo mundo no desespero. Passou uma caminhonete do vizinho buzinando e avisando para todo mundo sair". Ela mora há 20 anos no bairro e disse que nunca foi feito treinamento de evacuação.
O presidente da Associação de Moradores do Parque da Cachoeira e do Parque do Lago (Acopapa), Adilson Charles de Souza, ajudou a levar vizinhos que não tinham condições de sair de casa. "Pessoas obesas, passando mal. A gente precisa de alguém aqui, da defesa civil, do Corpo de Bombeiros, para nos auxiliar", disse, às 7h23.